BB e Caixa aceleram oferta de crédito
Bancos públicos ganham participação de mercado com expansão de empréstimos ao agro e de linhas de menor risco.
Missão dada, missão iniciada. No começo do ano, ao dar posse às novas comandantes de bancos públicos, o presidente Lula cobrou o pé no acelerador da economia e responsabilidade das instituições. O pedido foi atendido. O Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal expandiram o crédito no primeiro trimestre de 2023, principalmente com o aumento do financiamento ao agronegócio e em linhas de menor risco, como o empréstimo consignado para funcionários públicos e beneficiários da previdência social (INSS).
Em números gerais, a carteira ampliada dos bancos públicos alcançou R$ 2,07 trilhões, 38% do volume total de R$ 5,4 trilhões do Sistema Financeiro Nacional (SFN) até março, conforme dados do Banco Central. Sob a nova gestão da presidente do BB, Tarciana Medeiros, o crédito na instituição saltou 16,8%, para R$ 1,032 trilhão em março de 2023.
“Nossa carteira ultrapassou essa marca com desempenho significativo em todos os segmentos, com qualidade do crédito e aceleração da transformação digital”, disse ela, em entrevista coletiva na terça-feira (16). “Temos de ir além do que já fazemos, com o crédito como instrumento para o desenvolvimento do País”, afirmou. No primeiro trimestre, o BB atingiu R$ 8,6 bilhões de lucro líquido.
Em ritmo semelhante, a Caixa — liderada pela CEO Maria Rita Serrano — cresceu 16,6% na comparação anual, para R$ 1,037 trilhão, uma participação de mercado de 19,3%. “A Caixa está investindo em crédito fomentando a economia”, disse Maria Rita, em entrevista no dia 12 de maio. “Queremos um banco público que tenha rentabilidade e atuação social”, afirmou. O lucro da Caixa ficou em R$ 1,9 bilhão no primeiro trimestre deste ano.
16% foi a elevação do crédito dos bancos públicos. Nos privados a alta foi de 12% entre janeiro e março.
Oferta de crédito das instituições estatais supera mercado
Essa alta de 16% na elevação do crédito por parte dos bancos públicos ficou acima da média do mercado, que bateu 12% entre janeiro e março.
Na avaliação do analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, o BB e a Caixa cresceram em linhas de menor risco, enquanto os bancos privados tiveram maior dificuldade com aumento da inadimplência de pessoas físicas e de empresas, além da crise provocada pela fraude da Americanas, que obrigou a retenção de provisões e a restrição dos empréstimos ao varejo.
“Diante desse quadro, os bancos públicos ganharam participação de mercado, com qualidade no crédito e rentabilidade”, afirmou Santacreu.
No primeiro trimestre, o BB foi líder em rentabilidade, com retorno sobre o patrimônio de 21%, superior aos pares privados Itaú (20,7%), Bradesco (18,2%), BTG Pactual (20,9%) e Santander (10,6%). Em termos de qualidade de crédito, a inadimplência no BB ficou em 2,62%, e a da Caixa, em 2,73%, ambos com desempenho melhor que a média de 3,3% do SFN. “A inadimplência esteve mais controlada nos bancos públicos”, disse Santacreu.
Atendimento ao agronegócio impulsiona resultado do BB
A explicação para o bom resultado do BB está na forte presença de atendimento ao agronegócio. A carteira do setor aumentou 26,7%, para R$ 322,5 bilhões, sendo R$ 148,4 bilhões em desembolsos para o Plano Safra 2022/2023 (+30,3%), e um impulso de 38% para R$ 4,3 bilhões nos desembolsos do Programa de Agricultura Familiar (Pronaf), que atende pequenos produtores com linhas subsidiadas. Segundo Tarciana, a CEO do BB, o agro é, e sempre será, prioridade no banco.
“No Plano Safra, vamos continuar buscando para o BB ter acesso ao tamanho da nossa proporcionalidade, dada a nossa capacidade de distribuição desses recursos”, disse. “No Pronaf, vamos lutar pelo Pronaf Mulher, na capacitação das produtoras.” No objetivo de também atender pequenos produtores rurais, a Caixa concedeu R$ 8,1 bilhões ao agro no trimestre, crescimento de 18% em relação a março de 2022, saltando para R$ 47,9 bilhões. O banco passou a ofertar crédito para o Plano Safra em 2021.
Enquanto o BB busca consolidar sua liderança no agro, o destaque da Caixa permanece associado ao setor imobiliário. As contratações de crédito imobiliário aumentaram 19,6%, para R$ 41,4 bilhões no primeiro trimestre de 2023, frente igual intervalo de 2022.
A presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, destacou que nesse segmento, a instituição atingiu um volume de R$ 659,3 bilhões, apresentando market share de 66,5% no total de financiamentos. “Mesmo com o aumento das taxas, a intenção é não ter novos reajustes. Nós somos e vamos continuar com as menores taxas do mercado.”
O plano de expansão da Caixa
Dentro do plano de expansão da Caixa está o apoio ao relançamento do Programa Minha Casa, Minha Vida, que pretende construir 2 milhões de moradias até 2026, sendo 500 mil para a população de menor renda.
Mas entre os desafios para seguir competitiva em outras linhas para públicos de maior renda frente aos demais bancos, a Caixa depende de mais recursos (funding) captados via Fundo de Garantia (FGTS), letras ou caderneta de poupança. “Lançamos uma campanha para incentivar a poupança, a aplicação mais segura do mercado”, afirmou Maria Rita. Segura, mas nem sempre atraente — em 2020 e 2021 o ganho real da poupança foi negativo e encostou em 2% ao ano.
20% foi o aumento do crédito consignado oferecido pela caixa no primeiro trimestre, chegando ao montante de R$ 103 bilhões.
Ainda entre as linhas de menor risco, o Banco do Brasil que é forte na concessão de empréstimos para funcionários públicos, também quer disputar o potencial de R$ 250 bilhões em crédito consignado para beneficiários da Previdência Social (INSS). “A gente pode esperar por desembolsos mais significativos”, disse Tarciana.
No primeiro trimestre, foram R$ 3,1 bilhões para esse público. Nessa área, a Caixa está muito à frente: R$ 103,2 bilhões em março, crescimento de 20,4% sobre o primeiro trimestre de 2022. Os números expressivos mostram que os bancos públicos podem ter iniciado um longo ciclo de aceleração.
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