Nova estratégia da Marcopolo mira trilhos e elétricos
Líder na fabricação de carrocerias de ônibus no Brasil aposta no modelo G8, em parcerias e na estratégia de descarbonização para manutenção de resultados recordes.
Os últimos anos foram estratégicos para a gaúcha Marcopolo. Apesar de a líder na fabricação de carrocerias de ônibus no Brasil ter acusado, ao fim de 2020, queda de 17,8% na receita líquida diante dos efeitos da pandemia, os investimentos foram mantidos e, pouco mais de dois anos depois, a companhia celebra resultados recordes provenientes das operações fabris no País e em outras oito plantas pelo planeta.
O faturamento líquido ao término de 2022 chegou a R$ 5,4 bilhões, montante 54,8% superior ao exercício de 2021 e 25% maior que em 2019, antes da crise sanitária. Um cenário de plena recuperação agora acompanhado de perto pelo engenheiro André Armaganijan, que assumiu o cargo de CEO em abril em substituição a James Bellini, que passou à presidência do Conselho de Administração.
“A Marcopolo fez bem a lição de casa. A empresa poderia ter se retraído, mas manteve os investimentos e tomou decisões importantes”, disse Armaganijan.
Uma das iniciativas da companhia foi o lançamento, em julho de 2021, de uma nova linha de ônibus, batizada de Geração 8. Desde a apresentação, já foram comercializadas mais de 1 mil unidades do modelo. “É um produto extremamente atrativo em termos de valor gerado não só para o operador, como para o passageiro.
O operador tem uma redução de custo de manutenção, de dinheiro, e o passageiro tem ganho de conforto, de conectividade”, afirmou Armaganijan.
Outra estratégia adotada durante a pandemia foi a expansão dos negócios no segmento eletrificado. Além de manter a produção de carrocerias para parceiros, principalmente na Europa, a Marcopolo iniciou em agosto a produção em série do Attivi integral. O modelo é o primeiro ônibus da marca com chassi próprio e 100% elétrico.
“Passamos a atuar com a solução própria completa nos elétricos. Isso não significa, no entanto, que abrimos mão de continuar trabalhando com os parceiros tradicionais.”
O ônibus elétrico, segundo ele, é três vezes mais caro que o movido a diesel. Por outro lado, o custo de manutenção dele é menor no decorrer da vida útil. “Agora é preciso facilitar o acesso ao financiamento.”
“A empresa poderia ter se retraído, mas manteve os investimentos e tomou decisões importantes na pandemia”
André Armaganijan CEO da marcopolo
Apesar de o Brasil estar atrás de outros mercados da América Latina em relação à eletrificação da frota de ônibus, o CEO enxerga potencial para crescimento. “A cidade de São Paulo já anunciou a proposta de fazer a substituição de quase 2 mil ônibus até o final de 2024. Temos condições de entregar essa demanda crescente no País”, disse.
A Marcopolo pretende produzir ao menos 100 unidades do Attivi nesta temporada. “E podemos complementar essa demanda com a combinação das nossas carrocerias e os chassis elétricos de terceiros.” A companhia já tem mais de 350 ônibus elétricos e híbridos rodando por Argentina, Colômbia, Austrália e Índia, além do Brasil, com chassis de parceiros.
A expansão do portfólio de negócios não está restrita às avenidas e estradas.
A Marcopolo Rail, unidade especializada no desenvolvimento e na produção de novos modais sobre trilhos, vai fornecer três people movers (meio de transporte para curtas distâncias) ao AeroGru, consórcio responsável pelo projeto de transporte de passageiros da linha 13-Jade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) aos terminais 1, 2 e 3 de passageiros do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.
O veículo deve entrar em operação no ano que vem e terá capacidade para transportar 2 mil pessoas em cada sentido, com viagem de seis minutos entre as estações da CPTM e o terminal 3, o mais distante. “O que queremos neste primeiro momento é participar de alguns nichos de mercado, como faremos no aeroporto de Guarulhos. A intenção é capacitar a empresa.”
A expansão do portfólio e da produção, aliada à recuperação da demanda nos setores de turismo e urbano, tem refletido em negócios.
Ou melhor, em vendas. E os números do primeiro trimestre são a prova. A produção total chegou a 3,4 mil unidades, montante 12,4% superior na comparação anual.
A participação de mercado na fabricação brasileira de carrocerias foi de 50,1%, com a manutenção da liderança. “O período foi positivo, principalmente pelas vendas do G8, que representaram mais de 70% dos rodoviários pesados da companhia”, afirmou o executivo.
“Nos urbanos, tivemos um ambiente crescente no volume de vendas, impulsionados pelo retorno ao trabalho presencial, assim como a aplicação de subsídios e investimentos diretos dos municípios.”
Os números também comprovam a boa performance entre os micro-ônibus e a marca Volare.
Com vendas embaladas pelo poder público e pela entrega ao programa federal Caminho da Escola, a companhia forneceu 489 micros e 170 Volare (total de 1,2 mil unidades se somados os 601 ônibus urbanos) para o programa entre janeiro e março. Já em 2022 a produção do segmento teve alta de 25,7% na comparação anual.
Cenário de crescimento é favorável
André Armaganijan se apoia nas estimativas da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) ao analisar o comportamento do mercado de ônibus em 2023.
Segundo a entidade, que representa mais de 7,4 mil concessionárias no Brasil, o segmento deve ter alta de 5% nas vendas, distante dos 23,4% apurados no ano passado, com o emplacamento de 21,8 mil unidades — em 2021, foram 17,7 mil.
A projeção de 22,9 mil ônibus para este ano leva em conta o crescimento do setor de turismo em geral e do programa Caminho da Escola.
“O aumento do preço das passagens de aviões deve provocar alta na demanda por transporte rodoviário de turismo, o que deve favorecer a venda de ônibus”, afirmou José Maurício Andreta Júnior, presidente da Fenabrave.
A posição do executivo é compartilhada por Fernando Santos, diretor comercial da DeÔnibus, marketplace de viagens rodoviárias.
Com mais de 6 milhões de viajantes transportados pelo País em seus dez anos de atuação, a plataforma tem constatado o aumento na procura por passagens de ônibus, embalado pelo alto preço dos bilhetes aéreos e, também, por mais atrativos nos coletivos, como wi-fi, leito-cama e até poltrona com massagem.
“A gente vê um movimento de crescimento muito grande no modal transporte, principalmente o rodoviário. Isso, consequentemente, gera mais negócios entre a Marcopolo e as empresas que operam no País”, disse.
No caso da DeÔnibus, são mais de 300 viações parceiras e 30 mil rotas que cobrem 80% do território nacional. Santos vê como tendência de mercado a aposta da Marcopolo na eletrificação.
“A empresa ganha no custo operacional do veículo. E existe cada vez mais um apelo tanto do viajante quanto do usuário urbano na questão de descarbonização.”
Tópicos
Marcopolo acidentes Marcopolo aposta elétricos Marcopolo cenário favorável Marcopolo clientes Marcopolo concorrentes Marcopolo expansão 2023 Marcopolo funcionários Marcopolo instagram Marcopolo investimentos 2023 Marcopolo matéria prima Marcopolo mobilidade Marcopolo ônibus elétrico Marcopolo ônibus produção Marcopolo passagens avião x ônibus Marcopolo status financeiro Marcopolo valuation Marcopolo vendas 2023