Itaú ignora crise e lucra bilhões a mais
mesmo com provisões para calotes, resultado do maior banco privado do País supera (e muito) o de seus principais concorrentes, Bradesco e Santander
A crise do crédito passou longe do Itaú Unibanco no primeiro trimestre de 2023. Mesmo com provisões bilionárias para eventuais perdas com o calote de Americanas e de outras empresas com dificuldades no varejo, o maior banco privado do País entregou um lucro líquido gerencial de R$ 8,4 bilhões, aumento de 14,6% em relação ao mesmo período de 2022. O valor é equiparável a soma de outros três concorrentes privados: Bradesco (R$ 4,28 bilhões), BTG Pactual (R$ 2,26 bilhões) e Santander Brasil (R$ 2,14 bilhões).
Para entregar esse forte resultado, o CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy, disse em teleconferência com analistas, que a instituição já estava preparada para o aumento da inadimplência que atingiu todo o setor. “Já vínhamos antecipando havia alguns trimestres que o atraso acima de 90 dias se estabilizaria justamente agora, o que mostra que a nossa capacidade de gestão de crédito, com utilização constante de dados, tem mostrado resultado não só pela qualidade dos números, mas também pela previsibilidade”, afirmou Maluhy. “Os resultados sólidos são fruto da boa gestão e da agenda de digitalização, transformação cultural e centralidade no cliente.” Em termos de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROAE), o Itaú avançou 0,3 ponto percentual, para 20,7%, enquanto o Bradesco marcou 18,2% e o Santander Brasil, 10,6%. Mas nesse critério, o BTG retomou o pódio com 20,9% no mesmo período.
Segundo o sócio e head de análise da Levante, Enrico Cozzolino, a composição do resultado do Itaú foi puxado pela margem com clientes, que atingiu R$ 24,04 bilhões, alta de 20% na comparação anual. “O resultado pode ser explicado pela melhora gradual nos spreads aplicados aos clientes, especialmente no segmento de pessoa física”, afirmou. Na visão do analista, o Itaú é uma referência para os pares do setor. “Destacamos a dinâmica do banco quanto ao mix de produtos e serviços que tem se ajustado ao momento desafiador em termos macroeconômicos.”
Para o analista da VG Research Milton Rabelo, o lucro muito acima dos concorrentes está vinculado a uma gestão de altíssima qualidade nos últimos dois anos. “E, ao contrário dos seus concorrentes, ele tem conseguido manter a inadimplência sob controle”, afirmou. Rabelo considera que Bradesco e Santander têm enfrentado um cenário bastante adverso em função do perfil das suas carteiras de crédito mais voltadas a segmentos mais arriscados, como os de pessoa física e micro e pequenas empresas. O índice de inadimplência acima de 90 dias para pessoas físicas se manteve estável no Itaú em 4,9%, ao passo em que continua crescente nos dois grandes concorrentes privados. Além disso, o indicador de calotes de micro, pequenas e médias empresas (MPEs) teve leve queda de 2,4% para 2,3%. No caso do Bradesco, a inadimplência disparou para a casa dos 6% nesses dois segmentos.
CONCORRENTES Santander e Bradesco, nos últimos trimestres, conforme observou Rabelo, têm realizado os ajustes necessários na concessão de crédito, o que já provocou impactos positivos na inadimplência de safras mais novas. O CEO do Santander Brasil, Mário Leão, disse que “as safras novas já são mais da metade do portfólio, é a primeira vez que isso acontece”, referindo-se aos empréstimos concedidos a partir de janeiro de 2022, quando assumiu o conglomerado e decidiu reduzir as concessões de crédito. A situação do Santander é semelhante a do Bradesco. Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, afirmou que “as safras que originamos em outubro e novembro do ano passado têm uma necessidade de PDDs menores e, com isso, a provisão vai desacelerando”.
Entre os pontos positivos apresentados por Lazari à imprensa, o Grupo Bradesco Seguros registrou expansão de 13% no primeiro trimestre de 2023, frente ao mesmo período de 2022, totalizando R$ 25 bilhões. Os destaques foram os segmentos de Seguro Auto (+26,5%), Residencial (+25,5%), Saúde (+22%) e Previdência (+12,2%). O lucro líquido do Grupo Bradesco Seguros atingiu R$ 1,8 bilhão, o que representou aumento de 10,6% na mesma base de comparação. Seu presidente, Ivan Gontijo, citou o avanço da área de Seguros, Previdência e Capitalização, que alcançou resultado operacional de R$ 3,7 bilhões no trimestre, com crescimento de 11,7% na comparação anual. “Temos intensificado esforços e investimentos em inovação e tecnologia, evoluindo em nossa estratégia de processos e transformação digital, com foco na centralidade do cliente e no apoio ao corretor”, afirmou Gontijo.
LÍDER EM RETORNO Nessa competição, o BTG Pactual teve lucro de banco grande e registrou recorde de receitas totais no primeiro trimestre de 2023, de R$ 4,8 bilhões, avanço de 10% na comparação anual. O CEO do BTG Pactual, Roberto Sallotti, destacou a forte captação líquida mesmo em um ambiente mais desafiador, reflexo da diversificação do modelo de negócio. “Nossas franquias de cliente continuam crescendo, pautadas no comprometimento de longo prazo com nossos parceiros e clientes”, disse Sallotti, em nota. Entre os pontos positivos do balanço, a área de Sales & Trading registrou receita de R$ 1,5 bilhão (+31%), e a área Corporate & SME Lending obteve receita de R$ 1,2 bilhão, crescimento de 46% na comparação anual, com maiores spreads e níveis adequados de provisionamento. O portfólio de crédito somou R$ 143,4 bilhões no trimestre, alta de 29% em comparação com igual trimestre de 2022. Agora é só esperar o balanço do Banco do Brasil, terça-feira (16), para ver se o retorno expressivo do BTG (20,9%) será superado ou não.