O ano de consolidação da Vtex

Por Victor Marques

Segundo o relatório Webshoppers da NIQ Ebit, o e-commerce brasileiro movimentou R$ 262,7 bilhões em 2022, crescimento de apenas 1,6% em relação a 2021 depois do salto anual de 29,8% na comparação com 2020. No resumo, é aquela história de sempre: com todos em casa, o consumo, principalmente on-line, aumentou. Foi nessa onda que surfou a Vtex, empresa brasileira especializada em comércio digital cujo faturamento saiu de
US$ 125,8 milhões (2021) para US$ 157,6 milhões (2022), alta de 25,3%. A margem bruta foi positiva, mas o resultado final líquido ainda ficou negativo (-US$ 7,6 milhões). O que não impede que o mercado veja o potencial da empresa. Em seis meses, as ações — negociadas na Bolsa de Nova York — subiram 15% e o valor de mercado bateu em US$ 740 milhões (dados de quarta-feira, 24). “Focamos em poucos produtos, o que nos torna mais especializados”, disse à DINHEIRO Rafa Forte, cofundador e gerente geral da Vtex Brasil. “Acredito sermos os únicos do mercado com um único sistema capaz de ser e-commerce, de ter um OMS [sistema de gerenciamento de pedidos] e capacidades de marketplace.”

Fundada no Brasil na virada do milênio, em 2007 abraçou o projeto da plataforma de e-commerce para o Walmart no País. A partir daí, a escalada para buscar o pódio entre as maiores do segmento começou. Em 2019, captou US$ 140 milhões em investimentos de Softbank, Gávea, Constellation e, no ano seguinte, recebeu novo aporte, de R$ 1,25 bilhão. Em 2021, abriu o capital, tornando-se empresa listada na NYSE — uma das maiores plataformas para comércio digital no mundo, com mais de 2,6 mil clientes (incluindo gigantes como Black & Decker, Coca-Cola, Nestlé Sony, Walmart e Whirlpool), atendidos por mais de 1,3 mil funcionários em todo o mundo. Segundo Forte, o nível de especialização da Vtex permite que os clientes tenham uma gestão unificada da operação, de varejo, ou de indústria, em um único lugar, habilitando também a gestão de diversos modelos de negócios. “O cliente pode gerir um negócio B2B, B2C, B2B2C, D2C, seja o que for, com uma solução mais limpa, pragmática e eficiente.”

CONSOLIDAÇÃO Para 2023, a expectativa é crescimento da receita entre 15% e 19%, e isso se dará por meio de um plano robusto focado em lucratividade. Durante a pandemia, o varejo precisou se adaptar à venda no mundo digital. Agora a companhia se prepara para implementar soluções inovadoras e eficazes para o negócio do cliente, abrangendo vendas assistidas, uma plataforma infinita, dark stores e o live commerce, que cresce cada vez mais no Brasil. “Vamos trazer muitas novidades neste ano”, afirmou Forte. “Estamos também analisando de como vamos aplicar tecnologias como a inteligência artificial (IA).” A estratégia é implementar a IA diretamente no software proprietário da companhia, mas também será mantida a possibilidade de integração de soluções de ferramentas tecnológicas já existentes no mercado. “Nossa plataforma facilita a integração de APIs [conjunto de normas que possibilita a comunicação entre plataformas], permitindo um Saas [software como serviço] altamente customizável.”
Novidades que serão suportadas pelo time de pesquisa e desenvolvimento da instituição, composto por 438 funcionários, com uma verba de US$ 57,2 milhões no ano passado, correspondente a pouco mais de 36% do faturamento total da companhia. De acordo com o comandante da empresa no Brasil, a porcentagem investida do faturamento deve se manter, de forma aproximada, para este ano. “Vemos investimentos como algo constante e consistente, algo que, não necessariamente, vai gerar resultados agora”, disse. “Há investimentos que estamos fazendo hoje para uma solução que vai entrar no mercado daqui um ou dois anos.”