O caminho bilionário da Mondelez
Multinacional anuncia investimento de R$ 1 bilhão para aumentar em 50% a produção
Presente em mais de 92% dos lares brasileiros com marcas como Bis, Club Social, Lacta, Tang e Trident, o conglomerado americano Mondelez International mostrou que está com um grande apetite pelo mercado nacional ao anunciar o investimento de R$ 1 bilhão no aumento de sua capacidade de produção. Os recursos serão aplicados na fábrica de Curitiba, no Paraná, que é a maior de chocolates da empresa no mundo, e a de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, a segunda maior fábrica de biscoito da companhia e que ficará com a maior parcela dos recursos. A ideia é ampliar principalmente a fabricação da linha de wafer – composta pelas marcas Bis, Ouro Branco e Sonho de Valsa. A empresa vê potencial para dobrar ou até triplicar a venda de chocolates no Brasil. A meta ousada tem um plano ainda mais audacioso: dobrar o faturamento da companhia no mundo, atualmente em US$ 29 bilhões, até 2030.
O Brasil é a quarta maior operação global da Mondelez, com 10 mil funcionários e 17 endereços entre fábricas, escritórios e centros de distribuição, sendo seis plantas fabris em três estados (Paraná, Pernambuco e São Paulo). “O Brasil é o motor de crescimento da companhia na América Latina e um dos drivers para o cumprimento do planejamento da empresa”, afirmou o vice-presidente de Supply Chain da companhia, Ricardo Barcellar. “Estamos entre os cinco maiores mercados de snacks e com crescimento anual de duplo dígito.” Barcellar diz que o foco é cada vez maior em chocolates e biscoitos, além de crescer nos mercados emergentes.
O executivo desconversa quando o assunto são aquisições, mas confirma que a pretensão ambiciosa de crescimento não vai ser alcançada só de forma orgânica. Fontes do mercado afirmam que a companhia chegou a avaliar a Dori, marca concorrente em snacks e balas, mas a negociação não foi para frente. “Comprar outras empresas faz parte de uma estratégia que já vem sendo executada globalmente. No caso do Brasil, não fizemos nenhuma aquisição ainda, mas estamos, obviamente, ativos no mercado e observando as oportunidades”, disse Barcellar. Em 2022, a Mondelez viu a receita saltar 29,6% na América Latina – o maior crescimento porcentual regional – para US$ 3,6 bilhões. A companhia não abre dados específicos de Brasil, mas a estimativa é que o País represente cerca de 50% da operação regional.
No último ano a companhia comprou uma empresa de croissants na Europa e outra de barras de cerais, nos Estados Unidos, que era líder no segmento e faturava US$1 bilhão ao ano. Adquiriram também a Ricolino, no México, que tem faturamento próximo de US$600 milhões por ano. Nos EUA, a Mondelez vendeu seu negócio de chicletes – que inclui marcas como Trident, Bubbaloo e Dentyne para a Perfetti Van Melle, fabricante europeia e dona do Mentos. O valor da transação foi de US$ 1,35 bilhão.
“Comprar empresas faz parte de uma estratégia que vem sendo executada globalmente. Estamos analisando as oportunidades”Ricardo Barcellar VP Mondelez
NOVOS HÁBITOS A pandemia teve impacto no portfólio da Mondelez e explica o foco nos negócios de chocolates e salgadinhos: enquanto a demanda por estes explodiu, as pessoas abandonaram o chiclete, associado ao consumo fora de casa. O consumo de chocolate meio-amargo também disparou. A meta é que 90% das receitas venham dessas categorias até 2030, comparado a 80% hoje.
O executivo-chefe do conglomerado, Dirk Van de Put, já disse que a empresa planeja crescer e entrar em categorias, como “lanches de bem-estar”. O plano está alinhado com uma demanda que vem de fora e com um cliente mais preocupado com saúde. Para o economista e professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Kanter, “a empresa está claramente direcionando seu portfólio para linhas de produtos mais naturais e atenderndo a uma demanda que vem do consumidor”.
Barcellar confirma. “Pesquisas mostram que o consumidor acredita que uma alimentação saudável é aquela onde se possa ter equilíbrio.” Para promover isso a Mondelez oferece diferentes tamanhos de embalagens. “25% do faturamento vem de produtos com menos de 200 calorias”, disse. Assim, a multinacional mostra que se o apetite para o mercado brasileiro é grande, a variedade na prateleira também precisa ser para dar conta do recado.