Retrocesso energético
Não dá para sustentar qualquer argumento razoável na mais nova tentativa do presidente Lula de rever a privatização da Eletrobrás e bagunçar a credibilidade junto ao mercado com essa instabilidade de regras e não cumprimento de contratos. O que se passa na cabeça do demiurgo de Garanhuns é um retrocesso sem precedentes que remonta seus mais inflamados anos de sindicalista de porta de fábrica em eterna luta contra o capital. Pauta retrógrada que espanta o mundo todo e compromete o próprio País, ávido por receber investimentos internacionais que recuam diante de intervenções como essa. Aos fatos: o presidente sonha com mais poder no portento da energia para voltar ao surrado aparelhamento da máquina com quadros políticos simpáticos ao seu mandato. Nada técnico, descartando qualquer interesse de crescimento da companhia. O fisiologismo condenável e démodé prevalece na tática. Lula chegou a entrar com ação no STF para fazer valer seus objetivos deletérios no caso. Com o movimento, exibe o pior do PT velho de guerra. Lula parece ter recuado algumas casas na sua visão econômica, numa involução nada permissiva à modernidade que se pretende por aqui. Na rota da reestatização, a empresa vive dias de indefinição. Até o presidente da companhia, Wilson Ferreira, tido e havido como um dos melhores quadros da praça no assunto energia e que já esteve à frente da Eletrobrás em outros tempos, quando conseguiu registrar desempenho fabuloso de gestão, está agora ameaçado. Lula quer trocar o comando justamente para não ter nenhuma resistência ao plano de ocupação dessa que é uma das maiores estrelas da bolsa. Como efeito dessas maquinações nada republicanas, o preço das ações derrete. A Eletrobrás chegou a registrar queda de 85% no lucro líquido do 1T23. A azáfama nos corredores da empresa é intensa. Se fala em mudança de estatuto, de rumo, de estrutura controladora. Enquanto isso, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, fala de investimentos de R$ 56 bilhões em transmissão de energia, como se nada tivesse acontecido e abre leilões que podem movimentar perto de R$ 20 bilhões em concessões. Desde, naturalmente, que haja interessados em se aventurar nessa seara hoje sob olho gordo do governo. A questão que se discute entre especialistas e observadores é se ainda vale colocar dinheiro em um ativo que se movimenta ao sabor das veleidades federativas. Talvez não. A Advocacia Geral da União (AGU) diz que o objetivo não é reestatizar, mas garantir que a União participe do dia a dia do portento de forma “mais proporcional”. De uma maneira ou de outra, a mensagem que se passa com essas sacudidas é a pior possível.