Tania Bulhões quer conquistar o mundo
Após adquirir fábrica histórica de porcelana em Limoges, na França, e expandir atuação além dos produtos para casa, grife criada em Uberaba planeja abrir restaurante e hotel
Por Lara Sant’anna
Um dos detalhes do requinte é a mesa posta. A verdade é que um bom conjunto de porcelana, talheres e copos faz até a comida do dia a dia ficar especial. A brasileira Tania Bulhões atua nesse segmento há 34 anos, desde que criou em Uberaba (MG), a grife que leva seu nome. Referência nacional no segmento de luxo, a empresa é hoje comandada pelo filho de Tania, Virgílio Castro Cunha, enquanto a fundadora segue na presidência do conselho. Em momento de forte expansão, a empresa anunciou neste mês a compra da fábrica de porcelanas Royal Limoges, na França. Com 225 anos de atividade, a unidade francesa já era responsável pela produção de parte dos itens vendidos pela rede Tania Bulhões no Brasil. A compra se insere na estratégia de ampliar capacidade produtiva, de aumento de portfólio e do número de lojas físicas. Atualmente são 33 endereços no Brasil e a ideia é abrir em breve um ponto de vendas no exterior.
A expansão começou a tomar forma quando Virgílio Castro Cunha assumiu o posto de CEO da empresa. “Eu vim para o cargo por uma inquietação nossa com relação ao potencial que a marca tinha”, afirmou. Tania Bulhões se consagrou com a oferta de produtos de luxo para casa, com destaque para a porcelana.
Com o tempo, a marca passou a ir além, estendendo sua atuação dentro do conceito de lifestyle, o que abriu o leque de possibilidades. Em uma derivação das fragrâncias para aromatizar ambientes, a marca passou a produzir também perfumes corporais.
O passo seguinte foram os produtos para a pele, como hidratantes, sabonetes e óleos. Segundo a professora do hub de moda e luxo da Escola Superior de Propaganda e Marketing, (ESPM) Cristina Proença, a diversificação faz todo sentido. “Quando a empresa faz a expansão de uma maneira coerente, ela vai trazer a força da marca que já estava presente em outra categoria para a nova”, afirmou.
A expansão iniciada pelo atual CEO, contudo, não se limita à oferta de mais categorias de produto. Ela vem acompanhada de um aumento expressivo no número de pontos de venda. Apenas nos últimos cinco anos a grife inaugurou 28 unidades e hoje oferece maior diversidade de formatos para contemplar diferentes experiências ao consumidor. Enquanto as flagships (lojas conceito) expõem e vendem praticamente todos os itens do catálogo, os gazebos (ou quiosques) se concentram nos produtos de perfumaria, que não exigem tanto espaço quanto as porcelanas. No meio termo entre um formato e outro estão as boutiques, aposta mais recente da marca para oferecer um bom sortimento sem ocupar áreas tão grandes.
Verticalização
Com os bons resultados obtidos por meio do crescimento de portfólio e de pontos de venda, a empresa passou a vislumbrar sua presença no mercado internacional. A compra da francesa Royal Limoges faz parte desse movimento.
Além de levar o nome de uma cidade mundialmente reconhecida pela qualidade de sua porcelana, a fábrica é um patrimônio histórico. A relação das duas marcas já existe há 25 anos. Atualmente, a rede brasileira é responsável por 50% do volume de produção da Royal Limoges.
Nos planos de Cunha está dobrar a capacidade produtiva da planta nos próximos dois anos para suportar o crescimento da marca. Além disso, o know-how será transmitido para o Brasil, já que a ideia é verticalizar toda a operação, com a criação de uma fábrica nacional, em Uberaba, com inauguração prevista para até 2025.
“É natural a gente querer mostrar os nossos produtos em uso e tangibilizar a experiência da marca”
Virgílio Castro Cunha CEO, Tania Bulhões
O plano de ser uma marca global não se limita à aquisição da fábrica francesa. Um e-commerce voltado para o mercado internacional será lançado agora em junho e a direção da empresa já está em busca de um espaço para a construção da primeira loja fora do Brasil. Segundo o CEO, estão em estudo pontos em Miami e Nova York.
Um dos objetivos é marcar presença entre as marcas de luxo que hoje oferecem produtos para casa. Cunha diz que grifes consagradas no segmento de moda, como Hermès, Tiffany e Dior, têm se posicionado como marcas também de decoração. “A pandemia trouxe uma mudança comportamental no público, das pessoas respeitarem mais o tempo que passam em casa”, disse Cunha.
Na visão da professora da ESPM Cristina Proença, a internacionalização poderá se beneficiar de uma característica: a brasilidade, com referências à natureza e cores. “Quando o Brasil trabalha bem isso, ganha uma atratividade grande lá fora.”
Nos planos futuros da marca Tania Bulhões ainda há espaço para um restaurante, que será inaugurado dentro de uma loja no próximo ano. Cunha vislumbra ainda a possibilidade de entrar no ramo de hotelaria. “É natural a gente querer mostrar os nossos produtos em uso e tangibilizar a experiência da marca”.