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A recessão vai tirar o brilho da economia alemã?

Crédito: Michael Probst

País mais industrializado da Europa, Alemanha sofre com alta de preços, que seguram o consumo e freiam crescimento do PIB (Crédito: Michael Probst)

Por Jaqueline Mendes

Maior economia da Europa e locomotiva industrial do Velho Continente, a Alemanha está em ponto morto numa subida. Com a inflação em alta, consumo em queda, capacidade de geração de energia no limite e sem o fornecimento de grande parte do gás russo, a economia da Alemanha encolheu dois trimestres consecutivos e entrou em recessão técnica.

De janeiro a março deste ano, o Produto Interno Bruno (PIB) retraiu 0,3% em comparação com os três meses anteriores, quando já havia caído 0,5%, segundo o Departamento Federal de Estatísticas (Destatis).

A marcha à ré da economia desapontou o governo e o mercado. Em abril, estimativa preliminar do Destatis sinalizava que o PIB havia estagnado em crescimento zero no primeiro trimestre, indicando que o país teria escapado por pouco de uma recessão. Foi pior.

Economia alemã deve ter uma das piores performances entre as maiores economias do mundo (Crédito:Martin Meissner)
Martin Meissner

Para o economista Carsten Brzeski, chefe de estatísticas do banco ING, a produção industrial da Alemanha tem sido afetada pelos problemas energéticos causados pela guerra de Putin na Ucrânia e a lenta retomada da atividade produtiva da China. “Apesar dos esforços do governo, a economia não conseguiu sair da zona de perigo da recessão”, disse o economista.

Entre os principais fatores que jogaram contra o desempenho econômico do país, a inflação é a grande vilã. No acumulado dos últimos 12 meses, até abril, o custo da energia elétrica subiu 34%.

Com isso, a inflação atingiu 7,2%, o segundo maior da história, desde a Segunda Guerra. “A persistência de grandes altas de preços continuou sendo um fardo para a economia alemã no início do ano”, informou o Destatis. A alta generalizada dos preços atingiu o bolso das famílias e desestimulou as compras.

Houve queda em todas as categorias do varejo, desde alimentação, vestuário e bebidas, até calçados e mobiliário. Eles também compraram menos carros novos, segmento que registrou tombo de 18,7%. O governo atribui essa retração ao fim dos subsídios concedidos no final de 2022.

7,2%
é a inflação em abril no acumulado em 12 meses; índice é o segundo maior da história desde os anos 1940

Apesar da notícia ruim — e incomum — para a economia alemã, espera-se uma retomada no segundo semestre. Com isso, segundo as projeções do governo e do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país deve fechar o ano no zero a zero.

De toda forma, a economia alemã deve ter uma das piores performances entre as maiores economias do mundo. Na última estimativa divulgada do FMI, em abril, a expectativa era de que fechasse 2023 com variação de -0,1% no PIB, só melhor do que o Reino Unido (-0,3%).

O economista Jens-Oliver Niklasch, analista do banco LBBW, afirmou em relatório que “os primeiros indicadores sugerem que as coisas continuarão fracas nos próximos trimestres de 2023”. Por enquanto, a estimativa oficial do conselho de especialistas econômicos da Alemanha é de crescimento entre 0,1% e 0,2% do PIB em 2023.

0,3%
foi a queda do pib alemão no primeiro trimestre de 2023. previsão é que país tenha variação negativa de 0,1% este ano

Com a desaceleração, setores como o varejo sofrem e buscam alternativas para minimizar danos da estagnação (Crédito: Martin Meissner)

O impacto da paralisia alemã na economia brasileira

Recessão ou estagnação da economia alemã é uma notícia ruim para o Brasil. Os números sugerem isso.

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Alemanha é o quarto principal parceiro comercial brasileiro, com 3,1% de participação na corrente de comércio.

Há cerca de 1,6 mil empresas alemãs instaladas por aqui. No ano passado, o comércio de bens entre Brasil e Alemanha chegou a US$ 19,1 bilhões, maior valor desde 2014.

Entre os principais produtos exportados do Brasil em 2022 estão café, chá, mate e especiarias (27%), resíduos e desperdícios das indústrias alimentares (16%), minérios (13%) e máquinas mecânicas (10%).

Por outro lado, as dificuldades da Alemanha com seus principais parceiros no campo industrial e energético — leia-se China, Estados Unidos e Rússia — pode acelerar a aproximação do país e do bloco europeu com o Mercosul. É o que avalia o economista e professor de relações internacionais da ESPM Leonardo Trevisan.

“O Brasil pode se beneficiar da tentativa da Alemanha e da Europa de buscarem meios para compensar as perdas geradas pela guerra.”
Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM

“O Brasil é um parceiro comercial importante para a Europa no fornecimento de lítio, desenvolvimento de energias renováveis e no mercado de hidrogênio verde.” Mas para essa oportunidade seja aproveitada, quem precisa tirar a economia (em especial a verde) do ponto morto é o Brasil.