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Aldeia sem cacique: governo perde outra

Crédito: Lula Marques/ Agência Brasil

Por Edson Rossi

Na terça-feira (30), a Câmara aprovou (por 283 a 155 votos) o projeto de lei do Marco Temporal. Foi mais uma derrota para o governo Lula III. Houve protestos de povos indígenas por todo o País. Em São Paulo, bloquearam estradas e foram rechaçados pela PM de Tarcísio de Freitas (Republicanos) com bombas de gás e balas de borracha ­— nada de água & bons modos, como fornecidos em Brasília pelo povo do GSI aos golpistas de janeiro, nem gentilezas & solidariedade, como àquelas destinadas a paralisações de caminhoneiros. O projeto era prioridade da Frente Parlamentar da Agropecuária e na prática permite dois movimentos que assustam os indígenas: a) que eles sejam expulsos de suas terras caso não comprovem que estavam lá antes de 1988; b) caso tenham sido expulsos de seus locais de origem até 1988 eles não podem voltar. Dentro do governo, os ministros Carlos Fávaro (Agricultura) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas) estão em lados opostos na questão. A pauta agora segue para votação no Senado.

MOBILIDADE
Advinha quem lidera exportação de carros

Sim, a China. Segundo as autoridades chinesas, no primeiro trimestre do ano o país exportou 1,07 milhão de carros, aumento de 58% em relação ao mesmo trimestre de 2022. Esse número empurra o Japão (954 mil unidades exportadas) para o segundo lugar. A alta chinesa se deve ao aumento da demanda global por veículos menos poluentes — de acordo com a Agência Internacional de Energia, a China produz 75% das baterias de íon-lítio do mundo (dados de julho de 2022). A guerra na Ucrânia também ajudou Pequim. Com as sanções ocidentais contra Moscou, o mercado russo voltou-se para a China. Se de um lado Volkswagen e Toyota saíram da Rússia após a invasão da Ucrânia, por outro lado as chinesas Chery, Geely e Great Wall tiveram salto no share russo. Quem também aproveitou a onda foi a Tesla, de Elon Musk, que tem fábrica em Xangai.

“Você não vai consertar essas coisas se estiver sentado do outro lado do Pacífico gritando um com o outro” Jamie Dimon, CEO do JP Morgan Chase, na quarta-feira (31), em Xangai, pedindo “envolvimento real” entre os formuladores de políticas em Washington e Pequim. Foi sua primeira visita à China desde 2021, quando disse que o JP sobreviveria ao Partido Comunista Chinês, declaração pela qual teve de se desculpar formalmente

COVID
FMI monitora a China

Diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva afirmou na sexta-feira (26) que as duas próximas semanas (até o começo de junho) serão decisivas para determinar o impacto econômico de nova onda de infectados por coronavírus a partir da China. “Teremos melhor compreensão sobre a resiliência chinesa e, com base nisso, sobre o transbordamento para o resto do mundo”, disse. Segundo ela, o FMI observa como o vírus está se espalhando fora do país asiático. “Não é um problema grave, por enquanto”, mas pode se tornar caso se espalhe para “países com sistemas de saúde fracos, por exemplo, na África”.

MERCADO DE TRABALHO
Desemprego atinge 9,1 milhões

No trimestre encerrado em abril, a taxa de desocupação no Brasil ficou em 8,5%. Leve queda em relação ao trimestre janeiro-fevereiro-março (8,8%) e 2 pontos abaixo do mesmo período de 2022 – entre fevereiro e abril do ano passado o índice foi de 10,5%. Em números absolutos, há 9,1 milhões de desempregados. A população trabalhadora informal soma 38 milhões (39% do total ocupado).

“Subsidiar carros a combustível fóssil para a classe média é contra as agendas de meio ambiente, de transição energética e de ajuste das contas públicas. Continuaremos na vanguarda do atraso” Samuel Pessôa, economista, na Folha de S.Paulo

290kg de skunk (espécie de maconha concentrada) foram apreendidos sábado (27) no aeroporto internacional de Belém. A droga estava numa aeronave que pertence à Igreja do Evangelho Quadrangular, cujo fundador e chefe é Josué Bengtson. O citado vem a ser tio de Damares Alves, ex-ministra bolsonarista e atual senadora pelo Pará. A verve política é familiar, já que o religioso também foi deputado federal — pena (para ele) que teve o mandato cassado em 2018 por participar de desvio de dinheiro na compra de ambulâncias.

AUTOBÔNUS
CVM multa em R$ 200 milhões ex-comando da OI

Para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foi assim: Zeinal Bava — ex-presidente da Oi na época da fusão com a Portugal Telecom (2013-2014) — se concedeu um bônus de R$ 40 milhões (cerca de R$ 68 milhões corrigidos pela inflação). Ele também bonificou o então diretor financeiro (Bayard de Paoli Gontijo), o presidente do Conselho (José Mauro Mettrau Carneiro da Cunha) e um conselheiro suplente (José Augusto da Gama Figueira). Os bônus foram aprovados por emails, sem aval do Conselho de Administração ou assembleia de acionistas. A fusão, que teve a bênção do governo petista de ocasião, iniciou a derrocada da Oi já que a Portugal Telecom, de onde vinha Bava, carregava passivos bilionários. Na decisão de terça-feira (30), a CVM multou Bava, executivo português nascido em Moçambique, em R$ 169,5 milhões (2,5 vezes seu autobônus corrigido) e o impediu de atuar no mercado brasileiro por dez anos; Gontijo foi multado em R$ 24,2 milhões; Cunha em R$ 4,1 milhões; e Figueira em R$ 1,7 milhão. Dois ex-membros do Conselho (Fernando Magalhães Portella e Renato Torres de Faria) receberam multas de R$ 700 mil cada por aprovar os pagamentos.

POLÍTICA EXTERNA
A (não) narrativa de Lula, o soberano

Pedro Ladeira

Tinha tudo para a importante agenda virar signo de novos tempos para a América do Sul e reforçar a relevância do Brasil no bloco. Afinal, Lula conseguiu reunir na terça-feira (30) em Brasília outros dez presidentes do continente (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname, Uruguai e Venezuela) — a única exceção foi a peruana Dina Boluarte, que não pode deixar seu país, envolto numa crise política desde a deposição em dezembro do então presidente Pedro Castillo. Haveria espaço para dar protagonismo à assinatura do acordo de cooperação intitulado Consenso de Brasília, ou dar foco a temas econômicos, como a criação de uma moeda comercial comum entre os países da região e o Brics. Mas Lula desperdiçou a oportunidade jogando luz sobre a Venezuela. Defendeu o presidente Nicolás Maduro dizendo que o governo do país vizinho é vítima de “narrativas” — esquecendo-se de que há duas décadas e meia o poder não troca de mãos: Hugo Chávez (1999-2013) e Maduro (desde 2013). Nosso soberano precisou ser corrigido pelo colega chileno Gabriel Boric, (foto) também de esquerda: “Não é uma construção narrativa. É uma realidade e é séria”, afirmou Boric. “Tive a oportunidade de vê-la na dor de milhares de venezuelanos que vivem no Chile. Os direitos humanos devem ser respeitados sempre e em qualquer lugar, independentemente do governante. E isso se aplica a todos nós.”

CORREÇÃO Na nota ‘Havaianas busca sandálias usadas’, na coluna Sustentabilidade (ed. 1326), o porcentual correto de reciclagem das sandálias é de menos de 1% e não de 10%.