Computação de borda: você ainda vai ouvir falar muito sobre isso!
Por Luís Guedes
Os dados são o novo petróleo, é o que se costuma dizer. Assim como o petróleo, no entanto, os dados precisam ser “refinados” — é a partir daí que se podem capturar oportunidades escondidas, ter (muitas) ideias e partir para a ação antes dos concorrentes. A arquitetura de Internet das Coisas utilizada hoje coleta dados dos equipamentos em campo (sensores), os envia constantemente para o processamento centralizado em computadores em nuvem e recebe de volta respostas sobre como atuar (abrir uma válvula, ligar um motor, emitir um sinal sonoro). É a mágica de transformar dados em ações!
A computação de borda aprimora essa lógica, ao levar para os próprios equipamentos em campo (aqueles que estão na borda da rede, daí o nome da tecnologia) certa capacidade de processamento, dispensando quase todo trânsito dos dados até a nuvem. As ocorrências são processadas localmente e a decisão é feita de modo “autônomo”, pelo próprio equipamento.
Essa abordagem descentralizada diminui a latência entre o evento e a resposta, otimiza a largura de banda da última milha (a conexão entre o dispositivo em campo e a nuvem) e, por cima e pelos lados de tudo isso, confere maior segurança cibernética às operações. Em uma era na qual os dados e os insights em tempo real são uma necessidade central do negócio, a computação de borda pode mudar o patamar do jogo. Por suas características, a computação de borda permite aumentar muito a eficiência do monitoramento e gerenciamento remoto de ativos. Setores como serviços públicos, saúde e agricultura podem alcançar um novo patamar de qualidade e produtividade, otimizando os recursos de telecomunicações e simplificando cada vez mais os processos de tomada de decisão.
“Em uma era na qual os dados e os insights em tempo real são uma necessidade central do negócio, a computação de borda pode mudar o patamar do jogo. Ela permite aumentar muito a eficiência do monitoramento e gerenciamento remoto de ativos”
Quando se implementa nos equipamentos de borda algoritmos de inteligência artificial, a qualidade da resposta cresce ainda mais, de modo exponencial. Está próximo o dia em que iremos nos deparar com o ambiente que reage de modo “inteligente” à nossa presença… Equipamentos que ligam e desligam sozinhos, a depender do que percebem do ambiente, alarmes que não somente emitem sinais em casos de ocorrências anômalas, mas que atuam para as debelar, adaptando as contramedidas à severidade da ocorrência, carros que procuram sozinhos vagas de estacionamento (e estacionam), sistemas que se incumbem da própria manutenção. Em suma, quase tudo que tem um botão liga/desliga se tornará inteligente e responsivo, atuando independentemente de comandos humanos e das conexões com o processamento em nuvem.
Embora os benefícios sejam imensos, as organizações devem enfrentar desafios de implementação: o acesso não autorizado aos dispositivos em campo, agora mais capazes e autônomos (e distantes!); questões sobre privacidade e conformidade de dados; interoperabilidade de sistemas e necessidade de uma estratégia de manutenção, atualização e gerenciamento de (muitos) equipamentos remotos. A adoção é um desafio, mas habilita novos modelos de negócio e abre caminho para a jornada em direção a um oceano azul de possibilidades.
Luís Guedes professor da FIA Business School