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Como a Cury vem batendo recordes no segmento de habitação econômica

Companhia chega aos 60 anos com resultados em alta e plano de expansão nos mercados paulista e carioca

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As habitações que levaram a Cury a resultados sólidos: mercado econômico deve seguir em alta, diz o CEO Fábio Cury (Crédito: Divulgação)

Por Angelo Verotti

O déficit habitacional no Brasil atinge 5,9 milhões de famílias, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Garantir o acesso da população à casa própria tem sido um desafio constante para os governantes e, também, para as construtoras e incorporadoras que atuam no segmento econômico. Uma delas é a Cury, que completa 60 anos este mês. A companhia teve resultados recordes em 2022 – receita líquida de R$ 2,2 bilhões e lucro líquido de R$ 348 milhões, altas de 29,9% e 10,5%, respectivamente, na comparação anual. A expectativa do CEO Fábio Cury é de resultados ainda melhores este ano. “Estamos com tudo”, disse o executivo, que representa a terceira geração da família.

Os negócios da Cury Construtora e Incorporadora estão concentrados em duas praças: São Paulo, além de cidades da região metropolitana como Santo André e Guarulhos, e Rio de Janeiro, o que abrange municípios próximos, caso de Niterói.

O planejamento para este ano prevê o lançamento entre R$ 3,8 bilhões e R$ 4 bilhões em Valor Geral de Vendas (VGV) com 26 empreendimentos, sendo 18 no mercado paulista e oito no do Rio. No ano passado, foram 23 empreendimentos (16 em São Paulo e sete no Rio) que geraram um VGV de R$ 3,3 bilhões.

A estratégia da companhia é fazer o primeiro semestre sempre mais forte que o segundo, diferentemente do restante do mercado. “No primeiro trimestre já lançamos R$ 1,4 bilhão e, no segundo, lançaremos R$ 1,1 bilhão”, afirmou o engenheiro. “Estamos com bastante apetite para o ano.”

O preço das unidades varia de R$ 200 mil a R$ 500 mil e está relacionado às faixas 3 e 4 do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). Entre 2010 e 2015, a Cury se tornou uma das maiores construtoras das faixas 1, 1,5 e 2 do MCMV. Mas a partir do final de 2015 as camadas deixaram de ser rentáveis e começaram a “naufragar”, de acordo com o executivo. “Com isso, subimos para as faixas mais altas do MCMV, onde estamos até hoje.”

O retorno à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva traz a expectativa de que as faixas mais baixas sejam turbinadas e, assim, se criem condições para serem operadas novamente com rentabilidade.

Fundada na década de 1960 por imigrantes de ascendência libanesa, a Cury viu os negócios deslancharem na segunda metade dos anos 2000, após a formação de uma joint venture com a gigante Cyrela, em 2007, o que ampliou a capacidade de crédito.

Também foi beneficiada pela criação do MCMV, uma vez que já possuía vasta experiência no segmento econômico. “Desde então, foi uma história contínua de crescimento”, disse o CEO. Prova disso é que a empresa tinha 20 colaboradores à época. Hoje são 2,3 mil diretos.

Fábio diz que a Cury manteve as margens mesmo com altas no custo da construção (Crédito:Divulgação)

A joint venture com a Cyrela resultou na abertura de uma sede regional no Rio de Janeiro. A proposta inicial era de criação de outras filias pelo País, ideia descartada pelo CEO da Cury. “Entendi que é complicado você saber como trabalhar em mercados regionais no Nordeste, no Norte.”

A Cury não seguiu o caminho traçado por outras construtoras, como a própria Cyrela, que já estava espalhada pelo País, a Rossi e a Gafisa. “Ficamos só em São Paulo e no Rio. Isso foi de extrema valia para a companhia, para a agilidade das nossas operações.”

A experiência de quase seis décadas de mercado econômico permitiu à Cury lidar melhor com as dificuldades do setor, principalmente na pandemia. Entre as adversidades apontadas estavam a inflação e a ruptura da cadeia de suprimentos, que afetou todas as empresas do segmento.

Os custos das matérias-primas e insumos, por exemplo, aumentaram cerca de 30% em 2021 e 2022, segundo o executivo. “Mas fomos capazes de ajustar os preços dos novos empreendimentos e manter as nossas margens”, afirmou. O repasse chegou a 15% nos preços das unidades.

Os custos com materiais já se estabilizaram, apesar de alguns sobressaltos eventuais do cimento e do concreto. Já a cadeia produtiva ainda tem alguns problemas de prazos, principalmente em relação à entrega de elevadores e cremalheiras.

Independentemente disso, a principal matéria-prima para os novos negócios da Cury já está garantida: terreno. A companhia possui um landbank de quase R$ 10 bilhões, sendo R$ 7,1 bilhões em São Paulo e R$ 2,8 bilhões no Rio de Janeiro.

Na avaliação do executivo, o mercado deve seguir em alta. “Vivemos de um tripé extremamente importante: emprego, crédito e juros”, afirmou. “Estamos em um momento estabilizado de desemprego, até com tendência eventualmente de queda, não temos grandes problemas de crédito e a inflação em queda vai fazer daqui a um tempo os juros caírem. Sigo otimista.”