Inovação sustentável nas mãos da Schneider Electric
Puxada pela alta da demanda por automação industrial do Brasil e da Argentina, gigante francesa de tecnologia e equipamentos elétricos registra o melhor resultado global de sua história
Por Hugo Cilo
O executivo venezuelano Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric na América do Sul, conhece a região como poucos. No Brasil desde outubro de 2018, todos os dias ele analisa os números, estuda os segmentos em que atua e traça suas estratégias para cada mercado da região. Mas os resultados dos últimos anos chamaram a atenção por uma aparente contradição. Mesmo com a pandemia, com crises profundas em países como Venezuela e Argentina, com rupturas na cadeia de suprimentos em razão da guerra na Ucrânia e lockdowns na China, além das turbulências políticas e econômicas no Brasil, as vendas da companhia cresceram a um ritmo de duplo dígito. “Em vez de se retrair, a pandemia despertou nas empresas a busca por mais eficiência e produtividade”, disse Segrera à DINHEIRO. “Quase todas as áreas de negócios tiveram alta, mesmo em economias em dificuldades, como a da Argentina”, afirmou.
Foi nesse cenário de demanda aquecida que a Schneider Electric cresceu no ano passado acima de 20% na América do Sul, região quººe responde por 16% do resultado global. Em 2022, a companhia contabilizou faturamento de 34 bilhões de euros, crescimento de 18,2% sobre os 28,9 bilhões de 2021 e o melhor desempenho em seus 180 anos de história.
No Brasil, onde opera há 75 anos, a empresa observou uma disparada nas encomendas por produtos voltados principalmente para datacenters, automação industrial e tecnologias específicas para a eficiência energética.
“Nossa obsessão é criar tecnologias que permitam produzir mais utilizando menos recursos. Vamos seguir até o carbono zero”
Rafael segrera, presidente da Schneider Electric na América do Sul
Segundo Segrera, em um período de dez anos, de 2016 a 2025, as inovações desenvolvidas pela Schneider para seus clientes vão evitar a emissão de 800 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, o equivalente a quatro vezes as emissões da Argentina no mesmo período. “Quando falamos em eficiência energética, não estamos falando apenas em competitividade e redução de custos. Estamos falando em ganhos ecológicos e preservação do meio ambiente.”
O salto de eficiência da Schneider tem sido possível graças a incorporação de novas tecnologias, como inteligência artificial, realidade virtual, machine learning e deep learning.
Nos últimos cinco anos, os investimentos foram intensificados na área de software, de hardware de distribuição elétrica e de produtos de automação, como a aquisição das britânicas Invensys e Aveva, e pelo desenvolvimento de novos softwares na parte industrial e de gerenciamento de energia. “Nossa obsessão é criar tecnologias que permitam produzir mais utilizando menos recursos”, disse Segrera. “Vamos seguir no caminho de reduzir, ano a ano, nossa pegada de carbono, até chegar a zero emissão.”
Apesar dos bons resultados regional e global, a Schneider precisou fazer ajustes em algumas de suas operações. A operação da companhia na Rússia, que antes atendia quase 100% do mercado local, foi encerrada em setembro de 2022 em retaliação à ofensiva de Vladimir Putin na Ucrânia. A unidade vendia, anualmente, cerca de 300 milhões de euros.
Parte da produção da planta russa foi distribuída para algumas das 200 fábricas da companhia no mundo. A decisão de sair da Rússia foi tomada também por empresas como Basf, Maersk, McDonald’s, Renault, Shell e Stora Enso, entre dezenas de outras. De acordo com Segrera, o fechamento da subsidiária foi necessário também por fatores de logística e de importação e exportação de insumos. Atualmente, a companhia tem três headquarters regionais: Boston, Hong Kong e Paris.
Casa nova
Além das mudanças da operação mundo afora, a Schneider aproveitou o bom momento da operação brasileira para inaugurar uma nova sede em São Paulo. Localizado no bairro Chácara Santo Antônio, o espaço fica no 31º andar, o mais alto do EZ Towers, e possui um hub de inovação: um showroom que permite experiências imersivas, como óculos de realidade mista e aumentada que mostram indicadores do consumo de energia, visualização das outras sedes e fábricas da companhia ao redor do mundo, incluindo as unidades brasileiras, e interação com o e-commerce da Schneider.
O novo escritório, além de ser uma base administrativa, funciona como um cartão de visitas e experiências com os produtos da Schneider para potenciais clientes. “O novo escritório, mais colaborativo e inspirador, é voltado a inovação, criatividade e sustentabilidade”, disse Segrera. “O complexo oferece alto padrão técnico e estético e tem certificação Leed, que garante a manutenção interna e externa com desempenho energético e impacto ambiental consciente.”
Entrevista
Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric na América do Sul
“O desafio energético não está na geração”
Quais setores da economia estão aquecendo as vendas da Schneider?
A região é muito forte em mineração. Chile, Argentina e Brasil, com cobre, lítio, minério de ferro e muitas outras matérias-primas importantes para a indústria, estão investindo muito pesado em tecnologias. Mas também vemos os setores como o de datacenter, automação industrial e agronegócio, com foco muito grande em sustentabilidade.
Quais são os maiores desafios para continuar crescendo no Brasil?
O que tem sido mais desafiador no Brasil é volatilidade cambial. Porque na hora de produzir é um custo, na hora de vender é outro. E o componente eletrônico é muito sensível a essas variações cambiais, sem falar na pressão que o dólar exerce sobre o transporte.
A eletrificação de praticamente todos os setores da economia pode causar um problema energético no País e no mundo?
Não, porque a eletrificação não representa, necessariamente, aumento do consumo de energia. Passa pela questão onde atuamos, que é a eficiência no consumo. Com as novas fontes de energia limpa, especialmente solar, eólica e biomassa, além da imensa capacidade de geração hidrelétrica, não enxergo problemas de curto prazo para o Brasil na questão de geração. A questão está na distribuição e consumo. Cerca de 40% da energia gerada é desperdiçada. Ou seja, o desafio energético não está na geração, está no gerenciamento do consumo. O que precisamos é reduzir esse índice, com foco em eficiência e sustentabilidade. É nesse ponto que a Schneider Electric entra.