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Menos hotéis, mais experiência

Após duplicar o número de unidades em relação a 2019, rede de hospedagem Selina busca aumentar a rentabilidade com crescimento controlado

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Rede Selina: experiência de compartilhamento, mas com serviço premium (Crédito: Divulgação)

Por Lara Sant’Anna

Mochila nas costas e um desejo incontrolável de visitar novos lugares para viver experiências únicas com pessoas desconhecidas. Essa é a motivação de muita gente jovem que viaja pelo mundo, sozinha ou acompanhada. Exatamente o público que a rede de hotéis Selina busca cativar. No ano passado, quando fez seu IPO na Nasdaq, o grupo faturou US$ 183,9 milhões, 98,3% a mais que em 2021. Na comparação com 2019, o número de unidades duplicou. Agora, a empresa que se autidefine como ecossistema de hospedagem quer crescer em rentabilidade.

Mesmo com as condições favoráveis para o turismo após o fim da pandemia de Covid-19 e a abertura de 18 novas propriedades, a rede não tem conseguido reduzir o prejuízo, que chegou US$ 198,1 milhões­ — o que reforça a necessidade de melhorar a geração de caixa. Por isso, em 2023, o plano é diminuir o ritmo de expansão, aumentar a taxa de ocupação e enxugar sua estrutura.

Em entrevista à DINHEIRO, o cofundador e CEO do Selina, Rafael Museri, afirmou que o foco é fortalecer as operações nas regiões onde a rede já está inserida. Atualmente são 24 países que concentram 118 unidades e 29,6 mil camas disponíveis. “Ainda vamos abrir de 10 a 15 novos hotéis entre Europa e América Latina, mas o foco é a rentabilidade para voltar a crescer rapidamente a partir de 2024”, disse.

Nessa frente, os planos incluem aproveitar melhor os espaços livres e aumentar a capacidade de camas em cada unidade para manter os gastos fixos enquanto o faturamento cresce. Os hotéis da rede Selina já funcionam como hubs culturais. Além dos quartos, há estrutura de coworking, copa, salas de convivência, restaurantes, bares e promoção de eventos e atividades como aulas de ioga e festas animadas por DJs.

Rafael Museri, CEO da Rede Selina: “Ainda vamos abrir de 10 a 15 novos hotéis entre Europa e América Latina, mas o foco é a rentabilidade para voltar a crescer rapidamente a partir de 2024” (Crédito:Divulgação)

Estar em um hotel Selina é uma experiência bem diferente da que se espera nas grandes redes. Esqueça as paredes brancas, móveis padronizados e o ambiente ponderado. Por ter uma proposta de experiência, as unidades buscam se associar com a comunidade. As paredes costumam ser pintadas por artistas locais e a arquitetura abusa da criatividade, incluindo quartos em cápsulas.

Outra característica importante da rede: os quartos são compartilhados, como em um hostel, mas como o serviço é mais premium, com a comodidade oferecida em hotéis.

O público-alvo é principalmente da geração Z e Millennials. Muitas vezes são nômades digitais que trabalham enquanto viajam. Com isso, tendem a ser bastante abertos a vivências com outros hóspedes ou moradores locais. Quase sempre buscam acomodações mais baratas.

Essas características, segundo a pesquisadora em turismo na Universidade de São Paulo, Mariana Aldrigui, é o maior mérito do grupo Selina, uma vez que os jovens têm procurado mais viagens de conhecimento. Nisso, a regionalização das atividades ajuda a atrair clientes. “É uma grande sacada ser a representação da identidade local”, disse Mariana. “Os próprios moradores da comunidade são uma atração para visitantes”.

No Brasil, o Selina possui nove unidades, em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Em 2023, um novo hotel será inaugurado em Bragança Paulista. Segundo Museri, Jericoacoara, no Ceará, também está nos planos. “É um destino muito importante para nós”, afirmou. “O Brasil é um país perfeito para o Selina”.

CONTATO COM A NATUREZA Prova disso é a operação nacional estar hoje entre as maiores da rede em número de unidades, atrás apenas de Israel, México e Costa Rica.

No primeiro trimestre deste ano, 62% da ocupação dos hotéis brasileiros foram de turistas estrangeiros, com destaque para argentinos, israelenses e estadunidenses. Segundo Fernando Freitas, diretor Brasil do Selina, a tendência do trabalho híbrido impulsiona os negócios da rede. “Como um ecossistema de estilo de vida e hospedagem, percebemos um grande potencial para o nosso modelo”, disse.

Segundo Mariana Aldrigui, toda a América Latina se mostrou muito resiliente com a pandemia e retoma a um bom ritmo, além de ser apontada como destino ideal para aqueles em busca de viagens com mais contato com a natureza. “A região tem demonstrado boas alternativas, principalmente para viagens de curta distância”, afirmou a professora da USP.