Negócios

Os caminhos que levaram a The Led ao topo do segmento

Empresa de sinalização digital cresce com soluções 360 graus e investe R$ 100 milhões para consolidar liderança

Crédito: Ignacio Aronovich/Lost Art

Richard Albanesi: viagens para a China desde a adolescência construíram a ideia de erguer a empresa de painéis de led que viraria referência no mercado brasileiro (Crédito: Ignacio Aronovich/Lost Art)

Por Edson Rossi

Na família Albanesi, mirar a China é sinônimo de bons negócios. Há três décadas, a empresária Alcione Albanesi visitou o país asiático para importar lâmpadas fluorescentes. Foi o embrião do que viria a se tornar a gigante FLC. Em suas viagens nos anos 90, Alcione levava duas coisas na bagagem: o faro empreendedor e um dos filhos, Richard Albanesi, então com 13 anos. As jornadas para a China renderam ao pré-adolescente inspiração para fundar em 2010 a The Led, empresa da qual é também o CEO. “Na época não havia esse mercado de painéis de led. Nós o criamos”, disse à DINHEIRO. Hoje, a operação é referência em sinalização digital no Brasil.

Este ano, a empresa decidiu renascer e se reinventar — movimentos lastreados numa transformação estratégica.

Até o período pré-pandemia, 90% das receitas saíam da divisão de eventos e 10% vinham da operação de instalação de painéis. Agora o jogo virou: 95% vêm de equipamentos & serviços e 5%, saem do segmento de eventos.

“Decidimos apoiar as empresas de eventos em vez de ser concorrente delas”, disse Albanesi.

Empresa de sinalização digital cresce com soluções 360 graus e investe R$ 100 milhões para consolidar liderança

Não foi um passo simples. E para entendê-lo é preciso resgatar o início da The Led. Albanesi teve a ideia de criar a empresa em 2010, quando ainda trabalhava na FLC e sua mãe começou o processo — que se encerraria quatro anos depois — de vender a companhia para dedicar-se apenas à sua ONG, Amigos do Bem.

Ele teve de pensar no futuro. A resposta foi juntar sua relação com o universo das lâmpadas ao mundo do led. Concluiu que estava diante do chamado oceano azul. “Não existia nenhuma marca de led [que fosse referência]. Só empresa pequena. Pensei, ‘isso vai ser o futuro’. E foi.

Por dois anos, entre 2010 e 2012, a The Led funcionava usando uma pequena sala dentro da FLC. Eram Albanesi e três funcionários. Os primeiros painéis chegaram no fim de 2010, e a empresa cresceu rapidamente.

Só que no começo não foi pelo caminho imaginado. “A gente queria apenas vender os equipamentos, mas logo nos tornamos uma das maiores no setor de eventos”, afirmou o fundador. “Começamos com a turnê de Chitãozinho e Xororó, a de 40 anos, que levou o Grammy Latino (de 2012).” Na sequência a empresa avançou pelo mercado de feiras corporativas, como o Salão do Automóvel.

E veio o ponto de virada. Na pandemia. A unidade de eventos, que respondia por quase toda a receita, estancou por causa dos lockdowns. Albanesi tinha duas saídas: sucumbir ou se virar. Olhou para todo o estoque de equipamentos e decidiu oferecê-lo a shoppings, a aeroportos, a lojistas.

“Quando você fala em digitalizar uma loja, a pessoa já pensa: pô, como vou fazer uma reforma, como vou tocar uma obra e parar meu fluxo? ” Mas com a restrição social imposta pela Covid-19 isso foi obrigatório. Albanesi saiu oferecendo instalar tudo o que tinha e fazer contratos de locação de longo prazo.

Hoje, o modelo ganhou robustez e é oferecido numa jornada 360 graus. A empresa faz o projeto, a instalação e a manutenção dos painéis, além da geração e gestão dos conteúdos.

Inovação e mercado

Nesse tipo de mercado, tudo é o tempo todo P&D. O mais recente nicho da The Led é o residencial — casas altamente envelopadas com tecnologia de ponta.

O case de vendas é um vídeo, disponível no YouTube, que mostra o imóvel do jogador de futebol Neymar em Mangaratiba, litoral do Rio de Janeiro. Há telões para áreas externas, há corredores digitais, há painéis internos ocupando paredes inteiras… Enfim, um indefectível neymarismo.

O volume de receita do segmento residencial é ainda pequeno. “Mas algo em que a gente acredita.”

Apostas à parte, o recorte varejista permanece o grande mar de oportunidades na empresa. Pesquisa feita no Morumbi Shopping, em São Paulo, referência em lojas showroom no Brasil, mostra que menos de metade das lojas está digitalizada. “Isso no shopping mais digitalizado do País.”

No segmento do fast food, somente 25%. E no mundo de publicidade de outdoors, o espaço de crescimento é ainda maior. Levantamento junto à Central de Outdoor mostra que somente 3% das ‘faces’ está digitalizada.

Espaços públicos e ambientes de alta circulação de pessoas, como shoppings ou aeroportos de Congonhas, em São Paulo, ainda são pouco digitalizados no Brasil (Crédito:Divulgação)

Além desse potencial orgânico, a The Led mira nos novos hábitos do consumidor. Pesquisa Adyen/KPMG de 2022 mostra que 77% das pessoas esperam que os espaços varejistas sejam de “vivência e experimentação”. Em resumo, há muita inovação a caminho. De sua mais recente viagem à China, em fevereiro, ele cita a presença de megapainéis em edifícios inteiros. E não somente com publicidade. “Interagindo com o público”, afirmou.

Nos últimos três anos, a empresa dobrou de tamanho duas vezes: entre 2020 e 2021, e de 2021 para 2022. A meta este ano é crescer pelo menos 50%. E todos seguem juntos. O número de colaboradores foi multiplicado por 8,5 (de 28 há três anos para 240), ritmo acompanhado pelos investimentos (que saíram de R$ 40 milhões em 2021 para R$ 100 milhões este ano). “Hoje a gente vive o que a gente sonhou em 2010”, disse Albanesi. “Tornar a The Led uma marca.”

Inspiração vem de família

(Divulgação)

Fundador e CEO da The Led, Richard Albanesi traz de casa a maior de todas as inspirações, sua mãe, Alcione Albanesi (foto).

Empresária desde os 17 anos, quando abriu uma confecção, criou a gigante da iluminação FLC, vendida em 2014 para que ela se dedicasse integralmente à ONG Amigos do Bem, que havia fundado em 1993. A organização é referência do terceiro setor e atende 150 mil pessoas espalhadas por 300 povoados no sertão nordestino.

Em seu manifesto, a ONG diz que “a responsabilidade de transformar o Brasil é de cada um e a única forma de romper o ciclo de miséria é através da intervenção humana”. Um olhar transformador que ela traz de sua vida como empresária e empreendedora e carrega para as ações no Nordeste brasileiro, onde quatro em cada dez pessoas vivem na pobreza ou na miséria.

“Todo ser humano é capaz de fazer o bem”, afirmou Alcione no relatório 2023 da entidade, que atua em quatro frentes — educação, saúde, água & moradia e trabalho & renda.