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Sua villa particular em Cannes

Em uma ilha na Côte D’Azur, Le Grand Jardin é um refúgio para quem busca bem mais que o luxo e a privacidade de um hotel boutique. O preço para se hospedar por uma semana parte de 210 mil euros

Crédito: Sebastien Parmentelot

A torre do século 13 foi construída para proteger a baía de Cannes de possíveis invasores. Restaurada, ela abriga a suíte mais peculiar da villa e um salão de jogos (Crédito: Sebastien Parmentelot)

Por Celso Masson, de Île Sainte-Marguerite

Alinhados na marina de Cannes, flutuando sobre as águas cristalinas do mar da Côte D’Azur, algumas dezenas de superiates avaliados em US$ 50 milhões ou mais simbolizam uma forma de status que cabe apenas no bolso de quem já chegou ao ápice da fortuna. Uma caminhada pelo píer que margeia o cassino da cidade famosa pelo maior festival de cinema da Europa leva à pergunta: existe algo ainda mais exclusivo que uma embarcação desse nível? A resposta é sim, e ela pode ser confirmada a apenas 15 minutos dali. Esse é o tempo necessário para chegar de lancha até o atracadouro da Île Sainte-Marguerite, onde uma van Mercedes-Benz elétrica aguarda os hóspedes que serão levados até o exclusivíssimo Le Grand Jardin.

Trata-se de uma villa privativa cujos donos (embora atuem no ramo hoteleiro) não gostam que seja chamada de hotel. Ela foi adquirida há dois anos de um empresário indiano com negócios na Fórmula 1. Passou por um período de reformas, incluindo o plantio de 100 árvores e a construção de novas suítes e de um spa.

Desde o ano passado, pode ser reservada para grupos fechados por períodos de uma semana. Na baixa temporada, a locação por sete dias custa 150 mil euros. Com os serviços, há um acréscimo de 60 mil euros. No verão, o custo sobe para 270 mil euros.

Diretor de marketing da rede Ultima Collection, cujos sócios são os donos do Le Grand Jardin, o português radicado em Londres Ricardo Gato disse haver uma razão para a cobrança dos serviços à parte. “Muitos hóspedes, especialmente do Oriente Médio, preferem trazer seu próprio staff, como cozinheiros, camareiros e mordomos que estão habituados a suas rotinas”, afirmou.

Exclusividade sem serviços financeiros

Espécie de spin-off da rede Ultima Collection, que possui resorts de esqui de alto luxo na França e na Suíça, essa villa situada em uma propriedade excepcional pode acomodar até 24 pessoas.

Não há recepção nem caixa para acertar a conta, uma vez que todos os acertos financeiros são feitos fora dali. Os serviços, quando contratados, são sempre de uma mesma empresa parceira, a Blue Shore Concierge. Eles incluem café da manhã completo para todos os hóspedes, chá da tarde, gerente à disposição oito horas por dia, housekeeping, chef de cozinha e equipe para servir as refeições — compostas por três pratos no almoço e três no jantar.

A compra de bebidas e de itens de supermercado é tarifada de acordo com as preferências do hóspedes — exceto para o café da manhã e chá da tarde, cujos itens já estão incluídos na conta. Também fazem parte dos serviços o transfer de chegada e partida do aeroporto mais próximo, em Nice, a cerca de uma hora da ilha, contando a travessia de barco.

Uma ida e volta adicional a Cannes é cortesia. Quem se hospeda, porém, raramente sai da villa, desenhada para proporcionar o máximo de relaxamento, nos jardins, no spa e, claro, em cada suíte finamente decorada.

Diversão, história e cultura

A ilha em si não é privativa. Ela abriga uma fortaleza que entrou para a história da França por ter sido uma das prisões de um personagem que combina ficção e realidade: o Homem da Máscara de Ferro, supostamente o irmão bastardo do rei Luís XIV.

Além de um museu dedicado ao tema, a ilha tem praias, bosques e trilhas que a tornam uma atração visitada por turistas e grupos de estudantes. Há ainda uma escola de iatismo e um bar com DJ que fica bem animado na hora do pôr do sol.

Os visitantes podem aproveitar as praias durante o dia todo, porém, é proibido acampar ou pernoitar na ilha. Esse é um privilégio de quem se hospeda no Le Grand Jardin.

Formado em torno de uma torre do século 13 que servia para defender a Riviera francesa de possíveis invasões corsárias, o jardim foi ganhando edificações ao longo de tempo até chegar ao desenho atual.

Possui lago com carpas, horta, pomar e esculturas a céu aberto. No palacete central funciona a cozinha e a sala de jantar, além de uma suíte no andar superior.

As outras acomodações se espalham por bangalôs e sob a imensa piscina climatizada. “Antes da reforma, esse espaço era uma cave de vinhos”, disse Gato. Agora, além de três suítes, abriga spa e academia. A torre também foi reformada. Ganhou um salão de jogos no piso térreo e uma suíte no pavimento acima.

A vista dali é deslumbrante. A água alterna tons de azul turquesa e marinho em um espetáculo à parte. A transparência da água, inclusive, fez com que o local fosse escolhido para abrigar um museu subaquático. Inaugurado em fevereiro de 2021, ele é a primeira instalação do artista britânico Jason deCaires Taylor no Mediterrâneo. São seis enormes retratos tridimensionais, cada um com 2 metros de altura.

Vista aérea do trecho da Île Sainte-Marguerite onde está situada a villa Le Grand Jardin. (Crédito:Divulgação)

A poucos minutos de barco dali está a Île Saint Honorat, onde monges beneditinos ergueram no século 16 a Abadia de Lérins. Fiéis à doutrina ora e labora, os religiosos plantaram vinhedos (todos com nome de santos) e olivais por toda a ilha.

Atualmente, sete variedades de uvas são colhidas todos os anos e dão origem a brancos e tintos de alta qualidade vinificados ali mesmo. Há visitas e degustações. O rótulo mais caro sai por 180 euros no restaurante La Tonelle, à beira-mar e com mesas ao ar livre.

Uma das esculturas subaquáticas do artista britânico Jason deCaires Taylor, instaladas ali em 2021 (Crédito:Divulgação)

Criada em 2016 por um francês apaixonado por construção e por um suíço especialista em finanças, a Ultima Collection se notabilizou por adquirir propriedades extraordinárias. A primeira foi em Gstaad, na Suíça. Ali foram criadas 11 suítes (uma delas presidencial, com dois quartos, cozinha e sala de estar) e seis residências privativas, em chalés de dois a quatro dormitórios.

Desde então, os sócios têm perseguido a missão de criar experiências exclusivas em alguns dos destinos mais desejáveis do mundo, oferecendo um serviço altamente personalizado e com a sustentabilidade como foco central de cada empreendimento.

Dos Alpes ao Mediterrâneo

Depois de Gstaad, a Ultima Collection chegou a Genebra e a Crans-Montana (também na Suíça), com spa de 1 mil m2, Megève e Courchevel (ambos na França). Descendo os Alpes, o destino seguinte foi Corfu, na Grécia.

Até que a dupla encontrou na Riviera Francesa a oportunidade de criar uma atração capaz de superar todo o luxo e exclusividade já oferecidos pela Ultima Collection. Por isso mesmo o Le Grand Jardin não leva a assinatura do grupo. “Nosso trabalho é ter a certeza de que surpreenderemos os clientes”, disse Gato. E surpresas não faltam para quem tem o raro privilégio de se hospedar na Île Sainte-Marguerite.

Dominando a vizinha Île de Saint Honorat, o mosteiro beneditino cercado de vinhedos e olivais é uma das atrações que tornam a região singular (Crédito:Divulgação)