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BRF à espera dos bilhões de dólares sauditas

Uma das maiores produtoras de proteína animal do Brasil, empresa do grupo Marfrig receberá aporte de US$ 2,25 bilhões da Companhia de Investimento Agrícola e Pecuário da Arábia Saudita

Crédito: Ahmed Yosri

As exportações para o país começaram na década de 1970 e é estratégica para indústria brasileira de alimentos (Crédito: Ahmed Yosri )

Por Lana Pinheiro

Maior economia do Oriente Médio com população de 35,9 milhões de habitantes, menos do que o estado de São Paulo (44 milhões), e PIB per capita de US$ 23,1 mil — contra os US$ 7,5 mil no Brasil —, a Árabia Saudita importa 75% de sua demanda por alimentos. Considerada alta, a taxa de dependência levou as autoridades locais a criarem duas estratégias para reduzir os riscos da insegurança alimentar. Anunciaram investimentos de US$ 70 bilhões para aumentar a produção local e reduzir o índice a menos de 20% até 2030 e criaram a Companhia Saudita de Investimento Agrícola e Pecuário. Conhecido pela sigla Salic, o fundo tem como objetivo investir em empresas de alimentos dentro e fora da região para garantir estabilidade de preços e garantia de fornecimento. O Brasil está na lista.

Em 2019 prometeram US$ 10 bilhões ao País, parte que está prestes a se realizar com o compromisso assinado de aporte de R$ 2,25 bilhões na BRF, marca do grupo Marfrig onde já acumula participação acionária de 34%.

No documento enviado à empresa, os sauditas se comprometem com a subscrição de 250 mil novas ações com preço máximo de R$ 9 no caso de futura oferta pública primária da BRF.

Em contrapartida, a acionista Marfrig Global Foods também se compromete em subscrever o mesmo volume e valor de papéis, o que significa outros R$ 2,25 bilhões, totalizando R$ 4,5 bilhões.

Nenhuma das empresas comentou a transação cujo comunicado foi feito ao mercado por meio de Fato Relevante. De acordo com o texto, a operação foi aprovada pelo Conselho de Administração da companhia brasileira em reunião extraordinária logo após o recebimento do compromisso da Salic.

Para a oferta se concretizar, porém, ainda falta aprovação dos acionistas em assembleia geral extraordinária a ser realizada em 3 de julho.

Exportações estão em níveis recordes

Essa movimentação se dá no momento em que a empresa anunciou recordes de exportação para o Oriente Médio e Norte da África no mês de março e alta nas vendas do trimestre.

O volume de carne de frango e de itens de valor agregado vendido à região no terceiro mês do ano somou 82 mil toneladas, 8% a mais do que em março de 2022. “Esse recorde traduz a clara preferência de nossos consumidores pelas nossas marcas, Sadia em particular”, afirmou Igor Marti, vice-presidente de Mercado Halal da BRF.

Já no trimestre, foram comercializadas 222 mil toneladas de carne de frango para essas regiões, alta de 13% em relação ao primeiro trimestre do ano anterior.

Brasil é reconhecido por processos que seguem as normas da religião muçulmana. À esquerda, linha de produção de frango da BRF (Crédito:Divulgação)

Estratégia presencial

Não é só por meio dos embarques que a empresa vem aumentando sua participação no mercado saudita. A estratégia envolve também presença física.

Em janeiro de 2021, a BRF inaugurou sua primeira fábrica por lá após adquirir uma unidade da Joody Al Sharqiya Food Production Factory por US$ 8 milhões e capacidade produtiva de 1,33 mil toneladas/ano.

Em junho do ano passado, o mais recente investimento foi concluído com a inauguração de uma fábrica na cidade de Dammam com capacidade mensal de 1,2 mil toneladas de alimentos e investimentos de US$ 18 milhões. Considerando a região do Oriente Médio, são 11 centros de distribuição, sete escritórios comerciais, cinco unidades produtivas, um centro de inovação, além de cerca de 6 mil colaboradores.

Igor Marti VP da BRF: “O recorde de vendas à região traduz a clara preferência de nossos consumidores pelas nossas marcas” (Crédito:Divulgação)

Com a estratégia de crescer no país, a BRF mostra-se alinhada com esforços brasileiros de conquistar mais espaço no mercado muçulmano.

Luis Rua, diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), perdeu as contas de quantas vezes esteve no Oriente Médio como parte dos esforços de criar oportunidades. “A região é um mercado fundamental para as proteínas brasileiras, especialmente para o frango.”

De acordo com a entidade, das 4,8 milhões de toneladas do produto exportadas em 2022 para 153 países, mais de 2 milhões de toneladas foram Halal, que quer dizer permitido por ser abatido seguindo as regras da cultura do país comprador.

No acumulado de 2023, as exportações totais de carne de frango somaram 1,7 milhão de toneladas, 12,1% a mais na comparação anual. A Árabia Saudita ficou em quarto no ranking (119,5 mil toneladas). Perde para China (262,8 mil toneladas), Japão (140,6 mil) e África do Sul (134,1 mil).