Como a Airfryer se tornou a estrela da Philips Walita
Desde a venda para a Hillhouse Investment, fabricante de eletrodomésticos mudou nome corporativo para Versuni e planeja dobrar de tamanho na América Latina com a força da Airfryer
Por Lara Sant’Anna
Podemos dividir o mundo dos eletrodomésticos em duas eras: antes da Airfryer e depois da Airfryer. O aparelho lançado para uso residencial em 2010 revolucionou como as pessoas preparam seus alimentos, criou um novo mercado na indústria alimentícia, além de receitas específicas pensando em suas funcionalidades. A Philips foi quem trouxe o eletrodoméstico para a casa das pessoas e inspirou a nova categoria de produtos – que se diversifica em formatos, tamanhos e concorrentes –, sempre com a mesma ideia de assar ou fritar alimentos com ar quente.
Apesar de estar no mercado há mais de 10 anos, a Airfryer teve um boom na pandemia. Nesse período, a então Philips Domestic Appliances começou a passar por mudanças importantes. Até então uma divisão da Philips, em 2021 foi vendida para a Hillhouse Investment.
No ano passado, o primeiro ‘cheio’ sob o novo gestor, a empresa reportou vendas de 2,6 bilhões de euros e mudou seu nome corporativo para Versuni (o nome Phillips segue como marca dos produtos) e planeja dobrar de tamanho na América Latina, mercado que traz de 4% a 5% do faturamento da empresa.
“O Brasil representa a maior parte disso, o que mostra a importância, mas também a ampla oportunidade de crescimento”, disse Henk S. de Jong, CEO global da Versuni.
Inovação para conquistar mercados
Para conquistar esse objetivo, um dos pontos centrais da Versuni é aumentar o uso da tecnologia nos produtos, desenvolvendo aparelhos conectados. Isso vai ao encontro da estratégia de ser uma companhia digital. E de novo a Airfryer é o melhor exemplo.
Entre os motivadores do sucesso da fritadeira estão a praticidade e a velocidade. Ganhar 15 minutos no preparo da comida é diferencial e para aumentar essa característica a nova versão é conectada ao aplicativo NutriU, que permite programar o uso pelo celular, é conectado à Alexa, tem acesso a receitas, além de trazer a configuração “manter aquecido”, pensando no consumo tardio do alimento.
O app também funciona com uma comunidade, então é possível acompanhar o que outras pessoas têm cozinhado, na pretensão da troca de experiências. Uma evolução dos tradicionais livros de receitas.
Para que as novidades sejam possíveis, a empresa investe, aproximadamente, 5% de seu faturamento em inovação.
A Versuni possui 900 patentes e nove centros de inovação ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Essa capilaridade é pensada para entender os diferentes perfis de consumidores e culturas. Assim, pensar soluções específicas é importante.
Ao mesmo tempo, é necessário que todas elas se conectem para a troca de ideias. “Nosso foco é facilitar a vida e dar opções para estimular a criatividade dos consumidores”, disse Jong. Esse DNA de inovação, inclusive, foi o que fez a empresa lançar a Airfryer.
Até hoje, o equipamento da empresa é o único com a tecnologia Rapid Air, que garante maior circulação de ar e dá o tradicional formato de estrela no fundo.
Expansão baseada em capilaridade e oferta de produtos
Outro passo para o crescimento está na diversificação de portfólio e de pontos de venda.
Além da Airfryer, a Philips Walita acredita no potencial de sua linha de cafeteiras. A marca Philips Walita também possui linha completa de eletrodomésticos, de ferro de passar que não queima a roupa a batedeiras.
No mundo, a empresa tem lançado produtos e categorias, como o aspirador robô na Europa, ainda sem previsão se chegará ao Brasil. Já quanto aos pontos de venda, a empresa passou a diversificar os canais.
Por muito tempo, a venda de alguns produtos era exclusiva da Polishop, o que mudou nos últimos dois anos. Em 2022, a Philips Walita lançou o próprio e-commerce, além de agora estar presente nos principais marketplaces e lojas físicas.
Para Alberto Serrentino, especialista em varejo e fundador da Varese Retail, a abrangência é importante considerando a característica da categoria de eletroportáteis ser muito fragmentada. “Ela não tem alta representatividade para nenhum formato de varejo”, disse. “Para fazer volume nessa categoria é preciso uma distribuição bastante capilar e com diversidade de clientes.”
A diversificação também colabora para outro ponto fundamental, a massificação do consumo. Os produtos da Philips Walita não são os mais acessíveis do mercado. Uma Airfryer da marca pode chegar a R$ 1,799, o que acaba afastando parte significativa dos consumidores.
Para ganhar a classe C, atraída por concorrentes que oferecem preços mais competitivos, a Philips Walita lançou uma opção mais barata do produto, a R$ 699.
Para o convencimento do público, além da tecnologia, o apelo está na durabilidade e no fato de a fabricação ser nacional. A empresa mantém uma fábrica em Varginha (MG) com 450 funcionários e que produz 75% das Airfryers vendidas no mercado nacional.
Reciclagem
Outra parte do marketing da Philips Walita para a Airfryer é a sustentabilidade. Segundo o CEO, o produto é mais silencioso e mais rápido, o que garante economia de energia. “Nossa Airfryer utiliza 23% menos eletricidade que as outras”, disse.
Além de parte da produção ser feita com materiais reciclados. A Versuni iniciou no Brasil um projeto de reciclagem de eletrodomésticos, em uma ação que casa sustentabilidade com a venda da Airfryer conectada e a captação de novos clientes.
Os consumidores entregam uma fritadeira antiga, funcionando ou não, de qualquer marca, e ganham um cupom de desconto de R$ 200 para a compra do produto conectado.
A empresa se responsabiliza pelo descarte correto e garante que 98,5% do equipamento pode ser reciclado. Como parte da ação, a fábrica de Varginha ganhou uma área exclusiva de desmonte. A ação está em fase inicial e tem a pretensão de ser replicada para outros produtos e países.