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A onda positiva do governo na economia

Menor inflação em três anos, PIB acima do esperado, Bolsa no maior patamar de 2023, dólar em queda e melhora do rating do País por agências de análise de risco. Uma combinação de mérito e sorte da equipe comandada por Lula que torna o Brasil a bola da vez

Crédito: Andressa Anholete/Mateus Bonomi /Gabriela Biló

Com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente Lula tem conseguido produzir resultados sólidos, com avaliação de ótimo ou bom por 37% da população (Crédito: Andressa Anholete/Mateus Bonomi /Gabriela Biló)

Por Paula Cristina

É uma conjunção de fatores positivos como há muito não se vê no País. Provas não faltam de que a economia melhorou nessa largada do terceiro governo Lula. O crescimento do PIB está próximo de 2%, o IPCA está no menor nível em três anos, o dólar caiu para a casa de R$ 4,80, a Bolsa vive dias de euforia e a confiança de empresários e consumidores está melhor.

Tudo isso já se reflete em maior aprovação do governo, com 37% da população considerando Lula ótimo ou bom — 5 pontos percentuais acima do que tinha Bolsonaro em igual período. Os dados são da Ipec contratada pelo jornal O Globo, mas o mundo também tem sentido essa empolgação.

As agências de rating começam a projetar para cima as notas do grau de investimento do País. A Standard & Poor’s elevou a nota de estável para positiva pela primeira vez desde 2019.

O fato é acompanhado da excelente performance da balança comercial e de uma onda de investimentos da China no setor de energia no Brasil, da ordem de R$ 65 bilhões apenas nos primeiros cinco meses deste ano.

Até a queda de braço do governo com o Banco Central para reduzir a taxa básica de juros, ainda em 13,75%, parece ter sido amenizada pelo presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, em uma sinalização que suscitou aplausos de empresários.

Economia anda nos trilhos

Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esse cenário é resultado dos acertos da equipe econômica. “Os sinais estão todos postos. Trabalhamos incansavelmente e os resultados já surgem. Analistas diziam que cresceríamos menos de 1% em 2023. Mas nós sabíamos que podíamos mais. Agora queremos 2%. E depois vamos querer mais”, disse Haddad à DINHEIRO.

Segundo o ministro, o fato de a economia não ser uma ciência exata faz com que ela viva de expectativa. “Sempre trabalhamos para também melhorar a perspectiva. ‘O consumo vai melhorar’, ‘o crédito vai baratear’, dizíamos. Tudo isso enquanto estudamos formas de chegar neste lugar”, afirmou.

Embora construídas por Haddad e também pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, as conquistas na área econômica têm o DNA de Lula.

O petista vem usando a narrativa da melhora do ambiente de negócio e da qualidade de vida do brasileiro desde a campanha à presidência, em 2022.

E as coisas caminham nessa direção, mesmo com as adversidades na economia global e com os desafios naturais do Brasil.

O horizonte é tão promissor que já se cogita a possibilidade de o déficit fiscal brasileiro ser zerado em 2024, o que exigirá receitas adicionais do governo de cerca de R$ 110 bilhões. Algo difícil, mas não impossível, dependendo dos ajustes a serem feitos nas contas públicas por meio do Arcabouço Fiscal e da Reforma Tributária.

Balança comercial do Brasil tem apresentado o melhor resultado entre os emergentes, segundo relatório da OCDE referente a maio. Commodities seguirão em alta, mesmo com a valorização do real (Crédito:Justin Sullivan)

Mercado está otimista com os resultados

Um dos principais reflexos da melhora das expectativas vem da Faria Lima, sinônimo de mercado financeiro por ser o endereço de grandes bancos e operadoras do mercado de capitais em São Paulo.

Por lá, Lula nunca foi uma figura muito popular. Mas isso vem mudando na mesma velocidade que os analistas reveem suas projeções para a economia.

Desde meados de abril, o Ibovespa, principal índice da B3, a Bolsa de Valores brasileira, vem apresentando resultados consecutivamente melhores.

Em maio, ele teve sua maior variação mensal em sete meses. Em junho, o índice continuou oscilando para cima e, na terça-feira (13), atualizou a máxima do ano, chegando a 119.068 pontos, alta de 1,99% na comparação com o dia anterior.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central: “Se a Selic cair sem credibilidade, não vai diminuir o custo de rolagem, pelo contrário, ele vai aumentar” (Crédito:Raphael Ribeiro/BCB)

A ‘ajuda’ da conjuntura mundial

Mas será que esses movimentos positivos envolvendo o mercado financeiro estão apenas na construção das narrativas de Lula? A resposta é não. Há no meio financeiro um otimismo atrelado também às condições econômicas globais.

Os aumentos da taxa básica de juros dos Estados Unidos devem ajudar a desacelerar a economia americana e permitem levar os investidores globais para novos mercados.

Ainda que o movimento de alta tenha sido interrompido na quarta-feira (14), depois de dez aumentos consecutivos (permanece em 5% a 5,25%), o Federal Reserve sinalizou que poderão vir novas altas até o fim do ano.

Para a economista Jadye Lima, da WIT Invest, o Brasil tem se posicionado em um lugar de destaque para o destino de capital. “É um dos melhores emergentes no momento, está reportando ótimos dados que vão desde queda na inflação, PIB pujante, até a balança comercial em destaque”, afirmou.

“Poucos países no mundo estão surpreendendo de forma robusta como nós estamos.”
Jadye Lima, economista da WIT Invest

Na avaliação da ministra do Planejamento, Simone Tebet, a condução política e econômica do Brasil nos últimos quatro anos teve impacto direto no andamento de indicadores como o dólar e a Bolsa de Valores, e a normalidade trazida pelo novo governo começou a colocar as coisas no lugar.

“Hoje temos estabilidade, e isso faz toda a diferença”, disse ela, em um evento da Febraban, a Federação de Bancos.

No entendimento da ministra, com o andamento da Reforma Tributária e do Arcabouço Fiscal, o ganho no PIB já poderá ser sentido em 2023.

“Temos batalhas para vencer, mas vemos que o prêmio compensa, porque alguns resultados serão imediatos”, disse ela.

A ministra avalia que a redução da taxa básica de juros é inevitável e que acontecerá em paralelo a medidas de estímulo à economia planejadas para o segundo semestre, como a volta do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que terá impacto na geração de emprego.

Ânimos melhoram na cadeia produtiva

Enquanto o mercado financeiro vem se acostumando com a nova gestão, a cadeia produtiva também se mostra mais animada.

Na quarta-feira (14), Lula recebeu 30 representantes do setor varejista, entre eles o presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Jorge Gonçalves Filho.

“O que vemos é que há um esforço do governo para garantir a sustentabilidade das contas públicas e esperamos que haja uma regressão da Selic no curto prazo.”
Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV

No entendimento do empresário, a cautela do Banco Central em relação aos juros é compreensível, mas os sinais de melhora no ambiente econômico já são relevantes para rever os 13,75% anuais. “E se a redução está próxima, prevejo uma retomada no segundo semestre”, disse.

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a Selic, que acontecerá segunda (20) e e terça (21).

A empresária Luiza Trajano se manifestou sobre o que espera em relação à taxa. Para ela, não adianta reduzir em 0,25 ponto porcentual. Para o setor, seria preciso “um pouco mais.”

Resultados positivos consecutivos formam um melhor ambiente para negócios na B3. Os motivos envolvem sinais de controle da dívida pública dentro do Brasil e previsão de oportunidades no mercado externo (Crédito:Nelson Almeida / AFP)

Juros, uma batalha que parece mais amena

Em resposta à pressão dos varejistas, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na segunda-feira (12) que a redução da taxa média de juros futuros cria um ambiente para a redução da Selic.

Ele citou dados sobre o prazo médio da dívida do varejo, que é 3,1 anos, para apontar que a taxa de juros nesse intervalo caiu de 13,5% para 10,5% no último mês.

Segundo informações da Anbima, no último dia 13, a taxa de juros para os próximos três anos estava em 10,68%. “Se a Selic cair sem credibilidade, não vai diminuir o custo de rolagem de vocês [empresários do varejo], pelo contrário, ele vai aumentar, e isso a gente viu na nossa história recente.”

Do lado do governo, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (Bndes), Aloízio Mercadante, também tem aproveitado encontros com empresários para reforçar a necessidade de redução dos juros.

Em um evento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mercadante pediu que os industriais presentes batessem palmas para Campos Neto por ter cogitado reduzir a Selic.

Para Mercadante, a economia tem melhorado, mas a redução da taxa básica de juro será determinante para diminuir o peso das dívidas dos empresários, dar mais folga para o governo investir e injetar o óleo necessário para a engrenagem econômica rodar com eficiência.

Calma e eficiência

Dentro da história brasileira não foram poucas vezes que a economia engatava e logo depois parava de novo.

Para o economista Marcos Lisboa, o motivo é que o Brasil tem problemas estruturais que impedem qualquer sinal sustentável de crescimento.

“Estamos sempre atrás dos emergentes, porque faltam soluções estruturadas e mais robustas.”
Economista Marcos Lisboa

A Reforma Tributária e o Arcabouço Fiscal são positivos, mas precisam vir acompanhados de outras medidas que envolvam mais assertividade nos gastos, uma leitura mais afiada do contexto mundial e conexão com o que a economia do futuro vai demandar.

Lula, de forma parecida com o que aconteceu em 2003, assumiu um Brasil ruim das pernas, mas com potencial de crescimento. O problema é que nem todas as estratégias usadas há 20 anos são eficientes nessa nova gestão.

Mesmo assim, alguns pontos serão sempre eficientes: inteligência na condução do Orçamento, diplomacia apurada e o entendimento de que, quanto maior a expectativa, maior a frustração quando ela não se realiza.