Negócios

O pescador de startups

Empresário Sérgio Bringel, que comanda grupo com faturamento de R$ 800 milhões, aposta em startups de saúde e educação para diversificar os negócios e multiplicar as receitas

Crédito: Claudio Gatti

A partir da sede do grupo, em Manaus, Sérgio Bringel tem analisado oportunidades em todo o País (Crédito: Claudio Gatti)

Por Hugo Cilo

Nas últimas quatro décadas, o Grupo Bringel construiu um dos maiores e mais sólidos conglomerados empresariais da região Norte do País. Com negócios em áreas como logística, construção civil e equipamentos médicos, a empresa fundada pelo empresário Sebastião Bringel e hoje comandada pelo filho, Sérgio Bringel, alcançou no ano passado faturamento recorde de R$ 800 milhões — e o primeiro bilhão deve chegar em dois anos.

Desde 2020, a companhia com sede em Manaus atua também no ramo da comunicação, após aquisição de retransmissoras de televisão e rádio, além de portais de notícias em quatro estados do Norte do Brasil: Acre, Amazonas, Roraima e Tocantins.

Mas tudo isso pode ser visto como a imagem da empresa no retrovisor. Desde o ano passado, o Grupo Bringel se tornou uma espécie de máquina de aquisição de startups. Com investimentos de mais de R$ 20 milhões, Sérgio Bringel comprou oito novas empresas de tecnologia, voltadas especialmente para as áreas de educação e saúde.

“A pandemia mudou a nossa forma e ver e de fazer negócios”, disse o presidente, em entrevista à DINHEIRO.

“Quando vi o caos gerado pela Covid em universidades e, principalmente, em hospitais de Manaus, percebi que nossa obrigação era atuar fortemente nessas novas frentes”, afirmou.

Prova dessa nova visão de negócio é o foco do grupo em empresas de saúde. Das oitos aquisições, seis foram de healthtechs: Salux, Med.Place Tecnologia, Skymed, StarGrid, TI Hospitalar e Zerodox. Apenas a Move (mobilidade urbana) e Innyx (educação) foram investimentos fora da saúde.

“Quando acompanhei a agonia e o desespero da população com falta de oxigênio nos hospitais, escassez de itens básicos como luvas e seringas, passei a fazer da saúde uma prioridade máxima em nossos objetivos sociais e financeiros”, disse Bringel.

800 milhões de reais
Faturamento do Grupo Bringel no ano passado

A mudança de rota do Grupo Bringel ainda está em curso, segundo o presidente. A companhia segue garimpando oportunidades de aquisição total ou aporte para ter participação em startups que tenham sinergia com as áreas estratégicas Brasil afora.

Em Bauru, no interior de São Paulo, a empresa adquiriu a Athos Brasil, especializada em unidades móveis de atendimento — caminhões e vans para atendimento de saúde a populações em áreas remotas, por exemplo.

Em Santa Catarina, a empresa comprou a Salux, fabricante de produtos de limpeza e itens descartáveis de uso hospitalar.

Outras empresas estão, segundo Bringel, em negociação no Rio Grande do Sul e em estados do Norte.

“Estamos avaliando compra em todas as partes do País e em áreas muito diversas”, disse o empresário. “Vamos investir o que for necessário e trazer para dentro do grupo empresas que tenham potencial de expansão e alinhamento com nossa estratégia de longo prazo.”

Por meio da Salux, Grupo Bringel tem acelerado sua expansão no segmento de tecnologia e itens hospitalares (Crédito:Divulgação)

Expansão

É por meio da Salux, principalmente, que o Grupo Bringel tem acelerado seus investimentos em startups de produtos médicos.

Com investimentos da ordem de R$ 12 milhões, a empresa que fornece para mais de 400 clientes comprou 50% da healthtech Skymed, que desenvolveu uma solução de gestão clínica específica para anestesiologistas.

Esta foi a segunda aquisição realizada pela empresa em menos de seis meses. Em dezembro de 2021, a Salux iniciou os movimentos de M&A, com a aquisição da Med.Place, proprietária de uma solução inovadora de telerradiologia. A Skymed, fundada em Porto Alegre, nasceu em 2019 com a proposta de desenvolver soluções digitais na área de assistência à saúde.

A busca por novas startups tem sido favorecida por um maior realismo nos valuation das empresas, segundo Bringel.

Isso porque o fim da euforia do mercado de capitais com o mercado de tecnologia cria oportunidades reais de aquisição em todo o País.

“Aquela fase que qualquer nova empresa valia milhões em rodadas de investimento era nociva para o mercado porque era irreal.”
Sérgio Bringel, presidente do Grupo Bringel

“Hoje estamos analisando números muito mais concretos e realistas do que acontecia alguns anos atrás.” Por isso, segundo ele, a temporada de pesca de startups está apenas no começo.