A receita cibersegura de US$ 656 milhões da BlackBerry
Canadense de tecnologia fatura US$ 418 milhões somente com cibersegurança, sendo referência no segmento no uso de inteligência artificial
Por Victor Marques
O celular utilizado pelo homem mais poderoso do mundo já foi um BlackBerry. O ex-presidente dos EUA Barack Obama ficou conhecido pelo apego ao aparelho celular da companhia canadense durante seus dois mandatos no comando do país. Era diferente de qualquer coisa que temos hoje, mas extremamente inovador quando surgiu: acesso a e-mails, um teclado Qwerty completo (padrão igual ao dos computadores), lojas de aplicativo e até uma das primeiras versões dos relógios inteligentes como acessório. Fundada em 1984, a BlackBerry iniciou seu domínio no cenário de telefones celulares pouco antes da virada do milênio, e mesmo com o lançamento do iPhone, em 2007, garantiu uma posição forte até 2010. Após esse período, porém, por falta de inovação nos aparelhos e de seguir as tendências do mercado, perdeu quase completamente sua participação e teve de recorrer ao seu recurso mais importante para continuar viva: a segurança.
US$ 1,4 bi
Investimento feito pela empresa na aquisição da Cylance, há três anos, pioneira no uso de inteligência artificial na cibersegurança. Compra foi a maior na história da Blackberry
A empresa se virou para os softwares e serviços de segurança na tecnologia e viu uma oportunidade de crescer.
No ano fiscal de 2023 (encerrado no primeiro trimestre deste ano), teve faturamento de US$ 656 milhões, queda de 8,6% na comparação ano a ano, do qual 63,7% (US$ 418 milhões) saíram do segmento de cibersegurança, que também registrou queda no mesmo período (-12%).
O restante é proveniente da atuação com soluções de internet das coisas (IoT) e licenciamentos. O resultado no ano foi de um prejuízo de US$ 734 milhões — em 2021 o lucro foi marginal, de US$ 12 milhões. Na quarta-feira (28), a empresa vai anunciar os resultados do primeiro trimestre do ano fiscal de 2024. Dá para imaginar a expecativa.
O foco no portfólio
O novo posicionamento, de olho na segurança cibernética, teve um marco em 2020, quando a companhia realizou a maior aquisição da sua história. Comprou a Cylance, de cibersegurança, por US$ 1,4 bilhão, trazendo para o portfólio uma solução pioneira no mercado devido ao uso de inteligência artificial (IA) — bem antes da badalação de agora.
A Cylance surgiu em 2012 e revolucionou o setor com a criação de softwares que buscavam prevenir, em vez de detectar reativamente, os vírus e malwares. Ficou conhecida, inclusive, como a primeira empresa a aplicar inteligência artificial, algoritmos e aprendizado de máquina à segurança cibernética.
“Estamos processando dados de segurança há muito mais tempo do que os nossos concorrentes, somos pioneiros na história do segmento”, disse à DINHEIRO Marcello Pinsdorf, country manager Brasil da BlackBerry Cylance.
A partir desse momento, todos os produtos da companhia passaram a ter IA embarcada.
“A gente pensa que deixou de usar o BlackBerry, mas, na verdade nossa tecnologia está dentro do seu carro, em dispositivos médicos e até na automação industrial.”
Marcello Pinsdorf, country manager Brasil da BlackBerry Cylance.
A divisão de cibersegurança consolida o repertório das duas empresas, reunindo 38 mil patentes em todo o mundo. A maioria de IA aplicada à proteção de endpoint (proteção dos dispositivos de usuário final).
“Buscamos sempre o melhor em termos de inovação, liderando o mercado de IA com produtos diferenciados, capazes de prevenir a execução de malwares”, afirmou Pinsdorf.
Tudo isso para atender uma carteira de 12 mil clientes de peso que aderem às suas soluções:
* nove entre os dez maiores bancos do mundo;
* sete dos sete governos que compõem o G7,
* organização de países líderes das maiores economias do planeta;
* dez das dez melhores indústrias automotivas;
* e a Estação Espacial Internacional (ISS).
Prevenção
Segundo o comandante da Cylance no Brasil, hoje, os riscos estão em todos os lugares. O home office aumentou consideravelmente os riscos, reduzindo o controle do local de conexão dos usuários.
A conexão é realizada em casa, com um roteador comum, e sem proteções especiais. Não somente nas casas, mas em todos os locais públicos e até nos veículos.
“Com a automatização dos carros, a capacidade de controlá-los remotamente é uma ameaça potencial”, afirmou. “Será necessário implementar as barreiras necessárias nos softwares dos automóveis em razão de protegê-los de potenciais invasões.”
Em abril deste ano, a companhia canadense anunciou uma grande atualização para sua oferta de soluções para o segmento de segurança cibernética por meio dos produtos Edge, Endpoint, Guard e Intelligence (e todos carregam o nome Cylance como sufixo).
“A cada ano temos uma nova versão dos nossos motores de inteligência artificial, o que nos ajuda a monitorar e prevenir ameaças preventivamente”, disse. “A gente consegue inverter um pouco a equação hoje, protegendo empresas de ataques que nem conhecemos.”
A atuação com foco preventivo da Cylance difere, segundo ele, do restante do mercado, que em sua maioria, atua ainda de forma mais reativa, mitigando os prejuízos quando o ataque já aconteceu.