Economia

Banco Central não cede

Copom mantém Selic em 13,75% e deixa mais tensionada a relação com o governo federal, com parte do empresariado e com setores da sociedade civil

Crédito: Amanda Perobelli

Na terça-feira (20), centrais sindicais promoveram protestos contra a manutenção da taxa de juro (Crédito: Amanda Perobelli )

Por Paula Cristina

A manutenção da Selic em 13,75% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de terça-feira e quarta-feira (20 e 21) não foi exatamente uma surpresa. O mercado, o governo e boa parte dos empresários já imaginavam que as chances de isso acontecer eram grandes.

A surpresa foi uma articulação do governo de modo mais frontal para pressionar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Terá de pressionar ele e todos os oito diretores do BC que votaram pela manutenção da Selic, já que a decisão foi mais uma vez unânime.

E a pressão, que já vem de boa parte do setor produtivo e do governo, pode vir de novas frentes.

Nas ruas, centrais sindicais e movimentos organizados já estão fazendo barulho. Nos escritórios e eventos da cadeia produtiva os empresários (em especial os do varejo e da indústria) são os que mais batem nos juros elevados.

A fundadora do Magazine Luiza, Luiza Trajano foi direta. Em um evento do IDV, no dia 13 de junho, e ao lado de Campos Neto, ela não contemporizou. “Uma coisa é dentro de uma sala a gente pensar que a Selic alta vai ser bom. Outra coisa é a realidade.” Campos Neto estava sentado ao lado dela. Na sequência, ela olha diretamente para ele: “E não fala em 0,25 ponto. Tem que ser mais.”

Depois disso, Luiza afirmou que as empresas varejistas estão fechando as portas. “Quantos aqui já fecharam unidades?”

As próximas reuniões do Copom acontecerão em agosto e setembro.

Roberto Campos Neto, do BC: puxão de orelha de Luiza Trajano, do Magazine Luiza (Crédito: Ton Molina)

Campos Neto ressaltou que não vota sozinho pela Selic. “Meu voto é um dos nove. Somos cautelosos para não ser imprudente.”

Na quarta-feira (21), em carta aberta, 51 nomes, entre empresários da construção, do agronegócio, da indústria e do comércio disseram ser “urgente uma política monetária adequada”.

Lula, que no dia 1° de Maio cobrou que os empresários se posicionassem, conseguiu ao menos parte do apoio que esperava.

Para o governo, além de tentar destravar a economia, a redução dos juros cumpre uma agenda própria, já que cada ponto percentual de Selic significa redução de R$ 40 bilhões (ou -0,39 ponto) na rolagem da dívida pública em um ano.

Na outra ponta, cada ponto percentual de inflação, em 12 meses, representa aumento de R$ 17,2 bilhões na dívida (+0,18 ponto).

Também é assim que Lula consegue ‘terceirizar’ eventuais problemas na economia, jogar na política monetária uma eventual desaceleração da economia e ter o apoio de parte dos empresários e da sociedade civil.