Expansão sem freio da JCA
Holding formada por empresas tradicionais de transporte coletivo de passageiros como Cometa, 1001, Rápido Ribeirão e Catarinense investe R$ 500 milhões em 485 ônibus na expectativa de alcançar receita de até R$ 1,8 bilhão em 2023
Por Angelo Verotti
Quando comprou o primeiro ônibus em sociedade com o irmão mais velho ainda no final da década de 1940 o carioca Jelson da Costa Antunes mostrou o seu apetite para negócios. Pouco tempo depois, adquiriu individualmente a viação Líder, empresa de um só coletivo e, na sequência, a viação Niterói. Mais de 70 anos se passaram e as bandeiras agregadas no período pelo empresário integram desde 1991 o Grupo JCA, que leva as iniciais do fundador. A organização se tornou uma das maiores do Brasil no segmento de transporte coletivo de passageiros, reforçada pela aquisição de outros concorrentes nos últimos 32 anos. Composta por empresas como Cometa, 1001, Catarinense e Rápido Ribeirão, a holding tem mais de 2,5 mil ônibus em circulação e espera faturar R$ 1,8 bilhão este ano, alta anual de 18%, embalada por investimento de R$ 500 milhões na aquisição de 485 novos veículos. “Ainda não alcançamos os patamares [de transporte] pré-pandemia, mas esse investimento na frota vai ser refletido na satisfação dos passageiros”, afirmou Gustavo Rodrigues, presidente do Grupo JCA.
As operações das companhias pertencentes à JCA estão concentradas no Sul e Sudeste, onde possui mais de 500 rotas percorridas anualmente por 60 milhões de clientes.
E, a partir deste mês, os trabalhos ganham maior qualidade, eficiência e desempenho com a chegada das primeiras unidades adquiridas pelo grupo junto à Mercedes-Benz (chassi) e à Marcopolo (carroceria).
Segundo Marcelo Antunes, neto do fundador e conselheiro da JCA, a holding terá um incremento real de 100 ônibus na frota apesar do alto volume da aquisição. Isso porque as demais 385 unidades serão utilizadas para substituir veículos já em uso. “Realizamos a cada ano a renovação de 12% a 15% da frota . Em 2023, chegaremos a 20% do total”.
O investimento é motivado não só pela necessidade de modernização da frota, mas pelo aumento da demanda no período pós-pandemia. De acordo com Gustavo Rodrigues, o incremento médio de algumas rotas alcançou 85% do volume pré-Covid-19, impulsionado pelo aumento no preço das passagens aéreas.
“Muitos clientes aprenderam ao longo dessa jornada que embarcar num horário noturno, utilizar um serviço leito-cama e com wi-fi é muito mais cômodo, além de, dependendo da circunstância, mais rápido.”
Gustavo Rodrigues, presidente do Grupo JCA
Na visão do presidente, a retomada da demanda tem sido mais lenta nos últimos meses, porque empresas mantiveram o regime de trabalho híbrido. Com isso, algumas rotas não devem alcançar o volume de 2019, principalmente as de operação diária, mais curtas e usadas pelos trabalhadores rumo ao escritório.
Frete e redes sociais
Em outra frente de negócio, o grupo JCA possui uma unidade de fretamento especializada em grandes eventos. A empresa triplicou o volume de operações nos últimos 13 anos. “Estamos atendendo com 100, 150 ônibus no fretamento eventual. E, em 2022, alcançamos 900 ônibus dedicados ao fretamento contínuo.”
A estratégia de crescimento da holding também está focada nas experiências digitais. Nos últimos três anos, foram investidos aproximadamente R$ 75 milhões em novas soluções.
Entre as novidades, o lançamento do Clube Giro, programa de fidelidade; o Outlet de Passagens, que comercializa bilhetes com desconto; além da remodelação dos sites das empresas e investimento em sistema de gerenciamento de precificação e de receita.
“Hoje 50% da nossa receita já é proveniente de meios virtuais, por canais digitais”, afirmou Antunes.
Outra importante iniciativa foi a criação da Wemobi, empresa de baixo custo que entrega experiência 100% digital . “Hoje, 70% dos clientes da plataforma não eram do Grupo, o que significa que estamos conversando com um público novo”, disse Rodrigo Trevizan, CEO da Wemobi e diretor de Marketing da JCA.
As transformações promovidas mostram que, apesar do falecimento do fundador em 2006, o seu espírito empreendedor segue preservado na cultura organizacional. Uma boa notícia diante de desafios na cadeia de logística.
O principal deles o preço do diesel. “Está num patamar que ainda impacta bastante nos custos de produção do transporte”, afirmou Gustavo Rodrigues. Uma adversidade que a JCA espera conduzir com investimento e muita tecnologia.