Finanças

Real digital cada vez mais real

Bancos e empresas do setor financeiro se movimentam para o lançamento da versão tokenizada da moeda brasileira. O dinheiro do futuro promete colocar a economia do País em um novo patamar

Crédito: Crypto Crow / pexels

Real digital: a moeda tecnológica deve entrar em operação no segundo semestre de 2024 (Crédito: Crypto Crow / pexels)

Por Jaqueline Mendes

Token, blockchain, combinações alfanuméricas, criptomoedas… Não tem sido fácil aprender e compreender a engenharia de todas as inovações tecnológicas, especialmente na velocidade em que elas acontecem. Agora existe algo novo para estudar: o Real Digital.

Depois de selecionar 14 grupos financeiros para iniciar neste ano o projeto-piloto da moeda digital nacional, ou Central Bank Digital Currency (CBDC), que deve entrar em operação no segundo semestre de 2024, o Banco Central (BC) deu início a uma corrida sem precedentes entre instituições financeiras e empresas de tecnologia.

As instituições selecionadas para o programa são: ABBC, Banco ABC, Banco B, Banco do Brasil, Banco BV, Banco Inter, Basa, Bradesco, BTG, Itaú Unibanco, Nubank, Santander, SFCoop e XP. São elas que serão responsáveis por digitalizar a nossa moeda.

Na primeira fase, que acontecerá durante este ano, serão realizados os testes com tecnologias de registro distribuído (DLT). O acesso será limitado apenas às instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central.

O objetivo do BC é analisar o funcionamento da infraestrutura tecnológica do CBDC. Assim, se pode observar se o real digital atenderá os serviços financeiros do mesmo modo que o Pix revolucionou as operações bancárias para o usuário comum.

No projeto, a simulação envolverá a participação de usuários finais na compra de títulos públicos federais, em parceria com o Tesouro Nacional, por meio de depósitos de ativos tokenizados do Real Digital.

Essa será uma das possíveis aplicações da versão virtual do real. A plataforma definida pelo BC para o teste foi a Hyperledger Besu, com o uso da Ethereum Virtual Machine (EVM) como DLT.

Parece complexo, mas é possível comparar com uma operação de marketplace, segundo Fábio Araújo, coordenador do Real Digital no Banco Central. Ele explica que se trata de uma operação de forma simples, como se fosse um e-commerce. “Nessa transação simulada, um comprador fictício vai acessar o app do banco”, disse. “Ali, como em um marketplace,o cliente vai ver um ativo que ele gostaria de comprar, como um título público. Do outro lado, o vendedor expõem seu título público a ser transacionado.”

Ainda de acordo com Araújo, o comprador pode escolher o papel e adquiri-lo via app do banco. A instituição do cliente transfere o valor para o vendedor, que recebe o montante em ativo tokenizado. O ciclo se fecha com a entrega do título público.

“Será como num marketplace. o comprador vai ver um ativo, como um título público. Do outro lado, o vendedor expõe seu título e faz a transação” 

Por trás de todos esses nomes e nomenclaturas há um único objetivo: simplificar as transações e aumentar a segurança das operações.

O Real Digital não será uma criptomoeda, nem uma nova versão de Pix.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, diz que as chamadas CBDC, moedas digitais ‘emitidas’ por BCs — ao contrário de uma cripto comum, como o bitcoin, por exemplo, que não é atrelada a um governo ­— será uma stablecoins.

Ou seja, mais uma modalidade de pagamento oficial em todo o País e de valor estável — já que não vai sofrer oscilações especulativas como acontece com as criptos. “Se tivéssemos criado a CBDC antes, poderíamos ter evitado problemas que tivemos em criptos”, afirmou Campos Neto, em participação no Valor Capital’s Crypto Workshop no início do mês.

Modernização

Seja como for, as empresas do setor já se antecipam à digitalização da moeda. Segundo Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks, o Real Digital contribuirá para a modernização de todo o sistema financeiro. “Por ser uma moeda exclusivamente digital e estar sobre uma tecnologia de blockchain, ela utilizará novas técnicas como Smart Contracts”.

Isso permitirá novas formas de financiamentos e investimentos baseados em tokenização. Ainda segundo o executivo, existem diversas tecnologias novas a serem testadas para então chegarem ao cidadão. “Sempre haverá os desafios tecnológicos ligados a disponibilidade, performance e segurança. Mas temos trabalhado nesses itens para o desenvolvimento do piloto”, afirmou Zanini.

“Estamos empenhados em trabalhar com o que existe de mais moderno em tecnologias de CyberSecurity. Tudo isso será amplamente testado durante essa fase.”

Um dos 14 selecionados para consórcio do projeto piloto do Real Digital, no banco BV a novidade deve representar a facilitação de compras e transações à população tornando possível a realização de compras e investimentos com mais agilidade e custos mais baixos.

João Gianvecchio, gerente de Inovação do banco BV , destaca o caráter coletivo da iniciativa. “É um caminho novo, construído com diversas instituições junto ao Banco Central.”

Para o executivo, participar do projeto é uma forma de reafirmar seu compromisso com o desenvolvimento de ações que promovam a inovação e com a educação financeira da população.

O economista Pablo Alencar, especialista da Valor Capital, afirmou que o principal benefício do Real Digital será a redução do custo de operação, já que o fim do uso de papel moeda pode diminuir em até 2% o custo total de uma transação em comparação com uma operação analógica. “Quando se digitaliza, se impulsiona os negócios e a inovação, além de aumentar a liquidez da moeda”, disse. Ou seja, o Real Digital começa a ficar cada vez mais real para a economia brasileira.