A receita social do McDonald’s
McDia Feliz comemora 35 anos de atuação, com R$ 375 milhões destinados ao tratamento do câncer infanto-juvenil e à educação e contribui para melhora dos índices de cura da doença
Por Beto Silva
São 1,1 mil restaurantes, cerca de 75 cafés e 2 mil desert centers, empregando mais de 50 mil pessoas. Essa é a estrutura no Brasil da Arcos Dorados, holding que opera as franquias do McDonald’s na América Latina e Caribe. O faturamento em 2022 foi de US$ 1,4 bilhão no País. Globalmente, a receita da McDonald’s Corporation foi de US$ 23,2 bilhões. O protagonista desses resultados foi, obviamente, o hambúrguer mais famoso do mundo: o Big Mac.
Colocados os números e a dimensão da companhia, vamos abordar o lanche e a marca de uma maneira diferente. Nos dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles no pão com gergelim tem um ingrediente que foge ao paladar e ao balanço financeiro: o social.
Neste ano, mais especificamente na campanha do dia 26 de agosto, o McDia Feliz comemora 35 anos no Brasil. Nessa data, toda a renda obtida com a venda do Big Mac é revertida em doação para entidades de saúde e educação.
Na primeira edição do evento, realizada em 1988, a arrecadação foi de US$ 986,00 — na cotação de hoje algo em torno de R$ 4,7 mil. Três décadas e meia depois, o projeto se tornou a maior mobilização social em benefício de crianças e jovens com câncer no Brasil, ao angariar R$ 25,8 milhões em 2022.
No total, o McDia Feliz acumula R$ 375 milhões e beneficiou 11 milhões de pessoas. “São números que nos deixam muito orgulhosos porque geram transformação social. O McDia Feliz é de muito trabalho, mas muito gratificante”, disse Rogerio Barreira, presidente da Divisão Brasil da Arcos Dorados, que participa da ação desde a primeira edição, já que ele ingressou na empresa como atendente de lanchonete em 1984, aos 16 anos e fez carreira até chegar ao comando da operação nacional no ano passado.
Jornada
São três meses de campanha até chegar o grande dia que geram engajamento e mobilização de colaboradores, franqueados, marcas e consumidores, formando uma trilha de impacto positivo.
Caso do fornecedores da Arcos Dorados, como a Marfrig, uma das líderes mundiais na produção de carne bovina e em produção de hambúrgueres. As centenas de companhias participam ao comprar vouchers e incentivar seus colaboradores a também atuarem na promoção da atividade. São 30 mil voluntários espalhados pelo Brasil.
O recorde de arrecadação ocorreu justamente no ano passado, ao atingir R$ 25,8 milhões. Do total, R$ 19,9 milhões foram destinados ao Instituto Ronald McDonald, que beneficiou 64 projetos de 51 instituições que atuam com oncologia pediátrica em 19 estados e no Distrito Federal.
Outros R$ 5,9 milhões atenderam ao Instituto Ayrton Senna, parceiro da ação desde 2018, que proporcionou a formação de 42 mil educadores, alcançando 2,5 milhões de estudantes de escolas públicas em seis diferentes projetos desenvolvidos pela entidade.
O Instituto Ronald McDonald foi criado em 1999 para organizar as ações de arrecadação e lançar os editais anuais que selecionam os projetos que serão beneficiados, além de gerenciar as Casas Ronald McDonald. É o articulador nacional do McDia Feliz.
O trabalho é em três frentes:
* capacitação de equipes para diagnóstico precoce do câncer infanto-juvenil e encaminhamento de casos para a rede do Sistema Único de Saúde (SUS);
* investimento em infraestrutura, equipamentos e medicamentos para viabilizar tratamento de qualidade — e aqui entram as Casas Ronald McDonald para dar suporte às famílias com hospedagem, alimentação, escola, transporte e apoio psicossocial;
* pós-tratamento, quando as famílias voltam para suas cidades e muitas vezes não têm as mesmas condições de quando eram acompanhadas durante o tratamento, inclusive com capacitação de familiares para entrada no mercado de trabalho e geração de renda.
“O câncer infanto-juvenil permanece como nosso foco desde o início porque é a doença que mais mata pessoas de 1 a 19 anos hoje no Brasil [dados do Instituto Nacional do Câncer, ligado ao Ministério da Saúde]”, disse Bianca Provedel, diretora-executiva do Instituto Ronald McDonald.
Na ponta do processo está a melhoria nos índices de cura da doença. “Quando o McDia Feliz começou, em 1988, o percentual de cura era de 35%. Hoje é de 64%. O objetivo é atingirmos 80%, índice registrado em países desenvolvidos”, afirmou Bianca.
Claro que a medicina evoluiu, novas tecnologias foram implementadas, mas o Instituto Ronald McDonald tem participação preponderante nesses resultados.
Desde sua criação já beneficiou 1.749 projetos de 108 instituições de norte a sul do País, impactando diretamente 3 milhões de crianças e adolescentes com câncer, além de suas famílias. “Trabalhamos para conseguir diagnosticar precocemente e trazer o paciente a tempo para o tratamento. É ampliar e dar escala”, disse a diretora.
O Instituto Ayrton Senna está há seis anos no projeto. Gerou aproximadamente 366 mil atendimentos de educadores, ao prepará-los para atender e orientar as famílias. Realizou 8,7 milhões de atendimentos a crianças e jovens de diversas regiões do Brasil.
Ewerton Fulini, vice-presidente do Instituto Ayrton Senna, destaca que a participação no McDia Feliz amplia a atuação da entidade. “Aceleramos a preparação dos educadores”, afirmou. Receita social que deixa o Big Mac mais saboroso.