A disciplina da Criatividade ; )

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Luís Guedes: "Além da capacitação formal em criatividade, a liderança deve se apropriar de meios eficazes de comunicação e coordenação e usar metáforas, histórias, analogias" (Crédito: Divulgação)

Por Luís Guedes

Permita-me começar pelo fim, ocupada leitora, curioso leitor: seu negócio vai precisar de mais e melhores ideias e a criatividade deve estar na agenda de treinamento e desenvolvimento de toda empresa, não somente da área de marketing. O pensamento criativo, ainda que habilitado por tecnologia, se torna crucial para a competitividade em tempos de computação cognitiva e turbulência geopolítica. A liderança dedicada sabe que a criatividade deve ser tratada com a mesma seriedade com a qual conduzimos as finanças, o marketing ou a gestão de talentos. Apesar de muito celebrada, há pouco empenho formal no estudo do tema nas organizações e escolas de negócio.

A adoção sistemática de novas tecnologias e o acesso às melhores práticas gerenciais conduzem as organizações a um platô comum de competência. Ser competitivo não significa somente ser excelente aos olhos do cliente, mas sim ser melhor do que a concorrência! Competitividade é um conceito relativo. É importante que se diga que o pensamento criativo é também necessário para as organizações que estão subindo em direção ao platô da competência. Existe uma demanda real de criatividade para encontrar maneiras inteligentes de operar e servir. A produção enxuta, derivada do brilhantismo de dois engenheiros da Toyota nos longínquos anos 1970, representa uma forma de instrumentalizar esse conceito.

A criatividade é uma competência que pode desequilibrar o jogo. Revoluções significativas nos negócios não são resultados da análise de dados ­— nossa mente somente concebe aquilo que está preparada para ver. É responsabilidade da liderança a instalação de capacidade nos times e a instrumentalização dos meios para desenvolver ideias a partir do que coletivamente pensamos, sentimos e usamos, tendo nossos valores como referência.

Como nem tudo são flores, lá vai uma má notícia: nosso cérebro, uma rede com inacreditáveis 86 bilhões de neurônios, não foi projetado para pensar criativamente, mas para reconhecer padrões e garantir que não nos desviemos deles. Para o humano primitivo o desvio podia custar a vida e fazer o que sempre fizemos e deu certo até agora parece uma boa ideia (sobre isso, veja com as crianças, se as tiver, o sensacional Os Croods, da DreamWorks).

O julgamento é a ferramenta que desenvolvemos ao longo da evolução para nos levar de volta à posição de conforto, o condutor do retorno à média. Uma prioridade da liderança deve ser criar um clima de segurança psicológica para que os liderados explorem novas formas de fazer, inclusive discutindo se o que fazemos precisa continuar sendo feito.

“A liderança deve se apropriar de meios eficazes de comunicação e coordenação e usar metáforas, histórias, analogias. O mundo assimétrico, exponencial, ansioso e ambíguo precisa da sua ajuda para que nasçam boas ideias que se transformam em soluções equilibradas e conectadas com o futuro que desejamos”

Um caminho seguro para o colapso das boas ideias é ter uma única fonte, por mais brilhante que seja. Empresas e comunidades precisam de fluência de boas ideias, como a literatura acadêmica já aponta há tempos e nossas escolas de samba mostram a cada fevereiro.

Além da capacitação formal em criatividade, a liderança deve se apropriar de meios eficazes de comunicação e coordenação e usar metáforas, histórias, analogias. O mundo assimétrico, exponencial, ansioso e ambíguo precisa da sua ajuda para fazer nascer boas ideias que se transformam em soluções equilibradas e conectadas com o futuro que desejamos.

Luís Guedes é professor da FIA Business School