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Don Melchor: um vinho com o DNA do melhor terroir chileno

Combinando a potência das uvas de Puente Alto e a finesse de um blend feito a quatro mãos em Bordeaux, na França, a safra 2020 do clássico Don Melchor chega ao Brasil, mercado que responde por 20% do consumo global do rótulo mais icônico criado pela Viña Concha y Toro

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O vinhedo Don Melchor berço das uvas (Crédito: Divulgação)

Por Celso Masson

A pandemia de Covid-19 havia sido declarada pouco antes do início da colheita de uvas tintas em Puente Alto, terroir do Vale de Alto Maipo famoso por produzir os melhores Cabernet Sauvignon do Chile. Além de acompanhar de perto a maturação dos cachos em cada uma das mais de 150 parcelas do vinhedo sob sua responsabilidade, o enólogo e CEO da Viña Don Melchor, Enrique Tirado, teve de atender às exigências da crise sanitária que desencadearam operações inéditas para proteger os trabalhadores durante a colheita e garantir que a safra não fosse prejudicada. Havia boas razões para evitar ao máximo qualquer comprometimento das frutas a serem colhidas. A começar pelas duas vindimas anteriores.

Em 2018, Don Melchor conquistara pela primeira vez 100 pontos na avaliação do influente crítico James Suckling.

No ano seguinte, embora sem repetir a pontuação máxima, foi eleito pela sétima vez um dos 100 melhores do mundo na opinião do mesmo especialista.

Para 2020, a expectativa em relação a esse ícone criado nos anos 1980 pela vinícola Concha y Toro era imensa. E o clima não estava ajudando. “Foi uma das safras mais desafiadoras para a equipe agrícola e enológica de Don Melchor”, disse Tirado ao apresentar o vinho em um jantar em São Paulo.

A influência do clima

Segundo ele, em termos climáticos, a região de Puente Alto apresentou nos meses de novembro e dezembro temperaturas muito elevadas em relação à média histórica.

Além disso, foi um ano muito seco, com apenas cerca de um terço das chuvas previstas para a região.

Esses fatores levaram à decisão de antecipar a colheita em 15 a 20 dias, quando as bagas de uvas ainda estavam pequenas.

Apesar disso, ainda de acordo com Tirado, os cachos mostraram grande qualidade, “com concentração e maturidade muito boas, mantendo o frescor e vivacidade nas diferentes parcelas”, afirmou.

Enrique Tirado seleciona para produzir o excelente vinho, à venda por R$ 1.099 no Brasil (Crédito:Divulgação)

Para ele, o resultado foi uma matéria-prima equilibrada para a produção de vinhos “cheios de energia e com texturas refinadas”.

Algo que o mundo espera do primeiro ícone da indústria chilena e hoje referência entre os tintos de alta gama no mundo.

Com produção de cerca de 14 mil caixas por ano, o Don Melchor tem no Brasil um de seus principais mercados, com cerca de 20% do consumo global. O vinho chega ao preço de R$ 1.099.

Com 92% de Cabernet Sauvignon, 6% de Cabernet Franc, 1% de Merlot e 1% de Petit Verdot, passou 15 meses em barricas de carvalho francês. A proporção de uvas usadas no blend final é definida após um exaustivo trabalho de comparação de mesclas feito a quatro mãos em Bordeaux, na França, por Enrique Tirado e Eric Boissenot, consultor de nada menos que quatro dos cinco châteaux que produzem rótulos considerados Premier Grand Cru Classé, a mais alta distinção do vinho bordalês.

Os dois degustam em torno de 150 amostras vinificadas com uvas dos diferentes lotes do vinhedo. Elas viajam para a França em duplicidade para evitar qualquer acidente no trajeto. Uma vez definida a mescla, todos os componentes são transferidos para os barris onde permanecem até o engarrafamento.

Um vinho com enorme potencial de guarda

O nome homenageia Don Melchor Concha y Toro, um visionário advogado, político e empresário nascido em Santiago, em 1834, que teve enorme influência no desenvolvimento do vinho no Chile.

Em 2019, seus descendentes e atuais controladores da Concha y Toro transformaram a Viña Don Melchor em uma empresa independente.

A escolha de Enrique Tirado para ser o CEO foi óbvia, já que se dedica a produzir o mesmo vinho há quase 30 anos.

Sob seus cuidados, no solo pedregoso de Puente Alto e sob os ventos gelados que descem da Cordilheira dos Andes, nasce um vinho saboroso, de ataque de grande frescor e elegância, textura aveludada e com potencial de guarda de ao menos 35 anos.