Tecnologia

Ant Group, conglomerado gigante de Jack Ma, do Alibaba, sai do nocaute

China pune em quase US$ 1 bilhão o Ant Group, empresa de Jack Ma, fundador do Alibaba. Multa sinaliza fim da batalha entre empresário e Pequim

Crédito: Costfoto/NurPhoto

Alibaba, uma das empresas do grupo Ant: monstro financeiro (Crédito: Costfoto/NurPhoto)

Por Edson Rossi

Fazer de uma notícia extremamente ruim algo positivo é prova de sabedoria. É por aí que analistas enxergam a punição de quase US$ 1 bilhão imposta pelo Banco do Povo da China ao Ant Group, conglomerado fintech do bilionário chinês Jack Ma — também fundador do titã varejista Alibaba Group.

Para entender os recados, entender a punição e (principalmente) entender o lado positivo disso tudo é preciso ler com cuidado e nos detalhes a nota oficial do banco estatal, equivalente ao BC do país, divulgada na sexta-feira (7). “Desde novembro de 2020, o Departamento de Gestão supervisionou e orientou o Ant Group, o Tencent Group e outras grandes empresas de plataforma a corrigir de maneira abrangente violações de leis e regulamentos em suas atividades financeiras”, afirmou a instituição. Daí a penalização pesadíssima de 7,12 bilhões de yuans, o equivalente a US$ 980 milhões. Para Tencent, US$ 410 milhões.

No caso do Ant Group, a reação de Jack Ma foi sorrir. E seguir. Também por meio de comunicado oficial, seu conglomerado afirmou que “desde 2020 tem conduzido a retificação de negócios de forma proativa, concluiu esse trabalho e cumprirá os termos da penalidade com toda seriedade e sinceridade”.

Como reagiu o mercado? Sorriu e seguiu junto. Como o Ant Group ainda não fez IPO, a comparação se deu com as ações de sua corporação gêmea, o Alibaba Group.

Elas fecharam em US$ 83,82 na quinta-feira (6), véspera do anúncio da multa, e encerraram a quarta-feira (12) em US$ 94,00 (alta de 12% em seis dias de pregão).

A euforia com a valorização dos papéis do Alibaba é sinal de que a guerra entre Pequim e Jack Ma terminou. Ou está perto de terminar. Isso significa que a chance de IPO do Ant Group — no todo ou em partes — volta ao radar.

IPO

A batalha entre Jack Ma e a cúpula do governo chinês teve seu start em novembro de 2020. O empresário bilionário cometeu o que no mundo corporativo ocidental é visto como sincericídio. Às vésperas da abertura de capital do Ant Group, empresa fundada em 2014, ele afirmou sem meias palavras que o governo chinês sufocava a inovação e era excessivamente cauteloso. Em tudo.

A resposta de Pequim foi num tom inesperado até para quem acompanha o mundo político e econômico do país: o IPO foi imediatamente suspenso. A expectativa era que ele levantasse US$ 34 bilhões, o que seria o maior da história — Aramco (US$ 25,6 bilhões, no fim de 2019) e Alibaba, também criado por Jack Ma (US$ 21,8 bilhões em 2014), ainda lideram a lista.

Na sequência, a perseguição regulatória a Jack Ma começou e ele temeu inclusive por sua vida, mesmo que nada falasse oficialmente.

“O Ant Group cumprirá os termos da penalidade com toda sinceridade e seriedade.”
Nota oficial do conglomerado fundado por Jack Ma (foto)

 

O fato é que deu uma vazada da China e raramente apareceu em público nos últimos dois anos e meio.

A queda de braço entre Pequim e os conglomerados de Jack Ma reproduz de certa forma o que o mundo ocidental ainda não consegue, que é regular fortemente as gigantes de tecnologia — e não se trata aqui de afirmar se está certo ou errado.

Essas empresas hoje têm valores de mercado que superam o PIB da maioria dos países.

À parte a mais valiosa delas, a Aramco, que se mistura ao governo saudita e está avaliada em US$ 7,7 trilhões, para ficar no mundo da tecnologia o valor da Apple (US$ 2,9 trilhões) é 53% superior ao PIB brasileiro (US$ 1,9 trilhão).

No caso do empresário chinês Jack Ma, ele foi um visionário que percebeu para onde iria o comércio digital e fundou o Alibaba, em 1999. Sacou que a palavra-chave seria ‘conexão’.

Foi o que fez, conectando empresas com empresas e empresas com pessoas. Hoje, o Alibaba Group (mesmo que dois terços menor comparado ao período anterior à briga com Pequim) tem valor de mercado de US$ 241 bilhões.

Seu passo seguinte foi ainda mais visionário. Percebeu que toda varejista viraria uma instituição financeira. Com a base de dados e conhecimento de comportamentos (leia-se inclusive avaliação de risco) adquiridos com os serviços das plataformas Alibaba e AliExpress o executivo lançou em 2004 o sistema de pagamentos AliPay. O crescimento exponencial foi base do surgimento do Ant Group, dez anos depois.

Chamar o Ant de fintech é uma humildade altamente imprecisa. Trata-se de um monstro financeiro. Segundo a consultoria China Internet Watch, são:
• 1,3 bilhão de usuários (dentro e fora da China),
• 80 milhões de comerciantes conectados,
• 2 mil instituições financeiras parceiras,
• US$ 17 trilhões transacionados anualmente.

São esses os números que assustam governos. Pequim só é mais um.

E foi o que reagiu mais pesadamente. Por isso, a multa de quase US$ 1 bilhão é o menor dos problemas do Ant Group. Não só porque seu fundador segue dono de US$ 34 bilhões, sendo o 40º cara mais rico do mundo pelo Bloomberg Billionaires Index. E sim porque Jack Ma está de volta ao jogo.