Coluna

O que a Computação Quântica pode nos ensinar sobre inovações radicais

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Luís Guedes: "Inovação radical precisa de muitas pessoas e não somente da liderança visionária, mesmo que de gênios tais como Jobs, Gates ou Dumont" (Crédito: Divulgação)

Por Luís Guedes

Apesar do hype, a ideia da computação quântica tem mais de 40 anos! Foi em 1981 que o físico Richard Feynman nos ensinou que a simulação da natureza deveria ser feita por uma máquina quântica, já que, bem, a natureza é quântica.

A tecnologia quântica parte de uma abordagem baseada em uma unidade básica de computação completamente diferente do que temos hoje: os qubits. Por meio do uso das propriedades quânticas da matéria, os tais qubits podem assumir valores emaranhados de zero e um ao mesmo tempo, estado chamado de sobreposição quântica. O maior desafio hoje está em manter os qubits estáveis em temperaturas um pouco maiores que inacreditáveis -273oC.

As oportunidades para a computação quântica são tantas e tão diferentes do padrão atual que nem sabemos ao certo quantificá-las. Mas é certo que pode ser particularmente útil na modelagem da agricultura de precisão, por exemplo.

Considerando a crescente demanda global por alimentos e o papel do agronegócio na economia do nosso País, seria uma ótima oportunidade para o governo mostrar liderança determinante investindo na tecnologia e, de quebra, na nobre tarefa de alimentar o mundo, gerando não somente avanço científico, mas também riqueza e desenvolvimento para nossa economia.

“Uma lição que fica para o Estado moderno é tentar encontrar caminhos para apoiar tecnologias promissoras, mas que são muito arriscadas para outros investidores, absorvendo e lidando de modo equilibrado com o dinheiro público em um campo no qual uma alta taxa de fracasso é inevitável e até
mesmo desejável”

O desenvolvimento dos Computadores Quânticos serve para analisarmos o processo de desenvolvimento de uma tecnologia radicalmente nova. O primeiro insight tem a ver com a liderança garantindo recursos, apoiando-se para isso em ferramentas sofisticadas de modelagem de risco. O segundo diz respeito à quantidade de etapas do processo e à necessidade de investimento no aprofundamento em cada uma e na integração de todas.

O mundo das startups, por sua vez, denota um aspecto do processo de inovação no qual as ideias já tomaram forma, estão próximas à comercialização e o retorno financeiro já está logo ali na esquina… no caso de inovações radicais isso não acontece ­— o risco é muito alto e não há ideia clara do resultado financeiro.

É nesse ponto que o Estado pode ter um papel definitivo, tomando um risco difícil de ser absorvido por uma empresa comercial. A computação quântica começou na lousa de cientistas de países como EUA, França, Inglaterra e principalmente China. Estima-se que dezenas de bilhões de dólares tenham sido investidos na pesquisa básica em mecânica quântica por governos em parceria com empresas líderes em TI, tais como Bell Labs, IBM, Google, Toshiba, Baidu e Microsoft.

Uma lição que fica para o Estado moderno é tentar encontrar caminhos para apoiar tecnologias promissoras, mas que são muito arriscadas para outros investidores, absorvendo e lidando de modo equilibrado com o dinheiro público em um campo no qual uma alta taxa de fracasso é inevitável e até mesmo desejável.

Por fim, a Computação Quântica dependeu do trabalho de centenas de homens e mulheres de muito valor, que dedicaram parte importante de suas vidas ao avanço da ciência, muito antes do produto que irá utilizá-la. Isso é um sinal eloquente de que a inovação radical precisa de muitas pessoas e não somente da liderança visionária, mesmo que de gênios tais como Jobs, Gates ou Dumont.

Luís Guedes é professor da FIA Business School