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Tudo pelos empresários!

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Carlos José Marques: "Além do PAC, no entanto, há também um acordo bilionário entre o Mercosul e União Europeia, em vias finalmente de acontecer, e que poderá trazer ânimo redobrado ao PIB" (Crédito: Istock)

Por Carlos José Marques

O governo acaba de abrir uma temporada de acenos em forma de agrados ao setor produtivo brasileiro, animado que está com a ideia de retomar o crescimento econômico do País por essa via. Lula em pessoa está agora convencido de que não vai conseguir entregar a pretendida bonança sem o suporte e engajamento do mercado e parte para conquistá-lo como aliado.

O passo mais significativo nessa direção, segundo avaliação da própria equipe, é a volta do PAC. Em bases diferentes, diga-se de passagem. O tal Programa de Aceleração do Crescimento já foi tentado lá atrás, sem muito êxito, repleto de promessas mais populistas do que qualquer outra coisa.

Desta feita, está sendo alinhavado no Ministério do Planejamento como grande bandeira encampada pela titular da pasta, Simone Tebet, em um formato diferente. O que pretende a ministra? Destravar, fundamentalmente, investimentos em infraestrutura e logística. A prioridade será no campo das energias renováveis.

Haverá também um foco adicional na área da mobilidade urbana, saneamento, prevenção de desastres e financiamento habitacional. São esforços para setores realmente sensíveis e que estão a necessitar — faz tempo — de atenção. Nas palavras do presidente Lula, que desvendou parte do programa a uma plateia internacional durante a sua passagem pelo encontro de líderes em Bruxelas, dias atrás, o objetivo maior é o de promover “a modernização da infraestrutura” que ficou abandonada.

Além do PAC, no entanto, há também um acordo bilionário entre o Mercosul e União Europeia, em vias finalmente de acontecer, e que poderá trazer ânimo redobrado ao PIB. Lula tem essa consciência e trabalha atualmente para que a proposta de parceria seja selada antes do final do ano. “Queremos abrir horizontes com um acordo que preserve a capacidade das partes de responder aos desafios presentes e futuros.”

O recado sobre os termos do entendimento parte do princípio, estabelecido pelo governo brasileiro, de garantir vantagens especiais aos empresários locais. Mais uma vez, Lula procura aqui acenar com agrados a um público que lhe interessa na missão maior de promover o desenvolvimento interno. Tem mais: o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, foi orientado a elaborar a toque de caixa um projeto com mudanças na folha de pagamentos.

Serão medidas que, de um lado, contemplem maior geração de empregos e, de outro, desafoguem ainda mais o peso tributário desses senhores do capital. Os incentivos estarão condicionados à multiplicação de vagas no mercado de trabalho. O ministro está conversando pessoalmente com os empresários para definir como fazer isso. Quer ouvi-los sobre sugestões. Espera, na prática, angariar o maior número possível de aliados do PIB para as hostes de Lula.

O movimento é calculado. Assim como foi feito com a volta do Conselhão, que reuniu um amplo leque de empreendedores para auxiliar o mandatário em questões diversas de discussão sobre alternativas para a economia. Os acenos irão ainda seguir, como no programa de descontos de carros populares, que deu algum fôlego a essa indústria, e através da proposta em estudo de desconto na área de eletrodomésticos (também com o mesmo intuito).

Entra no pacote a disponibilização de mais de R$ 200 milhões, via BNDES, para a cadeia de carros híbridos e ônibus elétricos. São, decerto, agrados que não acabam mais. Bom que se diga: a fase de lua de mel com a produção é recente, vem no rastro, quase decorrente, do impasse criado lá no início da gestão do demiurgo de Garanhuns, quando as críticas e queixas da Faria Lima foram se avolumando. Em seis meses, Lula virou a chave e tenta o retorno ao antigo figurino do “Lulinha, paz e amor”.

 

Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três