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Renault aposta no Metaverso

Em meio à queda nas vendas e à suspensão de contratos, montadora francesa anuncia R$ 2 bilhões de investimento no Brasil até 2025

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Tecnologia e inovação estão presentes em praticamente todos os processos da Renault no Complexo Ayrton Senna, no Paraná (Crédito: Divulgação)

Por Angelo Verotti

O mercado automotivo brasileiro roda em compasso de espera diante da queda nas vendas na temporada. Redução e até paralisação de turnos de produção, férias coletivas e suspensão de contratos de trabalho se tornaram rotina no dia a dia das montadoras. A situação não foi diferente na Renault, que neste mês anunciou o layoff (suspensão temporária de contratos ou redução de jornada) para 1 mil colaboradores da planta em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.

O período desafiador coincide com as celebrações pelo 25º aniversário do parque fabril no Paraná, chamado como Metaverso Industrial, um polo de tecnologias e destino de parte do investimento de R$ 2 bilhões projetado pela montadora francesa no Brasil até 2025.

“O tema tecnologia e inovação fez parte do nosso DNA desde o início”, afirmou à DINHEIRO Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil.

A estratégia para o desenvolvimento das linhas de produção no Complexo Ayrton Senna inclui a aplicação de:
* inteligência artificial,
* gêmeo digital,
* máquinas e postos de trabalho conectados,
* coletas de dados em massa,
* impressão 3D,
*além dos AGVs, veículos guiados automaticamente que transportam as peças entre as quatro unidades do espaço — motores, veículos de passeio, comerciais e de injeção de alumínio.

“Fomos a primeira unidade da Renault no mundo e a primeira no Brasil a adotar a pintura à base de água”, afirmou o executivo, ao ressaltar que a adoção de tecnologias avançadas não só torna o processo produtivo de um veículo mais eficiente, com o controle em tempo real de todas as etapas da fabricação, como melhora a qualidade final dos produtos.

Nova Plataforma

O portfólio da marca é amplo. Além de produzir no local os veículos Kwid, Sandero, Duster, Captur, Logan, Stepway, Master e Oroch, a Renault trabalha em um sistema híbrido flex para o mercado nacional.

O modelo será o segundo feito sobre a plataforma modular CMF-B, tendo em vista que a montadora deve apresentar neste semestre um novo SUV compacto turbo flex. “A nova plataforma nos permite ter veículos térmicos e eletrificados”, disse.

Os veículos eletrificados, mais precisamente os 100% elétricos, são o futuro no Brasil e no mundo, de acordo com Gondo. Mas a discussão passa por dois termos: o primeiro é saber a quanto tempo corresponde esse futuro. “Pode ser amanhã, daqui a cinco, dez, 20 ou 30 anos.” E, segundo, é saber como será feita a transição para chegar aos modelos puros, o que envolve antes a comercialização de unidades híbridas, por exemplo.

“Vai ser longa essa transição. Além disso, no Brasil temos algo que o resto do mundo não tem: o etanol. Então, a gente vai ter o veículo híbrido flex.” Atualmente, a Renault já disponibiliza aos clientes os eletrificados Kwid E-Tech, Zoe E-Tech, Kangoo E-Tech, Megane E-Tech e Master E-Tech.

O presidente acredita no crescimento do segmento de eletrificados no País. Afirmou ainda que os preços dos carros elétricos e térmicos vão ter uma curva que vai se encontrar a partir de 2028.

“O que vai acontecer é que os veículos elétricos vão ficar mais baratos em função da escala. Por outro lado, os veículos térmicos vão ficar mais caros em razão de vários equipamentos que a Renault tem que colocar no carro para continuar a reduzir as emissões.”
Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil.

Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil (Crédito:Divulgação)

A aposta da marca nos veículos eletrificados ficou evidente na quarta-feira (26) com o anúncio de investimento de US$ 663 milhões da Nissan na Ampere, divisão especializada em elétricos da Renault.

O montante será utilizado em pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de produzir modelos que estejam em linha com a meta sustentável da fabricante japonesa. Nissan e Renault são parceiras na Aliança desde 1999. Em 2016, a Nissan assumiu o controle da Mitsubishi, que passou a integrar o grupo.

“Fomos a primeira unidade da Renault no mundo e a primeira no Brasil a adotar a pintura à base de água, ou seja, sem a utilização de solventes” Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil

O acordo prevê ainda projetos operacionais de alta geração de valor na América Latina, Índia e Europa. Com duas fábricas das montadoras, o Brasil continuará a ser o principal polo de produção local.

“Esses acordos nos fornecem uma base sólida para reativar as operações de negócios em todo o mundo nos principais mercados, com o potencial de gerar centenas de milhões em valor para Renault, Nissan, Mitsubishi e outras partes interessadas”, disse Luca de Meo, CEO da Renault.