O mar não está pra peixe: hora de um pit stop?
Por César Souza
Os esperançosos sinais de melhoria no cenário macroeconômico – inflação em queda, câmbio controlado e sinalização de baixa nas taxas de juros –, não têm sido suficientes para atenuar a aflição de vários líderes no universo corporativo. Indicadores de faturamento abaixo do desejado, rentabilidade decepcionante e alto grau de endividamento têm tirado o sono de inúmeros acionistas e dirigentes empresariais.
De modo geral as empresas tradicionais andam engessadas em modelos e práticas gerenciais ainda presas a princípios da Era Industrial, com dogmas e paradigmas que precisam ser questionados e reinventados. A maioria continua sendo dirigida pelo olhar no espelho retrovisor. Como consequência, estratégias mal conseguem sair do papel e raramente funcionam quando começam a ser implementadas. E negócios que pensávamos serem sólidos têm sido destruídos da noite para o dia, devido a soluções disruptivas que desafiam os modelos que foram construídos com um prazo de validade já visível.
Mesmo as empresas que apresentam resultados positivos, salvo algumas exceções em setores específicos, navegam em um patamar de ‘subdesempenho satisfatório’ e vivem atormentadas por sintomas causados por alguns destes fatores:
– Clientes que indicam relevante grau de insatisfação, com expectativas frustradas devido à baixa qualidade do atendimento na ‘hora da verdade’, quando compram ou usam produtos e serviços amplamente anunciados;
– Novos hábitos de consumidores que estão migrando de uma filosofia da propriedade de bens para uma prática de acesso e uso, preferindo ser asset light e evitando imobilização do seu patrimônio. Ou seja, em vez de comprar produtos e serviços desejam apenas ‘alugar’ o direito de usá-los. O que exige ajustes grandes nos antigos modelos de negócio;
As empresas tradicionais andam engessadas em modelos e práticas gerenciais ainda presas a princípios da Era Industrial, com dogmas e paradigmas que precisam ser questionados e reinventados
– Profissionais infelizes por não conseguirem desenvolver seu potencial. Sentem falta de significado no dia a dia do trabalho em suas vidas. Pessoas que passaram a demandar um modelo de trabalho muito mais híbrido, exigindo pelo menos parcialmente o home office, que foi experimentado forçosamente durante a pandemia;
– Parceiros e sócios desconfiados, negociando na base dos medos e receios.
– Acionistas apreensivos pelos riscos que não conseguem antever nem controlar.
– Comunidades que não aceitam mais de forma passiva o impacto das empresas no seu cotidiano, no ambiente e na sociedade, engrossando o caldo do que se convencionou chamar de ESG.
Para agravar a situação, váras empresas contabilizam significativa fuga de talentos por insistirem nos tradicionais planos de carreira, na desbotada ideia da escalada de vários degraus até chegar ao topo, enquanto os jovens têm pressa e preferem subir bem mais rápido. Muitos têm preferido declinar dessas ofertas que foram úteis no passado e movem‑se numa velocidade proporcional ao seu talento, por não se identificarem com o propósito nem com os valores da empresa. Constituem o que pode ser chamado de ‘ciganos empresariais’.
Momentos de dúvidas e incertezas geram a necessidade de uma reflexão mais profunda. Chegou a hora de um breve pit stop visando aprofundar, alinhar uma visão compartilhada – entre acionistas, membros do Conselho de Administração e dirigentes das empresas – sobre os desafios que os aflige, as prioridades para a construção do futuro e, assim, aumentar as chances de sucesso na corrida pela sobrevivência.
César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda