Aviação executiva cresce impulsionada por compartilhamento e agronegócio
Em seu melhor momento no País, setor apresenta as principais novidades em produtos e serviços na Labace, feira de negócios que reuniu em São Paulo mais de 100 expositores e 40 aeronaves
Por Lara Sant’Anna
Ainda é para poucos, mas cada vez para mais pessoas. Essa é a realidade da aviação executiva. Desde a pandemia, o setor vive em ritmo de crescimento tão acelerado que a espera pela entrega de um novo avião ultrapassa dois anos. Isso porque, mesmo com os preços nas alturas, o que antes era encarado com luxo se tornou uma necessidade. Seguindo a máxima segundo a qual tempo é dinheiro, ter ou alugar um jatinho representa o acesso a uma ferramenta de trabalho que aumenta a produtividade e os lucros. Além de economizar horas de locomoção, um avião particular permite ir a mais lugares com maior conforto e privacidade — algo que faz toda diferença no mundo dos negócios.
Uma prova de o quanto essa demanda está aquecida pôde ser verificada na semana passada, entre os dias 8 e 10, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que sediou a 18ª edição da Labace, uma das principais feiras de aviação de negócios da América Latina.
Organizada pela Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), ao longo dos três dias de evento foram mais de 100 expositores e 40 aeronaves dos mais diversos tipos e tamanhos. No radar dos visitantes, as novidades e tendências em tecnologia, design e usabilidade dos equipamentos.
Segundo especialistas, o bom momento da aviação executiva no Brasil se deve a fatores que têm origem alheios ao segmento, caso da baixa capilaridade da aviação comercial e do crescimento do agronegócio, que exige deslocamentos para destinos que demandam longos períodos em estradas nem sempre confiáveis ou seguras.
Também ajuda o setor a regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre o compartilhamento de aeronaves.
Segundo o gerente técnico da Abag, Raul Marinho Gregorin, esse foi um dos impulsionadores do mercado nos Estados Unidos, hoje o maior do mundo, e coloca grandes expectativas para o Brasil.
Exemplo disso é a Avantto, que atua no mercado de aeronaves executivas há 12 anos e está mais otimista que nunca. A empresa, que possui mais de 450 usuários ativos, anunciou na Labace a compra de 34 aviões turboélices modelo E1000GX, da Epic.
A entrega está prevista para os próximos cinco anos, com as primeiras unidades chegando ainda no final de 2023. Para o CEO da Avantto, Rogério Andrade, a grande vantagem do compartilhamento “é ter o avião sempre disponível, sem nenhuma dor de cabeça para operar”.
Segundo Andrade, a escolha levou em consideração a possibilidade de pouso em pistas curtas e não asfaltadas, como as de grama ou de terra.
Além disso, o modelo oferece uma performance bem superior a outros de preço similar, mas que ficam em categorias bem abaixo. Com capacidade para quatro passageiros e dois pilotos, voa à velocidade máxima de cruzeiro de 587 km/h. Cada aeronave será vendida em cinco frações, a US$ 1,1 milhão cada, e atenderá a abertura de bases operacionais da Avantto na Bahia, Mato Grosso e Goiás.
Ambulância
Quem também está aumentando a participação no interior do País é a SynerJet. A empresa é a distribuidora oficial da fabricante suíça Pilatus Aircraft no Brasil e inaugura em 23 de agosto um centro de suporte técnico em Goianápolis (GO).
As aeronaves Pilatus são muito procuradas como ambulância aérea e pelo agronegócio pela capacidade de pouso em pistas não pavimentadas e pelo tamanho e capacidade de carga.
São dois modelos de aeronaves: a Pilatus PC-12NGX, um turboélice monomotor com capacidade para até oito assentos e comercializada por US$ 6 milhões; e a PC-24 é um jato que se destaca pelo desempenho em pistas curtas e com configuração que também comporta até oito assentos. Alcançando velocidade máxima de cruzeiro de 815 km/h, ele é comercializado por US$ 13 milhões.
A Elite Aviação apresentou o Hondajet Elite II, um bom exemplo das novas tecnologias que integram as aeronaves, incluindo sistema de pouso automático de emergência.
Comercializada por US$ 6,9 milhões, a aeronave possui velocidade máxima de 782 km/h e capacidade para até seis passageiros. Segundo o diretor de vendas de aeronaves da Líder Aviação, Anderson Markiewicz, as características do jato visam os proprietários que também são pilotos, por isso ela emprega recursos que dão mais segurança à navegação.
Segundo o diretor comercial da Timbro, Philipe Figueiredo, outra tendência que se destaca no setor é o aumento na busca por aeronaves maiores, voltadas para viagens de longo alcance.
Com atuação no comércio exterior, a empresa tem observado ainda a redução do intervalo de troca dos aviões por parte dos clientes, o que se traduz em maior faturamento. Apenas no primeiro semestre de 2023, o aumento da receita Timbro foi de 80%, com 55% de alta no volume de importação de aeronaves na comparação com o mesmo período de 2022.
Turbulências
Mas nem tudo é céu de brigadeiro. No caminho do crescimento do setor no País há vários desafios, desde a estrutura dos aeroportos regionais até a reforma tributária, que pretende instituir a cobrança de IPVA para aeronaves e aumentar de 4% para 18% a alíquota de ICMS para as peças.
Segundo o executivo da Abag, Raul Marinho Gregorin, isso poderá gerar falta de itens de reposição e afetar a manutenção. Quanto ao IPVA, Gregorin defende a continuidade da isenção por entender que a aviação já paga diversas taxas que não estão incluídas no transporte terrestre.
“Para os automóveis, o IPVA foi uma conversão, mas para a aviação ele será um acréscimo”, afirmou.
Combustível sustentável
Na lista de desafios ainda há a sustentabilidade. Há tempos a sociedade discute alternativas de transporte com baixa emissão de carbono e que gere menos impacto ambiental, totalmente contrário ao que acontece na aviação executiva.
Nos Estados Unidos e Europa o uso de aeronaves particulares já vem sendo discutido mais intensamente.
Na França, uma das propostas é limitar o uso. Além disso, artistas e políticos são criticados nas redes sociais pelo uso dos jatos.
Para contornar as polêmicas e alcançar as metas de sustentabilidade, uma das principais apostas do setor é no uso do SAF, o combustível sustentável de aviação.
A Embraer é uma das grandes representantes nesta frente. A empresa fabrica o Phenom 300E, jato leve mais vendido do mundo, e tem investido em pesquisa para criar produtos movidos a energias alternativas.
Em junho, anunciou parceria com a Raízen para a produção de SAF. A fabricante brasileira pretende alcançar a neutralidade de carbono nas operações até 2040.