Negócios

Latam vira o jogo projeta lucro recorde em 2023

Com receita de US$ 2,6 bilhões e lucro de US$ 145 milhões no segundo trimestre, aérea revisa projeções para 2023, embalada por aumento da demanda e estabilização do preço do combustível e do dólar

Crédito: Claudio Gatti

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, destacou que a Latam voou 18% a mais em volume de passageiros no segundo trimestre versus o mesmo período de 2019, pré-pandemia (Crédito: Claudio Gatti)

Por Angelo Verotti

A Latam renasceu. Pouco mais de nove meses após sair do Chapter 11 nos Estados Unidos com um plano de reorganização de US$ 8 bilhões, a companhia aérea com sede no Chile e operações na América do Sul revisou as projeções para 2023. E para cima. O fato foi revelado por Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, a principal da bandeira, e tem como base os resultados do grupo no segundo trimestre. A receita chegou a US$ 2,67 bilhões, aumento de 20,2% na comparação anual, enquanto o lucro líquido atingiu US$ 145 milhões, resultado impulsionado pela melhor receita de passageiro e também menor custo de combustível — no balanço anual de 2022, havia registrado prejuízo de US$ 450 milhões. “Entregamos resultado sólido, melhoramos projeções, mantendo tendência positiva que vem sendo apresentada desde a entrada no Chapter 11”, afirmou o executivo.

O crescimento gradual dos negócios no pós-pandemia fez a empresa projetar Ebtida (lucro ajustado antes de juros, impostos, depreciação, amortização e custos de reestruturação ou aluguel) recorde em 2023: entre US$ 2,35 bilhões e US$ 2,5 bilhões (acima dos US$ 2 bilhões a US$ 2,2 bilhões estimados anteriormente).

A previsão de faturamento para a soma do ano também saltou. Passou de US$ 11,3 bilhões a US$ 11,6 bilhões, ante previsão inicial que girava entre US$ 11 bilhões a US$ 11,5 bilhões, de acordo com relatório trimestral da empresa.

Ramiro Alfonsin, diretor-financeiro da companhia, é otimista. “Estamos prevendo uma situação financeira muito melhor e uma lucratividade muito boa em 2023”, disse.

A Latam gerou US$ 110 milhões de caixa entre abril e junho, totalizando US$ 309 milhões nos primeiros seis meses. Além disso, a aérea manteve uma liquidez bruta na casa de US$ 2,6 bilhões.

“Entregamos resultado sólido, melhoramos projeções, mantendo tendência positiva apresentada desde a entrada no chapter 11”

A elevação das projeções se apoia no incremento do número de passageiros no Brasil. A companhia transportou 4,6 milhões de pessoas entre janeiro e junho, volume 46% superior na comparação anual. No segundo trimestre foram 2,2 milhões, número 33% superior ao de igual período de 2023.

Cadier comemora. “Voamos 18% a mais em volume de passageiros versus o mesmo período de 2019, pré-pandemia”, afirmou.

O desempenho crescente desde 2021 rendeu à empresa a liderança do mercado doméstico nacional, ainda mantida, com recuperação de 93% dos níveis de operação pré-Covid.

Já o grupo Latam transportou 34 milhões de passageiros nos seis meses do ano, alta de 20,3% sobre um ano antes. A Latam, que opera para 55 destinos no Brasil, expandiu a sua atuação a outros 13 no País em parceria com a VoePass, além de oferecer voos diretos para 21 países.

“Iniciamos operação Guarulhos-Los Angeles junto com a Delta e também anunciamos novo voo ou retomada do nosso destino para Joanesburgo, além de novos destinos em Havana e Cartagena”, disse o CEO da operação brasileira.

O aumento de destinos e da demanda, no entanto, não implica em queda nos preços das passagens, que subiram ao menos 40% entre 2020 e 2022, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

O incremento foi motivado pelo alta do preço do querosene de aviação no período, que, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), subiu 129% — agora está estável.

Apesar de visualizar tendência de redução dos preços das tarifas, Cadier não acredita que ocorra em curto prazo, tento em vista a persistência da volatilidade no valor cobrado pelo combustível e pelo dólar.

Frota

Ao mesmo tempo, diante do aumento da procura pelo transporte aéreo nas principais operações na América do Sul — as afiliadas na Colômbia, Chile, Peru e Equador registraram alta de 6,5% em ASKs (assentos-quilômetros disponíveis) no trimestre em relação ao ano anterior — a Latam amplia o número de aviões na frota.

A aérea fechou o primeiro semestre com 311 aviões, inclusive com os dedicados ao transporte de carga, que teve queda de 18% na receita, para US$ 733 milhões, no semestre na comparação anual.

O grupo tem encomenda de outros 82 aviões para receber até 2029 e deve encerrar o ano com 332 aeronaves, com previsão de somar 334 em 2024 e 2025.

Aeroporto Santos Dumont, no Rio, deve ter apenas pousos e partidas de e para Congonhas e Brasília a partir de outubro. Latam já transfere voos
para o Galeão (Crédito:Divulgação)

Santos Dumont

Em cumprimento à determinação do governo federal de que a partir de outubro o principal terminal aeroportuário carioca tenha apenas voos com partida e chegada para Congonhas (SP) e Brasília, a Latam iniciou redução de 30% do volume de operações no Santos Dumont e já transferiu alguns dos serviços ao Galeão.

A movimentação rumo ao aeroporto internacional situado na Ilha do Governador deve ser ampliada, mas isso depende de resoluções do governo estadual do Rio de Janeiro em relação ao ICMS do combustível de aviação.

Segundo Cadier, a Latam já adicionou a capacidade ao Galeão, que tem mais de 150 voos semanais da companhia, e pretende ampliar a oferta “quando tivermos clareza na estratégia do governo fluminense”.

Na opinião do executivo, as restrições no aumento da oferta de voos deve atingir também Congonhas e GRU, em Guarulhos. “Congonhas vai passar por reforma em seu terminal até 2026. Aí poderá ser considerado um aumento de slots [horários de partidas e chegadas de voos]. Em Guarulhos há possibilidade pontual de alguns aumentos à medida em que se melhora a distribuição de trânsito terrestre, com a construção de saídas rápidas na pista.”

Balanço

O momento vivido pela Latam não surpreende Ricardo Fenelon, ex-diretor da ANAC. O especialista em aviação destaca a estratégia adotada pelo grupo de apelar ao Chapter 11 [no início da pandemia, em 2020]. “A companhia saiu do processo muito mais eficiente, com uma estrutura de custos menor e uma posição de caixa robusta”, afirmou ele, ao citar também o caso da Delta, que entrou em recuperação judicial entre 2005 e 2007 e, hoje, é uma das empresas com maior valor de mercado do mundo.

Fenelon, que é sócio da Fenelon Barreto e Rost Advogados, disse que a Latam saiu do Chapter 11 bem posicionada para a retomada no pós-pandemia. E que os números do semestre comprovam isso. “É exatamente o que está acontecendo. Com o aumento significativo da demanda e a queda no preço dos combustíveis, é possível estimar resultados ainda mais positivos para o ano” .