Por trás dos algoritmos
Por Norberto Zaiet
Analistas fundamentalistas, como eu, consideram preços de mercado variáveis sobre as quais não temos controle. Dependendo do humor, o mercado pode determinar preços abaixo, no mesmo nível ou mais altos que o valor intrínseco de um ativo, ou seja, aquele que reflete o potencial de geração de lucros e caixa de uma companhia.
Do outro lado estão os grafistas. Para eles, o preço dos ativos tem significado e refletem uma verdade fundamental: os movimentos, para cima ou para baixo, são a ação coletiva dos agentes. Ao final do dia, portanto, um ativo vale aquilo que alguém queira pagar por ele.
Na última década, ficou cada vez mais difícil ser um investidor fundamentalista ignorando os fatores técnicos por trás do preço. Se um value investor acredita que o preço de uma ação está barato, nada na sua análise o ajuda a perceber que o barato de hoje pode ficar ainda mais barato amanhã. E iniciar uma posição a um preço para depois vê-lo substancialmente mais baixo em um curto espaço de tempo é receita certa para tomar decisões erradas.
Na última década houve uma proliferação considerável de algoritmos operando nos mercados. São robôs que agem de maneira programada e concentram uma enorme liquidez. Boa parte dessas operações acontecem nos ‘dark pools’ dos grandes formadores de mercado, fora dos olhos das bolsas de valores. Isso torna o investidor que não conhece esses fluxos ainda mais ignorante em relação à dinâmica dos preços.
Um dos maiores players nesse mercado é a Citadel Securities. Seu poder é impressionante: 22% do volume negociado no mercado de ações americano passa por sua plataforma. Não, você não leu errado: o pessoal da Citadel conhece o fluxo de ordens de compra e venda de quase um quarto do mercado acionário americano, um privilégio digno dos monopólios do início do século passado. Esse nível de informação, obtido de maneira legítima, deixaria Gordon Gekko com inveja.
Em depoimento ao congresso norte-americano em 2021, Ken Griffin, o bilionário CEO da Citadel, declarou: “Hoje, virtualmente todas as transações executadas por investidores institucionais são transações programáveis, como VWAP e outras operações algorítmicas”. Os congressistas não devem ter entendido muita coisa. Entretanto, Griffin deu a chave para que se possa saber minimamente o que acontece por trás dos algoritmos. Ela se chama VWAP, ou Volume Weighted Average Price (Preço Médio Ponderado pelo Volume).
Na última década houve uma proliferação considerável de algoritmos operando
nos mercados. São robôs que agem de maneira programada e concentram uma enorme liquidez
Boa parte dos algoritmos de execução de operações são programados para transacionar lotes de ações de empresas em determinados períodos, utilizando o VWAP como referência. Assim, se um investidor institucional quiser comprar um lote significativo de uma ação em um determinado período, o algoritmo vai trabalhar para comprar esse lote abaixo do preço médio ponderado pelo volume negociado durante aquele período. O mesmo racional funciona, inversamente, para a venda. Isso tudo faz com que o VWAP seja um preço que revela muito mais do que os tradicionais níveis de suporte e resistência utilizados pelos grafistas. Preços negociados acima do VWAP significam que os comprados estão no controle do mercado. Da mesma forma, quando ocorre o contrário, preços de mercado abaixo do VWAP sinalizam que os vendidos estão no controle.
Parece incrível que uma simples média ponderada revele tanto. Entretanto, a arte não está no cálculo da média em si, mas sim em determinar qual é o período relevante. Para quem quiser se aprofundar, vale a pena ler os textos de Brian Shannon, da Alphatrends, sobre o tema. É impossível saber com certeza a hora certa de entrar ou sair de um ativo. Hoje, porém, há uma referência que ajuda muito – essa referência é o VWAP.
Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York