Coluna

SELIC: O recado (nem tão) sutil do BC ao governo

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Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Crédito: Divulgação)

Por Edson Rossi

Com a ata do Copom, divulgada na terça-feira (8), há um tanto de sutilezas e até mesmo ironias entre os mundos político e econômico. O documento detalha os cenários e os motivos que levaram à redução de 0,50 ponto percentual da Selic. Mais. Há o compromisso de outros cortes “da mesma magnitude nas próximas reuniões”. Como há outras três até dezembro, a taxa básica de juros deve encerrar dezembro em 11,75%. Abaixo do que previa o Focus da segunda-feira (31 de julho) anterior à reunião do Copom. Na ata é possível ver os pontos de preocupação. No âmbito internacional, cita um ambiente ainda incerto. No âmbito interno, a “inflação ao consumidor segue dinâmica mais benigna”. Mas o recado mais relevante da ata está em seu item 23. Desde o estabelecimento do regime de metas inflacionárias, em 1999, em apenas 15% reuniões do Copom não houve unanimidade na decisão sobre a Selic. Esta foi uma delas. Quatro diretores preferiram uma redução de 0,25 – como previa a maioria do mercado. Os outros quatro diretores, incluindo a dupla recém-empossada no governo Lula, defendiam o corte de 0,50. O voto de minerva para a opção mais agressiva foi justamente do presidente do BC, Roberto Campos Neto. Nesse gesto, ele jogou no colo de Lula III fazer a economia tracionar. Não há mais desculpa. Porque apesar de ainda elevada a Selic embicou para baixo. Em suma, a política monetária está azeitada. Já a fiscal segue sob Arthur Lira. Em março, o presidente havia declarado que prefere um “político competente que um técnico”. Sem dizer palavra alguma, Campos Neto respondeu que “nada supera um técnico competente que sabe ser político na hora certa”.

Relator do Orçamento

“Governo vai ter de rever meta fiscal”

Para o deputado federal Danilo Forte (União Brasil-CE), relator do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, inevitavelmente o governo Lula III vai ter de mudar a meta fiscal do ano que vem. “Zerar o déficit será um desafio muito grande”, afirmou Forte em entrevista à Folha de S.Paulo veiculada na quarta-feira (8). “A não ser que o governo abra mão dos seus programas não tem de onde tirar tanto dinheiro.” O déficit zero é obsessão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Cerco policial

Cresce capivara do legado bolsonarista

Não para de aumentar a capivara da turma ligada ao lúmpen-ex-presidente Jair Bolsonaro. Na segunda-feira (7), foi noticiado que a CPI do 8 de Janeiro teve acesso a mais de 17,3 mil emails de ex-ajudantes de ordens de Bolsonaro. Os caras até tentaram apagar tudo. Só se esqueceram de entrar na Lixeira do correio eletrônico e deletar as conversas definitivamente. Resultado: farto material contra todos chegou à CPI. Entre os já identificados estão a tentativa do encrencado e preso militar Mauro Cid de vender por US$ 60 mil um Rolex que, segundo as mensagens, teria recebido em viagem oficial. Há ainda mensagens sobre pedras preciosas recebidas por Bolsonaro. Como se fosse pouco, na quarta-feira (9), a Polícia Federal (PF) prendeu Silvinei Vasques. Ele era o principal nome da Polícia Rodoviária Federal no governo anterior. Foi detido por suspeita de fazer sua corporação tentar interferir nos resultados das eleições. Vasques teve a brilhante ideia, de acordo com as suspeitas, de mandar fazer bloqueios e blitze em vias e estradas no Nordeste. Sua intenção era impedir que eleitores de Lula conseguissem chegar aos locais de votação. No dia do segundo turno, ele postou apoio ao ex-presidente, escrevendo “vote 22, Bolsonaro presidente”. Depois, deletou a postagem.

“Você não pode tomar decisões políticas baseadas em evidências sem as evidências.”
Richard Thaler (1945)
Americano, prêmio Nobel de Economia de 2017

Internacional

China em deflação

Notícia nada boa para a China. Consequentemente, para o planeta. O país teve deflação em julho (-0,3%) em relação a julho de 2022. Havia dois anos que o índice de preços ao consumidor não ficava negativo (desde fevereiro de 2021). O indicador de preços industriais também caiu, e ainda mais: -4,4%. Foi a décima queda consecutiva, mas a primeira vez desde novembro de 2020 que os preços ao consumidor e ao produtor caíram no mesmo mês. Pequim já havia adotado medidas de expansão monetária e pacotes específicos ao mercado imobiliário, mas elas ainda não fizeram efeito. Analistas acreditam que o governo agora vai lançar planos mais robustos para estimular os gastos do consumidor. Na China, a meta de inflação deste ano é de cerca de 3% (contra cerca de 2% do ano passado).

Rebelião à mineira

Zema quer frente Antinorte-Nordeste

(Divulgação)

Romeu Zema deu novas mostras de quem é e do que pensa. Para ele, está mais do que na hora de privilegiar Sul e Sudeste. Em entrevista veiculada sábado (5) pelo jornal O Estado de S.Paulo, o governador mineiro diz querer a união de estados do Sul e Sudeste e mandou papo reto:

“Já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, queremos o que nunca tivemos, protagonismo político. Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população, se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília e nós, que representamos 56% dos brasileiros, ficamos cada um por si, perdemos”.

Essa é a narrativa que começa a construir como potencial líder da direita brasileira e quiçá candidato a presidente em 2026. E sua fala nem foi novidade. Em junho ele já havia sido ainda mais contundente. Numa reunião do tal Conselho Sul-Sudeste, o Cosud (criado em Belo Horizonte há quatro anos), afirmou que nos sete estados contemplados em tal entidade, “há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio-emergencial”. Políticos e governadores criticaram as declarações de Zema. O também mineiro Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, afirmou na terça-feira (8) que Zema foi infeliz. Não, foi ignorante mesmo. O único governador que tentou contemporizar as declarações feitas sábado foi o gaúcho Eduardo Leite.

Correção

Na edição 1336 da DINHEIRO, na entrevista com a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes, foi publicado incorretamente o número de brasileiros que chega ao 9º ano de ensino sabendo princípios de matemática: o correto é 15%. A informação foi corrigida no site.