Invight, a startup financeira que quer revolucionar o sistema por meio de conteúdo
Rede social de investimentos e educação financeira, Invight conecta investidores, influenciadores e corretoras
Por Edson Rossi
Existe uma lógica totalmente distinta na modelagem de negócios entre uma empresa que nasce voltada para a inovação e uma corporação convencional. No primeiro caso, não há tanto problema de abraçar arquiteturas que rasgam os manuais clássicos de administração e marketing. Chamamos de startups a maioria. Algumas poucas eu chamaria de Post-Gen-Z-Companies. Invight é uma delas. A plataforma conecta o usuário final (investidores), influenciadores financeiros e corretoras. Uma rede social lastreada em vídeos e focada em investimentos e educação financeira. “O Invight é uma forma de escalar [esse ecossistema] através de conteúdo. A gente se vê como Research as a Service (RaaS)”, afirmou à DINHEIRO Pedro Cespi, o head da operação. Pedro tem 27 anos. O Invight tem 1.
O universo dos influenciadores que falam de finanças deu um salto. Pesquisa da americana Emplifi (especializada em redes sociais e sistemas de experiências do cliente) mostra que entre janeiro e agosto do ano passado o número de pessoas que seguem todos os tipos de influenciadores dentro do YouTube cresceu em média quase 4%.
No caso daqueles que tratam de temas relacionados a investimentos, a alta ficou perto de 8%. O dobro. Além disso, os influenciadores financeiros publicaram cinco vezes mais vídeos que os demais.
No Instagram, a performance também foi semelhante. O número de postagens do primeiro grupo foi o dobro em relação àqueles que tratam de outros temas, incluindo áreas potentes em audiência, como beleza & moda.
No Brasil não é nada diferente. Tanto que a Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) passou a realizar, há três anos, uma pesquisa para acompanhar de perto o nicho.
Na mais recente edição do relatório F-Influence foram mapeados 515 influenciadores, com 1.257 perfis em quatro redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter-X e YouTube). Juntos, eles têm 165,6 milhões de seguidores. Por mais que não sejam usuários únicos, é uma massa nada desprezível.
Então, por que razão se aventurar numa seara tão concorrida e lotada de players? Justamente porque ela está lotada de players. O head de Marketing da empresa, Hugo Neto, diz que a “missão do app é democratizar os investimentos”. E ao reunir num único sítio o maior número de criadores de conteúdo, o app cria um hub qualificado.
O benchmarking da plataforma não veio necessariamente de similares de fora do País. Cespi diz que a ideia surgiu olhando para outras indústrias, e para o que elas estavam fazendo.
A resposta foi parar na China. “Em termos de aplicativo, eles estão muito na frente.” Cespi se refere aos chamados superapps, “em que você vê vídeo, vê filme, compra miojo e paga a conta de luz”.
No caso do Invight, a fórmula nasce conectando três camadas, um modelo A+B+C. Inicialmente pluga o investidor (A) por meio dos conteúdos gerados pelos influenciadores (B). O elemento C são as corretoras. “Esse investidor está lá, gostou do conteúdo, quer investir… Não precisa nem sair da plataforma.”
E a grana?
Esse é o ponto difícil de ser assimilado numa corporação convencional. É preciso — desculpem o uso de palavra tão desgastada, mas igualmente tão precisa — ser disruptivo: eles ainda não definiram como vão ganhar dinheiro.
Só sabem que as receitas precisam estar em fluxo até o fim de 2024. Cespi diz que o objetivo atual nem é aumentar a base de usuários, que já ultrapassa 100 mil downloads (tanto usuários quanto criadores de conteúdo têm perfis semelhantes: 80% homens, 20% mulheres, majoritariamente entre 25 e 45 anos). “Neste momento, nosso foco é saber como essa dinâmica funciona da melhor forma. Como qualquer startup, você começa aprendendo.”
Uma postura indefectível. Só entendendo os usuários será possível entender o modelo de negócio. Os caminhos eventuais são três.
1) O primeiro é por meio dos criadores de conteúdo, com o app gerando leads. Isso ocorreria porque os níveis de dados e análise desses dados seriam muito qualificados. “Quem tem essas informações hoje? Big techs (Apple, Google, Meta)”, afirmou Cespi.
2) O segundo caminho está num fee a partir do fluxo gerado para as corretoras. Ou mesmo para instituições financeiras tradicionais — “que ainda não souberam captar muito bem como conversar com os novos públicos [de investidores]”.
3) O terceiro é vender cursos, infoprodutos, consultorias. Pode haver um quarto, por meio de publicidade. Enfim, uma jornada em construção.
O app nasce de uma ideia de dentro do BTG, e pertence ainda 100% ao banco, apesar de não estar sob o guarda-chuva de produtos da instituição.
Surgiu com a vocação de ganhar vida fora. Um filhote de unicórnio, por assim dizer. Tanto que se pretende agnóstico. Pergunto por qual motivo um Santander, por exemplo, se juntaria à plataforma? “A gente vê uma oportunidade de conectar um Santander com os clientes deles e potenciais clientes. Um ambiente para captarem e se relacionarem.”
Cespi acredita que muito do mundo dos investimentos foca só na venda, mas ignora o pós-venda, que surge por meio de conteúdos e relacionamento. O Invight quer transformar totalmente esse jogo.