Como o país fica sem rotativo?

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Carlos José Marques: "O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconhece que o fim do parcelamento sem juros pode trazer consequências graves para toda a cadeia comercial e de serviços" (Crédito: Divulgação)

Por Carlos José Marques

Está em curso uma mudança e tanto no campo do crédito e diz respeito ao fim do rotativo nos cartões, medida sugerida dias atrás pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ela de fato encontra-se em estudo pela equipe econômica e a revelação caiu como uma bomba no setor. Associações varejistas chegaram a apontar que a eliminação do rotativo pode vir a acabar também com o parcelamento sem juros — com impactos ainda imensuráveis no consumo. Não há como os bancos compensarem a perda de receita gerada pelos juros aplicados sobre os inadimplentes e, assim, a tarifa cobrada nas transações parceladas tende a subir. Hoje, a taxa de juros do rotativo supera os 400% ao ano. É decerto um despropósito e precisa de uma solução, mas a forma como o governo tem buscado uma saída é das mais polêmicas. O petardo lançado por Campos durante audiência pública no Senado visa atenuar o drama do endividamento do brasileiro. Para ele, o juro parcelado é uma espécie de muleta que até ajuda o comércio, criando, todavia, em contrapartida, a dependência dos usuários. Para reforçar a tese, ele lembra que o número de cartões em mãos dos brasileiros mais que dobrou nos últimos anos, provocando um incremento de 52% na inadimplência. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconhece que o fim do parcelamento sem juros pode trazer consequências graves para toda a cadeia comercial e de serviços por se tratar de um instrumento vital na atração dos compradores. O Brasil é um dos poucos países no mundo que adota a venda parcelada sem juros. Na Europa e nos EUA a alternativa inexiste. Por outro lado, o padrão de cobrança do rotativo atingiu níveis insuportáveis. “Temos que proteger quem está caindo no rotativo, muito embora o padrão de compra do brasileiro seja esse do parcelamento”, alega Haddad. Não é uma equação com solução fácil, muito menos exata. Campos chegou a sugerir a criação de uma tarifa fixa. Nas discussões com a própria equipe técnica do BC o modelo é visto com ressalvas. Há uma promessa dos auxiliares técnicos do governo de que a saída será apresentada em um prazo de até 90 dias. Bancos têm sido favoráveis à saída proposta por Campos, com uma tarifa no parcelamento sem juros. Há outras soluções postas à mesa, como a que considera o tipo de bem a ser adquirido (durável, semi ou não durável), com prazos distintos caso a caso. A associação de cartões Abecs alerta para o perigo de saídas tomadas abruptamente numa área estratégica de operação dos negócios. Hoje, lembra, 75% da população faz uso do crédito parcelado e um erro de intervenção nesse hábito será capaz de gerar enormes prejuízos. A federação dos bancos, Febraban, por sua vez, alega que não há qualquer pretensão em acabar com as compras parceladas. Seriam apenas alternativas em estudo para abrandar o grau de endividamento nacional e, por conseguinte, a inadimplência, sem rupturas. É fato. A busca do reequilíbrio econômico, dos custos operacionais e dos riscos de crédito passa por uma virada de modelo. Desde sempre, há algo de muito errado nos juros escorchantes praticados no País.