Estilo

O antigo que renova: como Danemberg garimpa objetos na Europa e restaura no Brasil

Há mais de 40 anos no ofício que herdou do pai, Arnaldo Danemberg conecta o mobiliário da França com sua clientela brasileira e transmite o amor pelas peças antigas também aos filhos

Crédito: Divulgação

Arnaldo Danemberg: garimpo no mundo todo, de peças que têm e contam história (Crédito: Divulgação)

Por Celso Masson

Quem visita o antiquário Arnaldo Danemberg Collection, instalado em um casarão da Rua Groenlândia, em São Paulo, não imagina o que o elegante proprietário faz para garimpar as peças ali expostas. Aos 66 anos, ele ainda roda cidades da França e de outros países da Europa em um caminhão no qual carrega o que encontra de melhor em feiras, leilões e residências particulares. Trazer as peças para o Brasil, porém, não encerra o ciclo de trabalho desse especialista em mobiliário dos séculos 18 e 19. Em sua oficina no Rio de Janeiro, uma equipe de 16 pessoas, entre artesãos e um historiador, dá nova vida a cada item a partir de um minucioso trabalho de restauração, polimento e lustração.

E mesmo esse processo não é o último. Depois de garimpar, transportar e restaurar, é preciso vender as peças que podem chegar a R$ 700 mil. “Minhas insígnias são meu trabalho. Por meio do empreendedorismo e do amor pelo que faço eu consegui estabelecer um ótimo relacionamento com arquitetos e clientes”, afirmou Danemberg à DINHEIRO.

“Você restaura respeitando tudo o que o móvel representa, o que passou por ele e o que ele passou. A partir daí, irá contar outra história, em outro lugar.”
Arnaldo Danemberg antiquário

Curiosamente, essa paixão pelo mobiliário, iniciada ainda na infância, ficou em segundo plano quando Arnaldo Danemberg escolheu estudar Direito e seguira a carreira de advogado.

Depois da formatura, foi trabalhar no escritório Pinheiro Neto, um dos maiores do País, e só depois abraçou o ofício que já era do pai. Foi quando conheceu Tilde Canti (1906-1984), principal referência do mobiliário brasileiro.

Ela introduziu Danemberg no universo do antiquariato e despertou seu olhar para um estilo bastante específico de móveis, com design limpo, cores claras (o mel é o tom predominante) e sem grandes adornos. Peças que fizeram parte da história de famílias por gerações e que podem durar indefinidamente.

“Você restaura respeitando tudo o que o móvel representa, o que passou por ele e o que ele passou. A partir daí, irá contar outra história, em outro lugar”, disse o antiquário, que transmitiu para os filhos o interesse pelo labor.

Paloma com um baú em madeira feito no século passado na França, para guarda e transporte de material científico. R$ 14.800 (Crédito:Divulgação)

Cada um à sua maneira, ambos estão dando continuidade aos passos do pai e do avô. “Eles sempre me acompanharam. O André tem uma linha acadêmica muito forte por conta da formação em História. A Paloma é mais inventiva”, afirmou Danemberg.

Enquanto o filho trabalha com o pai no showroom da Rua Groenlândia, a filha está à frente do AD.Studio, loja de móveis e objetos antigos fundada em 2016, originalmente no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro.

Sua proposta é de desmistificar a cultura do antiquariato para as novas gerações. Além de ser uma expert em garimpar peças únicas, ela se especializou em upcycling, propondo novos usos aos móveis de seu acervo. O conhecimento foi adquirido na prática, em viagens com o pai nas quais percorre em média 15 cidades e vilarejos do interior do Europa. Detalhe: é ela quem dirige o caminhão.

Depois de colocadas em contêineres, as escolhas de Paloma seguem o mesmo destino das que o pai remete para o Brasil. Tudo vai para a oficina no Rio de Janeiro antes de chegar à loja AD.Studio, no espaço de design e decoração do shopping Cidade Jardim, em São Paulo.

Assim como na Arnaldo Danemberg Collection, um certificado de autenticidade acompanha cada item vendido. Mas a variedade ali é muito maior, com peças de madeira, ferro, vidro, esportivas e até revistas antigas emolduradas.

Uma linha chamada Gabinete de Curiosidades abrange itens do mundo da gastronomia, esportes, aviação, medicina, automobilismo, fotografia, cinema, publicidade desde o final do século 19 até as primeiras décadas século 20. São testemunhos daquela época que podem ser atualizados com novas funções decorativas.

Livro

Para celebrar 40 anos de carreira, Danemberg lançou o livro Vida de Antiquário. A obra se divide em dois volumes. O primeiro, intitulado O Viajante, traz crônicas que evocam passagens memoráveis de suas andanças pelo mundo. O segundo volume, O Antiquário, é uma retrospectiva ilustrada de seu trabalho, com destaque para as parcerias com arquitetos e curadorias institucionais de sua caminhada. Que se prolonga na próxima geração.