Finanças

Unicred: entenda a fórmula da cooperativa financeira que respira serviços

Crédito: João Castelano

Remaclo Fischer Junior: à frente da Unicred, ele aposta no incremento e na qualificação do portfólio para cada vez mais resolver os desafios e as dores de seus cooperados (Crédito: João Castelano)

Por Edson Rossi

Existe uma estratégia transversal no mundo das melhores e maiores empresas de tecnologia do planeta. Olhar tudo como serviço. Daí nascem as SaaS (Software as a Service), que inspiraram IaaS (Infrastructure as a Service), PaaS (Platforms as a Service) e tantas outras siglas quanto a criatividade (ou falta dela) permitir. A Unicred facilmente cabe numa variação dessas. Mas colocá-la numa só casinha será impreciso. E injusto. Porque essa instituição financeira a caminho dos 290 mil cooperados e dona de R$ 25,5 bilhões em ativos respira serviço. Tem quase obsessão pelo antigo lema do pequeno varejo, o “de servir bem para servir sempre”. É isso o tempo todo. “Nossa função é ter à disposição do cooperado um portfólio completo”, afirmou o presidente da Unicred, Remaclo Fischer Junior.

Quem inventou a expressão costumer centric não conhece Fischer. Em 45 minutos de entrevista à DINHEIRO, ele citou 60 vezes a palavra cooperado. “É o nosso dono.” E ao mesmo tempo o cliente.

É essa combinação incomum (seu consumidor final é seu patrão) o elemento nuclear do cooperativismo. E isso exige cada vez mais atenção na linha de produtos e na de serviços. No primeiro caso, a Unicred estende o cardápio para um portfólio mais qualificado. Dois exemplos são a previdência e a criação recente de uma Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), em parceria com o BTG — o banco não é sócio, mas uma espécie de fornecedor de backoffice da operação.

25,5 bi de reais
é o total de ativo administrado pela instituição

No caso da DTVM, ela nasceu de um quadro clássico da medicina: diagnóstico, tratamento e solução. Mapeamento entre os cooperados chegou a números expressivos — R$ 10 bilhões em poupança e R$ 60 bilhões em outras aplicações financeiras. Uma dinheirama fora da Unicred.

E não porque o cooperado não acredite na organização, mas porque não havia esse tipo de produto em casa. “Estamos ainda em uma fase inicial, mas já temos mais de 5 mil cooperados [na DTVM]”, disse Fischer.

Ele acredita que a plataforma vá seguir os passos da previdência privada. Criada há 17 anos, ela administra perto de R$ 6 bilhões e tem 140 mil participantes. “Enquanto o mercado financeiro habitual tem em torno de 14% dos seus clientes com previdência privada, nós temos de 45% a 55%, dependendo da cooperativa.”

A Unicred sabe que ampliar e qualificar o portfólio de produtos é um dos eixos estruturantes de seu crescimento, e da melhoria de atendimento aos cooperados. Para alimentar esse novo cardápio um eixo complementar aos produtos está na seara dos serviços. Especialmente por meio do ensino, da formação e qualificação.

“Um forte do sistema Unicred é educação financeira e desenvolvimento cooperado”, disse Fischer.

Nos últimos cinco anos foram oferecidos pelo menos três centenas de eventos vinculados à educação financeira, o que impactou 45 mil pessoas.

Como afirma Fischer, isso é empreendedorismo. “Porque empreender não é apenas abrir um negócio, é também você modificar processos em prol de qualidade. E para isso é preciso formação.”

Está claro que olhar o cooperativismo do ponto de vista da Unicred não se trata apenas de um olhar holístico entre os gestores da organização e seus donos-clientes, os cooperados. Está também em fazer com que produtos & serviços sejam causas & consequências o tempo inteiro.

Desafios

Claro que não são só delícias e conquistas. Há desafios. Sempre há. E são enfrentados com a mesma visão de integrar-solucionar-crescer.

Um deles é atrair mais cooperados e não apenas médicos, que formam o core da operação, mas representam 24% do total.

A capilaridade é outro desafio. Apesar de estar em 5,393 das 5.565 cidades brasileiras, com 358 agências físicas, além do atendimento digital, há forte concentração na parte de baixo do mapa.

Do total de cooperados, 31,6% estão em Santa Catarina e 26,4% no Rio Grande do Sul. Dá seis a cada dez. São Paulo (22% da população do País) entra com 5%.

Parte da resposta está na cultura do cooperativismo, tradicionalmente mais disseminada no Sul do Brasil. Outra parte está numa percepção ainda tímida do público comum em relação ao que a instituição se transformou. E isso é o que há de novo na Unicred, cuja missão é focada no ecossistema de saúde, mas acima de tudo em “gerar valor aos cooperados”.

Além dela, Fischer tem uma missão de âmbito pessoal. “Fazer com que o mercado enxergue cada vez mais o cooperativismo como alternativa saudável no mercado financeiro de prestação de serviços.” Em suma, um gigante ecumênico. Preparado e a fim de te ajudar.