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Aéreas: conheça os novos ventos que dão impulso à Avianca

Aérea colombiana aposta em reconfiguração de aviões, reestruturação de rotas, além de ampliação em cargo, para manter crescimento no Brasil e na América Latina no pós-Chapter 11

Crédito: Nicolas Economou

Avianca teve lucro de US$ 15,4 milhões no segundo trimestre, revertendo prejuízo de US$ 214,3 milhões na comparação anual. Empresa ampliou rota no Brasil no segmento cargo (Crédito: Nicolas Economou)

Por Angelo Verotti

Não é errado dizer que a Avianca, ou Aerovías Nacionales de Colombia, foi do céu ao solo durante a pandemia. Sem capacidade de sustentação, a companhia aérea apelou ao Chapter 11 (Capítulo 11, equivalente americano à recuperação judicial brasileira), em maio de 2020, para se proteger de dívidas estimadas em US$ 10 bilhões. Com o fim da fase de turbulência em dezembro de 2021, a empresa mostra ganhar estabilidade ao anunciar reconfiguração de aviões, reestruturação de rotas, expansão no segmento cargo e indicadores econômicos em crescimento no segundo trimestre.

A receita de passageiros, por exemplo, chegou a US$ 862,8 milhões, alta de 19,5% na comparação anual. Já a receita operacional total atingiu US$ 1,1 bilhão, aumento de 8,9% na comparação anual. “Acreditamos que 2023 será um ano extremamente positivo, como já temos visto”, afirmou Gustavo Esusy, gerente comercial da Avianca para o Brasil.

O executivo revelou que um dos fatores determinantes para o crescimento da Avianca entre abril e junho foi a otimização da eficiência operacional, que levou à redução de custos.

A companhia atingiu US$ 271,3 milhões de Ebitdar (lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e custos de reestruturação ou de arrendamento), superando as projeções de US$ 88,7 milhões. O lucro líquido foi de US$ 15,4 milhões no período, revertendo prejuízo de US$ 214,3 milhões na comparação anual, resultado do aumento da demanda e da redução dos custos operacionais, de 11%, para US$ 989 milhões.

(Chandan Khanna)

O desempenho da Avianca acompanha um movimento do setor aéreo no geral. Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), o lucro líquido das empresas globais deve alcançar US$ 9,8 bilhões este ano, mais que o dobro da previsão anterior, de US$ 4,7 bilhões, anunciada em dezembro de 2022.

A estimativa da Iata é de que 4,35 bilhões de pessoas viajem em 2023, volume que se aproxima dos 4,54 bilhões que voaram em 2019, antes da pandemia.

A associação prevê ainda que os volumes de carga transportada pelas aéreas pelo mundo alcancem 57,8 milhões de toneladas durante este ano, montante ainda abaixo das 61,5 milhões de toneladas transportadas em 2019.

Na Avianca as receitas de carga e fidelidade atingiram US$ 251,9 milhões no último trimestre. A aérea se diz líder na região em movimentação de carga com mais de 50 destinos atendidos e uma frota de aeronaves cargueiras Airbus 330, além da operação nos porões das mais de 100 aeronaves de passageiros da Avianca.

No primeiro semestre, a unidade de carga da Avianca movimentou 21,7 mil toneladas de mercadorias de e para o País. De olho neste segmento, a empresa expandiu as operações com a criação de uma quinta rota ao Brasil para o transporte de produtos. Vitória (ES) irá se juntar a Campinas (SP), Manaus (AM), São Paulo (SP) e Curitiba (PR).

“O Brasil é um de nossos mercados mais relevantes em termos de importação e exportação.”
Diogo Elias, vice-presidente de Desenvolvimento Corporativo da Avianca Cargo.

Na cabine

A empresa relatou um aumento de 70%, para 270 mil, no número de passageiros transportados de e para o Brasil nos primeiros seis meses de 2023 — foram 14,5 milhões em toda a operação.

Houve também um incremento de 40% nos voos operados no início do ano (102 mil no total), com mais de 1,7 mil operações entre as quatro rotas que conectam São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Belo Horizonte a Bogotá.

“O crescimento de nossa rede, somado à disciplina de nossa operação no Brasil, demonstra que a transformação de nosso modelo de negócios está funcionando e, acima de tudo, está permitindo que mais pessoas voem de avião”, disse Esusy.

Gustavo Esusy, gerente comercial da Avianca Brasil: “O crescimento da nossa rede, somado à disciplina de nossa operação no Brasil, demonstra que a transformação de nosso modelo de negócio está funcionando” (Crédito:Divulgação)

Estratégia

Além da reestruturação das frequências de passageiros para o Brasil e da ampliação de rotas em cargo, o plano pós-Chapter 11 traçado pela Avianca envolveu também a simplificação da frota, escolhendo os Airbus A320 e os Boeing 787 Dreamliner.

A empresa reduziu de 171 aeronaves, em 2019, para 122, em 2023, com diminuição de quatro para apenas dois modelos. A Avianca promoveu também a reconfiguração de seus aviões A320 para oferecer 20% mais capacidade, além de tarifas até 25% mais competitivas no caso do Brasil.

Isso tudo em meio a um ambiente desafiador para a aviação devido a variáveis como:
* o aumento do preço do combustível (40%),
* a taxa de câmbio (26,6%),
* a inflação (9,28% em 2022).

A companhia pretende chegar a 130 aviões operando em mais de 200 rotas até 2025. São atualmente 144 para 24 países, número que se aproxima do período pré-Covid, de 167.

A mudança do modelo de negócio feita pela Avianca é vista de forma positiva pelo ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Ricardo Fenelon. Segundo ele, o setor é muito competitivo na América Latina, e a empresa aproveitou o Chapter 11 na pandemia para reduzir os custos e ampliar as receitas.

“Ela focou menos em conforto e mais num produto muito parecido com o das companhias low cost, como ter mais assentos por avião, uma [classe] executiva mais enxuta nos voos mais curtos e mais completa nos voos de longo alcance”, disse o especialista. “E a redução dos modelos de aviões garante menos custo de manutenção. Tudo foi feito no sentido de reduzir custos, aumentar receitas e ficar mais eficiente.”

Gol e Avianca têm maior poder de negociação com a criação do Grupo Abra, holding que controla as duas companhias aéreas (Crédito:Vanessa Carvalho)

Holding

Gustavo Esusy disse que todos os aportes acionários da Avianca e da Gol na Abra, holding que controla as duas companhias, já foram realizados, o que garantiu o financiamento para sua operação.

O grupo tem potencial de receita anual de US$ 7 bilhões e 300 aviões. “O que vem a seguir é cada empresa alcançar seu melhor resultado individualmente e, ao mesmo tempo, avançar nas diferentes áreas em que vemos sinergias potenciais”, afirmou o diretor. Com essa parceria, a Gol e a Avianca já comercializam em seus canais de venda as rotas que as companhias operam em conjunto.

Na visão de Fenelon, a formação do Grupo Abra vai permitir às companhias negociarem com fornecedores, seja fabricante de aeronaves e de peças, seja fornecedor de sistema. “Quando você negocia numa escala é maior, os descontos são maiores e, com isso, as aéreas reduzem custos”, afirmou o ex-diretor da Anac.

De acordo com Fenelon, um grupo forte cria inúmeras possibilidades de as empresas oferecerem voos e rotas diferentes em parceria, com uma podendo comercializar voo da outra e, às vezes, compartilhando os custos dos voos.

“Esse movimento de consolidação do setor aéreo é tende a aumentar, e a formação do Grupo Abra é importante tanto para a Avianca como para a Gol numa região cada vez mais competitiva, com novas empresas low cost surgindo”, disse ele. “E as duas têm mais capacidade de enfrentar estando juntas.” Sem dúvida, um novo rumo com vários destinos para a Avianca e Gol.