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Osklen vai em busca das origens e vira laboratório de sustentabilidade

Marca se diferencia com o desenvolvimento de tecidos e fibras na busca por uma moda mais sustentável

Crédito: Divulgação

Bolsa feita com couro de pirarucu rendeu à marca um lugar no acervo do museu Victoria & Albert (Crédito: Divulgação)

Por Lara Sant’Anna

Desde que foi vendida pela Alpargatas em 2022 e passou a integrar o Grupo Dass, a Osklen tem resgatado sua cultura e valores, de acordo com o fundador da marca, Oskar Metsavaht, e gerado bons resultados, com crescimento de 40% no faturamento acumulado dos últimos dois anos.

A nova fase da empresa garante uma gestão compartilhada do criador com o grupo, e aprofunda a visão da Osklen de ser uma marca com propósito. Mais do que vender roupas, a grife se projeta como um laboratório cultural, criativo e de inovação e sustentabilidade.

Desde a primeira peça com uso de algodão orgânico, em 1998, até a última coleção com couro de pirarucu, a companhia se fortalece como pioneira em processos produtivos e insumos, na missão de tornar a moda mais limpa. “Existe no mundo espaço para uma marca que tenha originalidade, que tenha valores culturais que expressem o Brasil, que tenha standard de qualidade de luxo, e que seja de origem sustentável”, disse Metsavaht.

A produção da Osklen não é verticalizada, mas na busca por novas fibras e formas de fabricar suas peças, a empresa passou a ter conhecimento sobre toda a cadeia, o que abriu um horizonte de pesquisa e inovação. “Percebemos que não existem instituições ou empresas dedicadas a um trade de materiais sustentáveis para indústria da moda, e a gente está vendo que isso pode se transformar numa grande oportunidade de negócio”, disse o executivo.

Oskar Metsavaht, fundador da Osklen: trade de materiais sustentáveis para a indústria da moda pode se transformar em negócio (Crédito:Divulgação)

Umas das ações da Osklen nessa jornada sustentável é encontrar novas matérias-primas para tecido e processos produtivos que reduzam:
* o consumo de água,
* a pegada de carbono
* o uso de novos materiais, além de impactar positivamente toda a cadeia.

Esse trabalho é realizado em conjunto com o Instituto E, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), também criado por Metsavaht em 2006.

Entre as iniciativas, algumas se destacam.
* As bermudas feitas com tecido de garrafa pet, chamado de Aquaone. Para a produção de uma peça, o equivalente a quatro unidades de 500 ml são utilizadas. Entre 2017 e 2022, cerca de 450 mil garrafas pet de 500 ml foram retiradas do meio ambiente e recicladas com esse propósito.
* O solado dos tênis, que são 100% feitos com materiais sustentáveis, seja com a reutilização de aparas de borracha, resíduos de palha de arroz ou cortiça, ou com látex da Amazônia e EVA de cana-de-açúcar.
* A empresa também possui uma linha de jeans produzidos a partir de algodão reciclado,
* e peças feitas com juta da Amazônia, uma fibra vegetal produzida na beira dos rios e que, quando descartada, se decompõe em menos de um ano.

A mais famosa das inovações, porém, é o couro de pirarucu. O peixe tem grande importância na subsistência da região amazônica, mas as escamas não costumavam ser aproveitadas.

Foi então que a empresa viu a oportunidade de usar o couro na indústria da moda. A iniciativa ajudou na geração de renda na região, rendeu prêmios, além de fazer a Osklen chegar ao museu, com uma bolsa com o couro sendo parte do acervo do museu inglês Victoria & Albert, um dos principais sobre arquitetura, design, moda e fotografia do mundo.


Estímulo ao uso de itens sustentáveis deve partir das empresas, mas todos os elos da cadeia (inclusive o consumidor) precisam acompanhar a tendência (Crédito:Divulgação)
(Divulgação)

Transformação

Apesar dos muitos anos na jornada sustentável, Metsavaht entende que existe um tempo para a transição na economia e que a pressa e a cobrança colocadas nas empresas para realizar as mudanças nem sempre são benéficas. “Temos que ser tolerantes e estimular as que sejam transparentes, que estejam transformando”, disse ele. “Porque se a sociedade não colaborar, você fica quieto e mantém o status quo do desenvolvimento econômico de hoje em dia”.

Em sua jornada ambientalista, o empresário vê as empresas como grandes agentes de mudança e entende que a transformação sustentável só vai acontecer uma vez que toda a cadeia, inclusive o consumidor, esteja totalmente engajado, seja com a diminuição do consumo, ou fazendo-o de forma mais consciente.

Oskar Metsavaht nasceu predestinado à sustentabilidade. Seu sobrenome, com origem na Estônia, significa guardião da floresta, e desde pequeno, por influência da família, ele convive com as questões ambientais.

Com o espírito de artista, mesmo sendo médico, encontrou na moda sua forma de expressão. Todas as iniciativas da Osklen integram o que o executivo acredita ser o futuro da moda e o “novo luxo”, tendo como base a economia verde.

Com essa visão, o Brasil, com todos seus recursos e cultura, se torna local ideal para protagonizar essa transformação. Segundo ele, 96% dos fornecedores da empresa são nacionais e toda a cadeia de fornecimento da Osklen emprega mais de 11 mil pessoas de forma indireta. “Acredito que o Brasil pode ser o grande protagonista da economia verde do século XXI”, disse.