ESG

Vinhos: os bons frutos da viticultura regenerativa 

Com vinícolas na Espanha, Chile e Estados Unidos, Familia Torres lidera aliança de produtores práticas sustentáveis e resgata variedades de uvas ancestrais da Catalunha

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Ovelhas pastam entre as videiras. Plano prevê recuperar 1,1 mil hectares em cinco anos (Crédito: Divulgação)

Por Celso Masson

Depois de cinco anos sem visitar o Brasil, o espanhol Miguel Torres Maczassek retornou na semana passada a São Paulo a convite da Cantu Importadora, que desde 2020 é responsável por comercializar no mercado nacional a maior parte dos vinhos que a Familia Torres produz na Espanha e nos Estados Unidos (apenas a produção da companhia no Chile está a cargo de outra importadora). Integrante da quinta geração de uma dinastia que está no negócio de vinhos desde 1870 e possui dez propriedades em diferentes denominações de origem do velho e do novo mundo, Maczassek veio apresentar não apenas rótulos que acabam de chegar ao mercado, mas principalmente um projeto que envolve o futuro da companhia — e da forma de produzir vinhos em geral. Trata-se da viticultura regenerativa, que ele define como “imitar a natureza”. A ideia é fazer com que o vinhedo funcione como um bosque, que sempre tem vida, fixando carbono no solo e zerando as emissões de CO2 como forma de mitigar os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global.

As metas são bastante ambiciosas. “Antes de 2040 queremos nos converter em uma vinícola neutra em emissões”, disse o produtor, que comanda a companhia com uma irmã e uma prima.

Desde 2008, quando tiveram início as primeiras mudanças para tornar a produção mais sustentáveis, a redução já equivale a 36%. Com placas voltaicas e uso de biomassa para gerar energia, o consumo de eletricidade caiu pela metade.

A captação e armazenamento de água da chuva também teve impacto positivo para o uso na irrigação.

Miguel Torres Maczassek, presidente da vinícola Familia Torres (Crédito:Divulgação)

“Antes de 2040 queremos nos converter em uma vinícola neutra em emissões.”
Miguel Torres Maczassek presidente da vinícola Familia Torres

Mas a principal conquista está no manejo do solo, com a regeneração de 1,1 mil hectares em cinco anos. Para melhorar a cobertura vegetal das ruas entre as fileiras de parreiras, foram introduzidas ovelhas e galinhas, que adubam a terra naturalmente.

Com o plantio de árvores frutíferas, foram atraídas aves, abelhas e outros insetos que ajudam na polinização e no aumento da biodiversidade. E para que essas iniciativas não ficassem restritas às terras da família, foi criada uma aliança que capacita e certifica outros produtores.

DNA

O passo seguinte foi reintroduzir variedades ancestrais de uvas que haviam desaparecido da Catalunha, onde a Familia Torres possui quatro vinícolas. “Identificamos 64 cepas e conseguimos reproduzir o DNA de seis delas para produzir em escala”, afirmou.

Segundo ele, o tempo entre a descoberta da variedade e sua viabilidade comercial como vinho varia de 12 a 19 anos. Por isso, só na safra de 2021 essas variedades começaram a ser engarrafadas — e agora chegam ao Brasil sob os rótulos Clos Ancestral.

O branco é feito com as uvas Forcado e Xarel-lo. Com notas florais e de mel, é fresco e de boa acidez. O tinto, com a ancestral Moneu e as bem conhecidas Tempranillo e Garnacha, tem 14% de álcool e aromas de cereja e tomilho. Ambos custam R$ 500 para o consumidor final.

Em uma categoria superior está o Grans Muralles, de qualidade excepcional, que combina as uvas Cariñena, Granacha e Monastrel às ancestrais Querol e Garró. Um vinho tradicional na taça e inovador em sua pegada sustentável.

(Divulgação)
Entre os rótulos da vinícola que usam cepas recuperadas na Catalunha estão o branco Clos Ancestral 2021 (R$ 500) e o tinto Grans Muralles 2019 (R$ 1.100), na Cantu Importadora (Crédito:Divulgação)