Triunfo na ONU
Por Carlos José Marques
Não foi um mero discurso. E muito menos passou despercebido. Ao menos em oito ocasiões o presidente Lula foi interrompido por aplausos. Aclamado seria o termo certo. No saldo do roadshow pelos EUA, com direito a escala em Cuba, tiveram mais de 50 consultas e pedidos de audiência de chefes de Estado com o mandatário brasileiro. Ele não atendeu a todos. Nem poderia, pela falta de tempo e devido às incessantes dores nas costas que devem lhe deixar de molho por meses, após cirurgia marcada no regresso ao País. Lula, de todo modo, pontifica. De novo pode ser alcunhado na condição de “o cara”, como já classificou outro norte-americano poderoso, Barack Obama. Após mais de duas dezenas de viagens internacionais nesse início de temporada de gestão, com menos de um ano no poder, o petista já pode se vangloriar do objetivo alcançado de devolver o Brasil ao tabuleiro das decisões globais. Ele mesmo saudou: “estamos de volta”. Fato. Do conflito no leste europeu a mudanças no Conselho de Segurança da ONU, o chefe brasileiro tem palpitado em quase tudo e sendo ouvido. Até o colega Joe Biden afinou as ideias em alinhamento com as propostas de Lula. É a consagração que já vem deixando por terra o velho estigma de pária deixado pelo antecessor. As comparações, aliás, entre o “mito” de araque Bolsonaro e o demiurgo de Garanhuns foram uma constante por ocasião dos momentos de um e do outro na tribuna plenária da Assembleia das Nações Unidas. Com sua predisposição para trombetear fake news, o capitão Messias era, invariavelmente, alvo de pilhéria. Agora, as congratulações ao seu arquirrival viraram rotina, para o desalento geral de aliados extremistas do golpista de carteirinha. Lula encanta. Também pudera. Fala de igualdade social, de resgate dos fundamentos elementares da biodiversidade, do direito ao trabalho e a alimentos. Suas palavras causaram êxtase. Irretocável na mensagem e nos recados duros contra os conflitos globais, a contundência do conteúdo levado por Lula à ONU modularam as demais apresentações. Há dilemas a serem superados e desafios de toda ordem, mas ele parece mostrar alguns caminhos. Lula saiu mais respeitado dali e digno das reverências. Ao se voltar para os problemas corriqueiros internos, tratou de pobreza e fome, da ameaça da extrema direita que quase destruiu tudo, das reformas e do triunfo da Democracia que, segundo ele, foi a razão de seu retorno aquela casa de conciliação. Bolsonaro havia deixado um imenso vazio diplomático nas relações externas brasileiras. Lula acabou por ocupar todos esses espaços e pleiteou mais. Cerca de 140 países lançaram olhos e ouvidos para as soluções de sua agenda social, climática, contra o racismo e a xenofobia. Lula soma a impressionante marca de oito discursos do tipo na ONU, como fala de abertura do encontro, em quase três mandatos até aqui. Poucos tiveram a mesma oportunidade. Em nenhuma ocasião, contudo, ele foi tão feliz e assertivo. Estrategicamente, marcou importantes pontos. Abriu mais portas. Pavimentou uma trilha promissora para que o Brasil se posicionasse na vanguarda das escolhas do mundo. Ganhou o País inteiro.