Agaxtur ruma a novo destino
Setentona, operadora de turismo aposta em roteiros rodoviários pela Europa, cruzeiros triplo A e de expedição para embarcar na retomada do setor no Brasil
Por Angelo Verotti
São 70 anos na bagagem. Marca alcançada por 900 empresas na história do Brasil e que deve ser igualada por outras 66 este ano. Dados revelados à DINHEIRO por Aldo Leone Filho ao justificar a pesquisa. O empresário ocupa a presidência da Agaxtur Viagens e Turismo, operadora mais antiga do Brasil que vai completar sete décadas de fundação no dia 10 de outubro. E com muitos motivos a celebrar: novos destinos, novas investidas e, principalmente, a retomada acelerada do setor depois do período de pandemia. “Atendemos 70 mil passageiros no ano passado. Prevemos crescer 30% anualmente nos próximos cinco anos”, afirmou Leone.
O otimismo do executivo está baseado nas estatísticas. O turismo nacional estima alcançar este ano números superiores aos do período pré-Covid-19. A expectativa é que o setor movimente R$ 752,3 bilhões, montante 5% maior do que o faturado em 2019 (R$ 716,5 bilhões).
E a Agaxtur já arrumou as malas para embarcar nesse roteiro e, assim, apagar de vez os estragos causados pela pandemia, que derrubou em mais de 90% o faturamento do setor em 2020 diante das restrições de circulação. “Foi, com certeza, a pior fase da história do turismo”, disse o executivo.
Um recomeço para o setor, uma nova realidade para a Agaxtur. A empresa fundada em 1953 pelo empresário Aldo Leone, morto em 2008, teve o controle adquirido pelo grupo capixaba Águia Branca no ano passado.
Com larga experiência em transporte rodoviário de passageiros, logística e vendas de carros e caminhões, a holding adquiriu 70% das ações da empresa santista, pioneira na atração de cruzeiros ao Brasil e na criação de pacotes de viagens para a Disney e o Caribe (em especial, Cancún).
“Fizemos uma grande parceria, não só financeira, mas estratégica, com um monte de sinergias entre o que eles fazem e a gente faz [como processos financeiros e de inovação]”, afirmou Leone. “E montamos uma empresa nova que, no fundo, é a mesma Agaxtur, mas com um gás diferenciado no mercado.”
Além das 46 lojas próprias e de 2 mil agentes de viagem, a nova Agaxtur diversificou os canais de vendas. Com novas campanhas e novas ferramentas, a empresa tem apostado nos meios digitais para atingir o cliente que, segundo o executivo, está pulverizado pelo Brasil.
“E você [empresa], para atingir esse cliente, precisa ter muita inteligência tecnológica e digital.” Isso inclui, por exemplo, o lançamento de plataformas de vendas no B2B, que são os agentes de viagens, um mercado gigantesco, como o de franquias. “São plataforma de gestão, de back-office, de front-office. Todas elas das mais modernas que existem.”
Segundo Leone, com a gestão financeira estabelecida e a utilização de plataforma tecnológica, a base da nova Agaxtur está pronta. O foco agora está na capacidade operacional e de vendas. “Operacionalmente, fizemos contrato com todos os grandes brokers, os ‘fornecedores de turismo no mundo’. Temos contrato direto com a Disney, com a Universal, com todas as operadoras, companhias aéreas e navios que operam no mundo.”
Destinos
Roteiros rodoviários pela Europa e cruzeiros, principalmente os triplo A e de expedição, são chamarizes da empresa, que negocia normalmente 80% de produtos para o exterior e 20% para o Brasil. Destinos como Bariloche, Orlando e Disney, Roma, Veneza, Paris e Lisboa seguem os mais procurados. Mas a África do Sul e países do Oriente, como Japão e Coreia do Sul, ganham força no portfólio, a exemplo da Grécia. “Noruega e Dinamarca continuam como destinos do sonho do brasileiro”, afirmou o presidente. “Já o Canadá, apesar de todas as belezas, não cai no gosto dos clientes.”
No Brasil a empresa comercializa resorts e pacotes para destinos turísticos, como João Pessoa e Porto de Galinhas. Os destinos de expedição preferidos são Jalapão, Lençóis Maranhenses, Amazônia, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Apesar de ainda limitados, esses destinos já são mais procurados, como também é o caso da Islândia, na Europa. “Um lugar maravilhoso”, disse Leone.
A tendência, de acordo com o executivo, é de viagens personalizadas. Já os cruzeiros marítimos têm sido contratados para viagens em grandes embarcações e ainda em pequenos navios, no caso expedições. “Teremos uma para Antártida no ano que vem.”
Os eventos esportivos, como a Fórmula 1, o Super Bowl e a Copa do Mundo de Futebol, também fazem parte do portfólio, a exemplo das viagens de incentivo corporativas. “Somos uma das três maiores empresas deste segmento.”
Os desafios no setor, segundo ele, se mantêm. Destaque para os altos juros, que comprometem a capacidade financeira de o brasileiro viajar.
Quanto ao caso de empresas como 123Milhas, que pediu recuperação judicial após deixar os clientes ‘a ver navios’, por comercializar produtos com preços bem abaixo do mercado, Leone é sucinto: “Não cabe a mim definir a vida de cada um, mas cabe a mim avisar que não existe mágica em turismo. É o mundo real”. E é essa a filosofia de sempre da Agaxtur.