Além da sala de aula: reinventando a educação corporativa

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César Souza: "Não podemos dirigir empresas olhando pelo espelho retrovisor" (Crédito: Divulgação)

Por César Souza

A maioria dos programas de educação empresarial visa formar líderes e gestores para uma realidade que já não existe mais. A necessidade do atrelamento desses programas com as estratégias e com a cultura das empresas é uma batalha antiga. Infelizmente, pouca coisa mudou nas últimas décadas. A maioria das disfunções continua com uma atualidade desconcertante. O desalinhamento com a estratégia do negócio e com o jeito de ser de cada empresa é mais regra que exceção.

É certo que algumas empresas cresceram e evoluíram com base em programas bem concebidos e executados. Porém, salvo as que podemos contar nos dedos, as mudanças ocorridas têm sido mais adjetivas que substantivas, mais tópicas que de fundo. Até mesmo nomes da moda passaram aparecer nos organogramas das empresas como uma maneira de demonstrar o alegado comprometimento da direção com a formação do seu patrimônio humano. Mas sabemos que a mera criação de órgãos — reflexo da nossa herança colonial — nunca assegurou a solução de problemas nem o encaminhamento de desafios. O mesmo vale para a criação de títulos pomposos: a simples mudança de rótulo nem sempre reflete a melhoria na qualidade do produto.

O que mudou, e muito, foi o valor investido nesses programas. Verdadeiras fortunas têm sido gastas, mas a grande parte das iniciativas continua desvinculada das verdadeiras necessidades estratégicas que afligem as empresas — e pouco tem acrescentado aos resultados dos negócios.

Torna-se necessário repensar a educação corporativa em função do somatório de novas e mutantes circunstâncias, dotando-a de programas que além de umbilicalmente ligados à estratégia, à cultura e às prioridades da empresa, sejam formatados com características que enfatizem mais a aprendizagem do que o ensino; mais o pensar do que o fazer, desenvolvendo uma mentalidade em vez de apenas transmitindo o domínio de técnicas e ferramentas; mais o futuro do que o passado, pois não podemos dirigir empresas olhando pelo espelho retrovisor e precisamos capacitar pessoas para a realidade 2025-2030, além de resolver os problemas imediatos; mais a capacitação dos gestores para liderar organizações virtuais e em rede do que para comandar estruturas ultrapassadas e entrópicas; mais a capacidade de aprendizagem contínua ao longo da vida de cada um, do que apenas o ensino saberes pontuais; e mais a habilidade de cada líder de formar novos líderes do que apenas treinar seguidores; mais o empresariamento exponencial do que o gerenciamento tradicional baseado na filosofia do comando e controle.

Além de tudo isso, os programas precisam ser customizados, oferecendo mais um leque de opções para que cada um se sirva de acordo com suas necessidades peculiares de desenvolvimento. Em resumo, a educação corporativa precisa ir muito além da sala de aula, transcendendo os muros do ensino tradicional e investindo no desenvolvimento, em todos os níveis do patrimônio humano da empresa, na capacidade de cada um aprender a aprender.

Uma visita aos jardins do parque arqueológico onde foi fundada a Academia de Platão, em Atenas, Grécia, pode, ironicamente, trazer luz para a concepção de programas de Educação Corporativa nesse volátil, veloz e disruptivo momento em que vivemos. Esse local hospedou a primeira instituição de ensino superior do mundo, criada em torno de 385 a.C..

Ali, um conjunto de filósofos liderados por Platão estava focado na arte de criar condições de aprendizagem sobre os desafios do mundo em que viviam e sobre eles próprios. Estavam mais empenhados em aprimorar o autoconhecimento do que em tentar simplesmente ensinar técnicas pontuais aos seus discípulos.

César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda