Economia

Balança comercial: há luz no fim da rota?

Agronegócio desponta outra vez, mas Brasil precisa de mais do que commodities para ser tão importante no cenário global quanto pensa que é hoje

Crédito: istockphoto

Exportações x importações: Brasil quer agregar valor aos produtos exportados (Crédito: istockphoto)

Por Paula Cristina

O governo federal tem colocado muitas fichas no além-mar. E até agora tem ganhado. A balança comercial brasileira segue em uma positiva trajetória, com saldo positivo de US$ 62,4 bilhões entre janeiro e agosto, acima dos US$ 43,7 bilhões do ano passado — que já foi recorde. O governo estima a ampliação do resultado e quer bater neste ano a marca de US$ 80 bilhões. O protagonista neste dado é, mais uma vez, o agronegócio. Sua participação nas exportações totais saltou de 48,5% para 50,1% em uma comunhão excepcional de fatores que envolvem:
• safra generosa,
• avanços de produtividade,
• preços mais competitivos,
• e novos clientes surgindo pela guerra na Ucrânia.

O agro segue forte porque tem, também, linhas de crédito que derrubam seus custos frente a outros setores. Leia-se, Plano Safra.E esse é o ponto. É preciso que serviços e indústria igualmente participem da festa.

Para o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o passo agora é elevar a exportação de produtos de maior valor agregado, trazendo qualidade, e não apenas volume, para essa conta.

“O Brasil pode ser um hub de exportações de muitos itens que unem a indústria com o agronegócio, indo bem além dos alimentos”, disse em um evento na Fiesp.

Até porque o saldo positivo do agro não deve ocorrer em 2024 na mesma intensidade. Apesar do incremento de 5,3% no volume exportado pelo agronegócio, houve um tombo de 13,8% nas importações do setor. Foi algo sazonal e que não deverá se repetir no próximo ano.

Ana Cecília Kreter, pesquisadora do Ipea, diz que o agro atingiu US$ 15,4 bilhões entre janeiro e agosto de 2023 exportados, “mas a melhora do superávit vem da queda nas importações, que atingiu a marca de US$ 1,4 bilhão no último mês”.

Estratégia

O aumento das importações terá por trás alguns fatores. Primeiro é que a melhora da Selic abre espaço para empresários voltarem a usar financiamento para carregar contêineres e formar novos estoques de produtos com maior valor agregado. Há também a relação real x dólar que tem ficado mais atrativa para importação.

Todas essas condições, unidas, fazem com que o Brasil precise pensar novas rotas comerciais de forma estratégica e, principalmente, uma variedade de produtos com valor agregado razoável e preço competitivo.

Para isso o governo desenhou três frentes distintas. Com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fica o plano de estimular a economia verde. Fomentando negócios de baixo impacto poluente e tentando colocar o Brasil como exportador de mão de obra, equipamento e inovação para um mercado de baixo carbono.

Geraldo Alckmin, por sua vez, fica responsável por aumentar a eficiência das indústrias e dar a elas condições de brigar no cenário externo. Para isso o BNDES entra como fomentador de recursos, enquanto o governo trabalha em medidas de capacitação profissional e parcerias com entidades setoriais para estimular a inovação.

A terceira frente envolve uma ação ministerial conjunta para que o Brasil firme novos acordos comerciais. O que arrola Mercosul e União Europeia, por exemplo, daria ao Brasil um fôlego grande.

Atualmente a demanda por produtos importados da União Europeia envolve US$ 100 bilhões ao ano, e o Brasil contribui com pouco mais de US$ 3 bilhões ao ano. Com um acordo em vigência, essa fatia poderia chegar a US$ 12 bilhões em cinco anos, com a capacidade de ampliar também a exportação de serviços, em especial aqueles que envolvem construção civil, engenharia e outros serviços.

Por aqui, os Europeus podem ampliar atuação no varejo, indústria química e tecnologia.

Plano de governo

Para o médio e longo prazo, um avanço da Rota da Seda, mega estratégia comercial e de infraestrutura da China, também ajudará. O Brasil tem condições de absorver mão de obra, tecnologia e inovação e aplicar por aqui para devolver ao mundo mais produtos manufaturados.

Nas palavras de Lula, “a China pode ser parceira na inteligência e no desenvolvimento”. Durante sua tour por Nova York, Lula também afirmou que o plano é ir além. “Não queremos ser para sempre o exportador de commodities. Seremos exportadores de produtos de valor agregado e produção limpa.”

Discurso lindo na teoria, mas, na prática, são as commodities (nem sempre tão amigáveis com o meio ambiente) que nos permitem sonhar com superávits recordes.