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“Startups israelenses estão muito interessadas no Brasil”, diz Inbal Arieli, coCEO da Synthesis

Autora do livro 'Chutzpah: Por que Israel é um Hub de Inovação e Empreendedorismo', a guru de tecnologia Inbal Arieli diz que Brasil precisa olhar para o mundo e identificar o que absorver e onde contribuir

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Inbal Arieli, referência do ecossistema de startups de Israel: segredo é empreender como uma criança (Crédito: Divulgação)

Por Victoria Ribeiro

Conhecida como a guru do ecossistema de startups de Israel, Inbal Arieli é considerada uma das maiores especialistas em inovação do país do Oriente Médio. Desenvolveu habilidades empreendedoras durante sua atuação como tenente no serviço militar obrigatório na Unidade de Elite das Forças de Defesa de Israel e, mais tarde, abraçou cargos de liderança no setor tecnológico. Ela atribui o sucesso de Israel como ‘Nação Startup’ à teoria Chutzpah, a qual dá nome ao seu livro Chutzpah: Por que Israel é um Hub de Inovação e Empreendedorismo.

Inbal define o termo como a combinação entre a coragem para sair da zona de conforto e pensar grande sem medo de cometer erros. “É como se fosse uma criança andando pela primeira vez. Levantamos, caímos, falhamos e tentamos de novo, até conseguirmos.”

À convite da Câmara Brasil–Israel (Bril Chamber) e do Grupo A+ Educação, Arieli esteve no Brasil para apresentar sua obra, que chega traduzida ao País. Em entrevista à DINHEIRO, a guru falou sobre as estratégias que levaram Israel a se tornar hub de tecnologia, o uso das inovações como aliadas aos conflitos políticos e ideológicos e suas percepções sobre o cenário tecnológico brasileiro. “O mercado interno do Brasil é muito grande, o que dificulta a ampliação do olhar. Eu sempre recomendo a abertura para o global”, afirmou Arieli.

Quais são os principais fatores que tornaram Israel a ‘Nação Startup’ e referência em tecnologia?
É uma combinação de fatores. A começar pelo fato de Israel ser um país de imigrantes, que chegam dispostos a empreender. Além disso, existe ou existiu uma política forte no governo que ajudou a impulsionar e catalisar muitos fundos e esforços no setor de tech. Por fim, o fato de Israel ser um país dependente de tecnologia, tanto para aspectos militares como não militares. Fora esses três fatores, podemos citar a cultura e a mentalidade, que engloba a criatividade e aspiração ao conhecimento. Existe um ímpeto para consertar as coisas e continuar as tornando melhores do que são, o que impulsiona a inovação.

O que quer dizer a filosofia Chutzpah, que dá o título ao seu livro, e como ela se relaciona com a veia empreendedora de Israel?
A filosofia Chutzpah tem relação com o componente cultural. A mentalidade israelense, durante toda a jornada da vida, manifesta uma lista de competências interpessoais e outras que são essenciais para a inovação e para o empreendedorismo, como a curiosidade, o pensamento crítico e, principalmente, a tomada de iniciativa. O objetivo é observar, através da filosofia, os elementos centrais dessas habilidades e como elas podem ser usadas em prol do ecossistema inovador, algo que acontece de forma muito natural em Israel. Minha tese é que isso pode ser aplicado em qualquer lugar do mundo, se ao menos estivermos conscientes e colocarmos os holofotes nessas habilidades.

E o serviço militar? Também pode ser considerado como um fator que contribuiu para que Israel se tornasse hub em tecnologia e inovação?
Os militares israelenses, sem dúvidas, desempenham um papel no ecossistema inovador. Mas, na minha opinião, isso acontece por causa da caixa de ferramentas e das habilidades que as pessoas já possuem antes do serviço militar. Portanto, não é algo que começa nas Forças Armadas. Na verdade, é algo que já existe e o militarismo dá palco. É um pouco contraintuitivo o que pensamos sobre as organizações militares. Não tendemos a considerá-las criativas e inovadoras, mas as forças israelitas operam dessa forma, com base nas competências que os jovens soldados já possuem.

Por falar em militarismo… de que forma os conflitos políticos e ideológicos impactam o ecossistema inovador israelense?
Os conflitos políticos e ideológicos sempre existiram em Israel. Eles estão apenas um pouco mais fortes agora. No entanto, o ecossistema de inovação israelense é forte e já conseguiu se solidificar, sem dependência de governo, políticas ou financiamento. É um ecossistema inovador maduro. Então, podemos dizer que a situação atual tem menos impacto sobre isso.

Atualmente, podemos dizer que a tecnologia se tornou aliada no conflito entre Israel e Palestina?
Penso que a tecnologia e a informação podem servir como ponte para conectar as pessoas. Já existem algumas iniciativas entre israelenses e palestinos em torno do tech. O Gaza Geeks, por exemplo, é um programa inicial de startups palestinas em Ramallah e que funciona a partir da mentoria de israelenses. Outro exemplo é um centro de inovação em Jerusalém, uma região que pode ser considerada chave para o conflito entre Israel e Palestina, onde os israelenses estão realmente envolvidos. Há outras. Tem um projeto incrível chamado Middle East Entrepreneurs of Tomorrow, que reúne jovens de Jerusalém Oriental e Ocidental. Acredito que o caminho tenha de ser o de pensar no futuro e pensar como podemos usar a tecnologia como conexão.

Como é ser uma mulher especialista na área e especificamente em Israel?
Ainda não atingimos uma equidade no ecossistema tecnológico israelense, mas estamos em números semelhantes aos do Vale do Silício, com mais de 35% de representação feminina na tecnologia em geral. E esses são os números mais elevados do mundo. Há cada vez mais mulheres interessadas em ingressar no ecossistema tecnológico. Vemos os números crescendo ano após ano. Leva tempo, mas está acontecendo. E é claro que é uma tendência positiva da qual estou feliz por fazer parte.

E qual a sua opinião sobre o incentivo à diversidade na tecnologia?
A diversidade é importante não apenas na tecnologia. E não falo apenas sobre gênero. Falo também sobre diversidade de origens e de idade, por exemplo. Diversidade em torno de práticas e experiências, criando equipes que também sejam diversas em suas capacidades principais. Se você colocar um designer ao lado de um engenheiro de software trabalhando juntos, como uma equipe, o resultado será completamente diferente de colocar apenas engenheiros de software. Se você criar equipes de pessoas provenientes de diferentes disciplinas de conhecimento e reuni-las, elas poderão realmente enriquecer-se mutuamente.

Os esforços do atual primeiro-ministro para restringir os poderes do Judiciário tem marcado a política israelense. Isso pode impactar na tecnologia?
O que temos vivenciado politicamente não tem efeito sobre o talento israelense. A inovação possui bases sólidas. No entanto, a situação tem impacto nos investimentos. Israel e suas startups atraem mais capital de risco per capita do que qualquer outro país do mundo. Portanto, isso é colocado em xeque. Existe uma influência na certeza dos investidores, algo que é essencial quando falamos em investimento. E o cenário atual sinaliza ao mercado estrangeiro que existe algum tipo de incerteza.

Qual a sua opinião sobre o contexto da tecnologia no Brasil?
É apenas meu quarto dia no Brasil. Porém, uma coisa que logo me chamou atenção tem relação com o setor empresarial. O mercado interno brasileiro é muito grande, o que dificulta a ampliação do olhar. Existe um foco apenas no mercado nacional, que parece grande o suficiente. Eu sempre recomendo a abertura para o global. Não apenas aprender com outros países, mas também tentar pensar como sua solução poderia ser útil e relevante globalmente. Isso é algo que acho muito importante de se ter aqui.

Alguma startup brasileira tem reconhecimento em Israel?
Não tenho conhecimento sobre startups brasileiras operando em Israel, mas o mercado brasileiro está definitivamente interessado nas soluções israelenses. As startups e tecnologias israelenses também estão muito interessadas em vir para o Brasil e estar mais presentes por aqui. Eu mesma sou uma investidora envolvida em uma empresa israelense de saúde, a Nonagon Care, que está prestes a lançar seu produto aqui no Brasil, graças a um distribuidor brasileiro. Então as pontes estão começando a evoluir e espero ver mais colaborações entre Brasil e Israel.