Os bons vinhos que nascem em ovos
Uso de tanques de concreto ovalados para vinificação começa a mostrar resultados também no Brasil
Por Celso Masson
Entre as quase 1 mil marcas presentes na terceira edição da ProWine São Paulo, feira que movimentou o mundo do vinho na semana passada, havia até quem estivesse ali para vender ovos de concreto. Ou melhor, tanques em formato de ovo especialmente concebidos para a vinificação. Uma era a Uovo, de Bento Gonçalves (RS), que mostrou a potenciais clientes uma alternativa para quem busca inovar na vinificação seguindo uma tendência cada vez mais adotada fora do Brasil e que agora começa a despertar também o interesse de produtores locais.
Um exemplo é a Vinícola Góes, de São Roque (SP). Segundo o enólogo Fábio Góes, pertencente à família que está no ramo de vinhos desde 1938, a escolha dos ovos de concreto ocorreu no ano passado e se deve a um olhar atento ao que o mercado oferece, especialmente em substituição às barricas de madeira, que passaram a ser menos valorizadas nos últimos tempos.
“O formato oval permite que o líquido no interior do tanque fique em movimento constante durante a fermentação, fazendo com que os taninos sejam polidos e se tornem mais suaves”, disse Góes, que aponta outras vantagens no concreto. “Ele mantém os aromas da fruta e acrescenta mineralidade e frescor ao vinho.”
A novidade foi testada em um tinto com 63% de Cabernet Franc e 37% de Syrah da colheita de inverno de 2022. Com produção de apenas 3 mil garrafas, ele recebeu o nome Concreto em alusão ao material. É bem frutado, pouco tânico e fácil de beber. Segundo Góes, metade da produção já foi comercializada, ao preço final de R$ 131.
Para demonstrar as virtudes do concreto, a Uovo assina um Merlot 2022 produzido pela gaúcha Vistamonte. Menos estruturado e sem tanta profundidade, ele se destaca pelo toque mineral. Mesmo assim, mostra o potencial de uma técnica que os enólogos brasileiros estão começando a entender.