Finanças

É hora de dolarizar os investimentos?

Turbulência global, com guerras e escalada das incertezas, coloca em evidência as aplicações em moeda estrangeira. Para especialistas, alocar recursos em dólar é uma decisão inteligente

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Douglas Niemeyer, trader e mentor do curso Liberdade em Dólar, diz que o mais inteligente é ficar de olho no preço e esperar as baixas para comprar (Crédito: Divulgação)

Por Jaqueline Mendes

Volarizar ou não dolarizar? Eis a questão que tem gerado dúvidas em muitos investidores no Brasil, principalmente entre os mais agitados com a explosiva combinação de juros altos, câmbio volátil e duas guerras simultâneas, na Ucrânia e em Israel, com potencial devastador para a economia mundial. Apesar de a moeda americana ter fechado em forte queda na terça-feira (10), a R$ 5,05, ela tem testado os nervos de quem acompanha o mercado todos os dias. Em 2023, com traços de um eletrocardiograma, a verdinha já desabou para R$ 4,73 (menor preço do ano, em 24 de julho) e já chegou a R$ 5,29 (maior cotação, em 24 de março). Deve fechar o ano na casa de R$ 5,00 — de acordo com as projeções mais recentes do Relatório Focus, do Banco Central. Tudo, claro, se os conflitos em curso não tomarem proporções globais.

Seja em tempos de paz ou no ápice de guerras, dolarizar parte dos investimentos é uma estratégia importante para quem pretende proteger seus ativos das volatilidades regionais e sazonais, econômicas ou políticas, segundo o especialista em investimentos internacionais Douglas Niemeyer.

Trader, investidor, mentor do curso Liberdade em Dólar e criador do Método Manche de Investimentos, Niemeyer afirma que a moeda americana permanece como principal reserva de valor no mundo atualmente, não só para investidores pessoas físicas, mas também como porto seguro para as empresas.

“Não importa qual seja o recurso disponível para investir, o dólar é a melhor opção para quem busca estabilidade e uma alternativa sólida de blindar o patrimônio.”
Douglas Niemeyer, especialista em investimentos internacionais

Moeda é uma commodity financeira. E em tempos de turbulência o dólar é a commodity mais procurada. Daí a imagem de um porto seguro.

(Spencer Platt)

A tendência, segundo ele, é que o real se desvalorize nos próximos meses porque a economia brasileira é mais fraca do que a americana. Por isso, quanto mais se esperar, mais difícil será começar.

“Não temos como saber quais patamares a moeda vai atingir em seis meses ou um ano. O que é previsível é que o real perca valor diante do dólar. Por isso, a sugestão é que os investidores dolarizem seus ativos de forma faseada, gradualmente, enviando um pouco de dinheiro para fora a cada dois ou três meses”, disse Niemeyer.

“O dólar não cai pra sempre e nem sobe pra sempre. Então, o mais inteligente é ficar de olho no preço e comprar sempre que houver uma queda”, afirmou. Para ele, o dólar vai oscilar entre R$ 5,25 e R$ 5,50 no final deste ano, acima dos R$ 5,00 previstos no Focus.

Economista e analista de investimento do BTG Pactual, Arthur Mota concorda que dolarizar parte dos investimentos faz todo o sentido. Ele afirma que a alocação internacional compõe o processo de diversificação e de aumento de eficiência dos investimentos, não só setorialmente como geograficamente.

“Quando você investe lá fora, dilui algumas discussões típicas de mercados emergentes, como questões fiscais”, disse Mota.

Para ele, é preciso criar uma rotina e uma filosofia de dolarização das reservas para, com o máximo de prazo possível, neutralizar ao longo dos anos as inevitáveis oscilações econômicas. “A renda fixa na maior economia do mundo está muito atrativa hoje. Então, esse rendimento atraente e em dólar é muito interessante para os investidores brasileiros”, disse.

Arthur Mota, do BTG Pactual (Crédito:Divulgação)

“Quando você investe fora dilui algumas discussões típicas de mercados emergentes, como questões fiscais.”
Arthur Mota, do BTG Pactual

Saúde financeira

Há riscos? Claro, sempre há riscos. O envio de dólares ao exterior precisa levar em conta a saúde financeira das instituições receptoras. Corretoras e bancos americanos também quebram. Mas uma boa seleção do destino dos ativos pode reduzir para quase zero os riscos dessas instituições.

Niemeyer recomenda que o investidor que está começando compre papéis atrelados ao índice S&P500, das 500 maiores companhias americanas. “Tendem a valorizar entre 7% e 9% ao ano, já descontada a inflação”, disse. “Isso já é muito interessante para quem quer diversificar. Mesmo se uma empresa quebrar, a cesta de empresas vai compensar essa perda. Estar posicionado e diversificado é o que garante a segurança.”

A busca por alocação em dólar e diversificação internacional dos investimentos é fundamental para ampliar os horizontes do país de origem dos recursos, na visão de Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank.

“O Brasil é um país em desenvolvimento e tem suas limitações quando a gente compara com escala mundial”, disse. “Representa só 3% do PIB global. Existe um mar de investimentos lá fora.”

Por isso, segundo Larissa, ter uma âncora na moeda mais negociada no mundo é boa justificativa para mandar recursos para fora. Como aconselha o bilionário Warren Buffett, “never bet against America” (nunca aposte contra os Estados Unidos, em tradução livre). Uma boa dica de quem fez fortuna apostando a favor — e em dólares.