Fernando Haddad: ambiente externo desafiador

Por Edson Rossi

Uma análise menos apaixonada das falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mostra que conceitualmente está mais próximo do presidente do BC, Roberto Campos Neto, do que pressupõem boa parte da esquadra ministerial lulista, com duas exceções, talvez. Na segunda-feira (9), Haddad afirmou que um cenário externo mais desafiador aumentará de forma proporcional a necessidade de o Brasil acelerar a aprovação de projetos econômicos. O ministro referia-se ao
início do conflito entre Hamas e Israel, deflagrado sábado (7). Para ele, é preciso ter pressa para proteger a economia brasileira de volatilidades. E quase ecoou atas do Copom ao afirmar que o Brasil não tem poder decisório dos juros nos Estados Unidos ou no preço do petróleo, mas que os temas de fora impactam o ambiente doméstico. Sobre o tema central de seus atritos recentes — o Congresso, em especial o presidente da Câmara, Arthur Lira —, Haddad mostrou-se habilmente diplomático e afirmou que não tem do que se queixar, e que “ninguém imaginava”a quantidade de votações de reformas feita no primeiro semestre.

“Não sei se vocês repararam… mas Foi só a gente deixar a Presidência e parece que as portas do inferno se abriram atrás de nós” Jair Bolsonaro, lúmpen-ex-presidente Domingo (8), durante marcha contra o aborto em Belo Horizonte

AGENDA AMBIENTAL
Aramco anuncia superplano verde

Por ora, o ceticismo ainda predomina. Oficialmente, a gigante petrolífera saudita Aramco — maior empresa do mundo, com valor de mercado de US$ 8,1 trilhões, quase três vezes mais que a Apple (US$ 2,8 trilhões) — anunciou na segunda-feira (9) parceria com a Siemens Energy para uma “unidade de teste” de captura direta de ar. A unidade será construída na Arábia Saudita e concluída em 2024. A captura direta de ar, ou DAC, funciona extraindo dióxido de carbono já emitido para a atmosfera. O CO2 extraído pode então ser condensado em formações sólidas semelhantes a pedras ou liquefeito para ser armazenado no subsolo. É o método mais caro de captura de carbono. O mais barato é remover o CO2 na fonte, antes de ser emitido. E é justamente o preço que deixa especialistas céticos. “Empresas de combustíveis fósseis adorariam continuar suas emissões e compensar tudo através de captura direta de ar”, disse Cara Horowitz, diretora-executiva do Instituto Emmett sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente da UCLA.

163 milhões Número de transações do Pix na sexta-feira (6), índice recorde. A marca anterior era de 152,7 milhões (em 6 de setembro)

EMPREGO
Micro e pequenas criam 73% dos novos postos

Semana retrasada, o País comemorou mais 220 mil vagas de trabalho formais líquidas criadas em agosto. Semana passada, o Sebrae mostrou que micro e pequenas empresas foram responsáveis por 161 mil delas – coisa superior a 73%, ou três a cada quatro. No acumulado do ano, as micro e pequenas empresas contribuíram com 988 mil postos de trabalho, ou 71,2% do total. Os setores que puxaram as novas contratações foram serviços (79 mil), comércio (38 mil) e construção civil (25 mil). “Este ano tem sido fenomenal para as micro e pequenas empresas”, afirmou o presidente do Sebrae, Décio Lima. “Mantivemos um patamar positivo de empregos gerados ao longo do ano e a tendência para os últimos meses é de um crescimento ainda maior com vagas de trabalho temporário.”

GOVERNO
Ministro do Trabalho mostra a agenda

Na segunda-feira (9), o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, disse que discussões sobre retorno do Imposto Sindical buscam compensar injustiças. “No Brasil, um acordo fechado vale para trabalhadores associados e não associados [a sindicatos]. Não é justo que estes [últimos] participem do resultado e não deem nenhuma contribuição”, afirmou. Verdade. Para isso, a solução seria simples: acordos costurados por entidades de classe valeriam somente a seus associados. Os não sindicalizados discutiriam de forma individualizada com os patrões. Pronto. Iria acabar a obrigação de fazer associado (e pagante) quem não quer, e daria peso a sindicatos não peleguistas. Em outra pauta, tentou emplacar a discussão sobre a redução da jornada de trabalho para quatro dias úteis por semana. Tema que não pode entrar na mesa sem se falar de produtividade, o que no Brasil não aumenta há décadas.

INTERNACIONAL
Inimizade sim, desde que não afete a economia

Nunca a Real Politik irá superar a Real Economik. Os supostos inimigos viscerais Venezuela e Estados Unidos progrediram em negociações que podem proporcionar alívio nas sanções de Washington a Caracas, permitindo mais brechas para a compra de petróleo bruto venezuelano em direção ao mercado interno americano. As informações são da Agência Reuters e não foram confirmadas, até segunda-feira (9), pelos governos. De um lado, há alívio para o pagamento da dívida venezuelana e um pouco de dinheiro entrando nos cofres. Por outro, os EUA ficam menos expostos a um choque do preço dos combustíveis desde que adotou sanções contra a Rússia, no ano passado, após a invasão da Ucrânia, e por causa do recente conflito em Israel. Venezuela tomar medidas concretas para restaurar a democracia, conduzindo eleições livres e justas, estamos preparados para fornecer o correspondente alívio das sanções”, disse um porta-voz da Casa Branca à Reuters. No início deste ano, as autoridades norte-americanas elaboraram ampla proposta para aliviar as sanções ao setor petrolífero da Venezuela, o que permitiria que mais empresas e países importassem seu petróleo bruto. Caracas tem as maiores reservas do planeta, sob controle da estatal PDVSA.